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Frete marítimo até 30% mais caro impacta comércio exterior no Ceará
Economia

Frete marítimo até 30% mais caro impacta comércio exterior no Ceará

Alta do frete marítimo em julho é de 30% e projeção para fim do ano é de alcançar os US$ 20 mil dólares, a depender do destino; entenda impactos
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A concessão permite ao importador a manutenção de estoques estratégicos e o pagamento de tributos por ocasião do despacho para consumo (Foto: TIAGO STILLE/ GOV. DO CEARA)
Foto: TIAGO STILLE/ GOV. DO CEARA A concessão permite ao importador a manutenção de estoques estratégicos e o pagamento de tributos por ocasião do despacho para consumo

O frete marítimo entre o Brasil e a Ásia ficou em média 30,02% mais caro na passagem entre junho e julho deste ano. A alta de preços impacta diretamente o setor de exportação e importação no Ceará e no valor de produtos ao consumidor final dentro ou fora do País.

Com reajuste mensal, empresas de despacho aduaneiro projetam novas altas antes do fim do mês e ressaltam possibilidade do valor do frete chegar até US$ 20 mil (dólares americanos) antes do fim do ano.

Entre os fatores de aumento estão a variação do petróleo no mercado internacional, prejuízos acumulados, falta de mão de obra qualificada, congestionamento de navios, falta de contêineres, bem como o câmbio frente ao dólar.

Instabilidade de demanda gerada pela pandemia também inflaciona os preços do frete.  

O custo sobe desde maio, retomando os níveis do segundo semestre de 2021, auge da crise logística global iniciada na segunda metade de 2020. O preço médio deste mês é de 5,1 a 6,6 vezes maior do que o dos dois primeiros de 2020, antes da pandemia.

"Naturalmente neste segundo semestre já era esperanda alta no frete em decorrência da demanda para as festividades de fim de ano. Mas dessa vez isso se somou a uma escalada de preços dos últimos anos e foi agravado por uma pressão de mercado feita pelos donos dos navios cargueiros que reduzem o espaço disponível para contêineres e ampliam as pausas nos trajetos para inflacionar ainda mais o preço", avalia Augusto Fernandades, CEO da JM Negócios Internacionais, com atuação no Ceará.

A estimativa do empresário é de que o frete saltou de 2% do custo operacional para o patamar de 10%, podendo chegar até 15% a depender do produto operado pelos exportadores e importadores cearenses, em menos de dois anos. O aumento recente, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), sugere que os gargalos logísticos globais podem levar ainda mais tempo para se dissolver.

Alta do frete eleva custos para produtores que planejam reduzir operação no segundo semestre
Foto: JÚLIO CAESAR
Alta do frete eleva custos para produtores que planejam reduzir operação no segundo semestre

Para Matheus de Castro, especialista em infraestrutura da entidade, o valor de US$ 10 mil por contêiner pode ser o "novo normal" do custo da logística do comércio internacional.

Os gargalos logísticos contribuem para o encarecimento e a escassez de componentes da indústria, como os semicondutores, chips e matérias primas, atrapalhando a produção e encarecendo de geladeiras e fogões a automóveis.

"O impacto é gigante, impacta o preço de tudo, altera a demanda de tempo no fluxo dos produtos, pressiona a inflação local, dificulta o trabalho das empresas aduaneiras que já trabalham com pouco espaço e prazos apertados, mas esse cenário altera simplesmente tudo", argumenta Augusto.

No caso do Ceará, conforme avalia o empresário, os principais impactos dizem respeito à importação de placas de comanda para aparelhos eletrônicos e painéis solares, além da exportação de frutas, itens de vestuário, calçados, minério e a importação de artigos de consumo imediato e produtos semiduráveis.

Ele destaca ainda que, durante a pandemia, um dos agravantes para a escalada de preços dos fretes marítimos no mundo foi a oferta de contêineres ao redor do globo e o atraso de navios diante de períodos de lockdown nos principais portos do mundo, especialmente na China e nos Estados Unidos.

Atualmente, porém, as dificuldades se concentram no equilíbrio financeiro da exportação ou importação com relação ao escoamento da mercadoria.

O tempo das viagens também está maior, conforme pontua Augusto, o que leva os produtores a reavaliarem a quantidade e o direcionamento das cargas, em especial daqueles perecíveis como as frutas no Ceará.

O POVO não conseguiu contato com o Porto do Mucuripe, enquanto o Complexo Industrial e Portuário do Pecém afirmou não ter competência para comentar sobre o preço dos fretes, marítimos ou terrestres, destacando que o fluxo de despacho e embarque de mercadorias na unidade não está sendo afetado por tais variações.

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Exportação de frutas

Diante da alta de preços, Luiz Roberto Barcelos, CEO da Agrícola Famosa e um dos diretores da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, projeta uma redução da safra para exportação neste segundo semestre.

Conforme dados da associação, entre janeiro e junho deste ano o setor computa redução de 11% no volume exportado em decorrência de adversidades climáticas, queda na qualidade dos frutos produzidos e entraves logísticos. No caso do Ceará, a redução projetada para a segunda metade do ano é de 15%.

“Exportação deve ser afetada negativamente, devemos ter uma redução no volume exportado em decorrência dessa alta do frete, e isso aumenta o preço, e a fruta mais cara espanta o consumo, então devemos produzir e exportar menos”, pontua Luiz.

Nesse contexto, devido a alta de preços, “impossível de ser retida pelos produtores ou empresas aduaneiras”, conforme pontua Augusto Fernandades, CEO da JM Negócios Internacionais, resultará em um aumento significativo no valor final cobrado aos consumidores estrangeiros o que deve resultar num baixo índice de consumo.

“A alta no preço dos fretes, tanto marítimo como terrestre, aumentam demais o custo de produção, tanto para envio da mercadoria em si, quanto para o recebimento de insumos que não são produzidos próximos das regiões de plantio. Temos só este ano cerca de 20% a 22% de alta no custo de nossa produção”, destaca Luiz.

Com as despesas elevadas e a impossibilidade de exportar toda mercadoria, o representante do setor pontua uma redução do plantio das próximas safras diante da inviabilidade financeira da exportação. A oferta no mercado internado, porém, permanecerá inalterada. “É uma alta muito expressiva, nos últimos três anos triplicamos o preço do produto, em decorrência da despesa, e o item do frete marítimo sempre correspondeu por uma grande parcela do preço final dos produtos e agora pressiona esse recuo e abre espaço para frutas regionais”, argumenta.

“Nós nunca vimos algo semelhante, nem de longe, em mais de 30 anos de exportação, nunca vimos isso antes e esse cenário está deixando todo mundo em uma situação difícil, fica difícil de planejar os volumes que iremos plantar, que iremos exportar, fica extremamente complicado tentar gerenciar uma margem de lucro nesse cenário”, complementa.

Por fim, para o futuro, o empresário lamenta não ter boas perspectivas: “não vemos tendência alguma de redução”.

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