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Carta em defesa da democracia soma mais de 3,1 mil assinaturas em todo o Brasil
Economia

Carta em defesa da democracia soma mais de 3,1 mil assinaturas em todo o Brasil

|URNA ELETRÔNICA| Banqueiros, empresários e economistas estão entre os signatários do manifesto liderado pela USP que defende o atual sistema eleitoral brasileiro. No Ceará, Geraldo Luciano e Fernanda Pacobahyba estão entre os que assinaram o documento
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Mais de 32 milhões de eleitores não votaram nas eleições de 2022 (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO Mais de 32 milhões de eleitores não votaram nas eleições de 2022

Em manifesto publicado ontem, sob organização da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mais de 3,1 mil pessoas se posicionaram em defesa do estado democrático de direito e do sistema eleitoral brasileiro, alvo de recentes ataques e questionamentos. Entre os signatários estão juristas, empresários, banqueiros, economistas, acadêmicos e artistas.

Integram a lista, por exemplo, nomes de peso como o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, Roberto Setubal e Cândido Bracher (Itaú Unibanco), Walter Schalka (Suzano) e de empresas de bens de consumo como Pedro Passos e Guilherme Leal (Natura).

Dentre os cearenses que subscrevem o documento, está o conselheiro de empresas, Geraldo Luciano, e a secretária da Fazenda do Ceará (Sefaz), Fernanda Pacobahyba.

O que diz a carta

Na carta, as urnas eletrônicas são grifadas como “seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral”. O texto que ganhou adesão do empresariado não faz menção expressa ao presidente Jair Bolsonaro, mas afirma que o País está "passando por um momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições".

Ao citar "desvarios autoritários" que puseram em risco a democracia dos Estados Unidos, a carta diz: "Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão."

Segundo o diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Fernandes Campilongo, “muita gente aderiu e todas assinaturas são importantes. No dia 11 de agosto, faremos um ato maior destacando também as novas adesões que virão, mas já podemos falar que 50% do PIB brasileiro assinou a nossa carta em defesa da democracia”.

Referência à "Carta aos brasileiros"

Na ocasião, o documento será lido pelo ex-decano do STF, Celso de Mello, em evento marcado para acontecer no Pátio das Arcadas do Largo São Francisco, mesmo espaço onde, em 1977, o jurista e professor Goffredo da Silva Telles Jr. marcou a luta contra a ditadura militar lendo a Carta aos Brasileiros.

Ontem, ele pregou uma reação aos 'pronunciamentos de um político menor e medíocre'. Para Celso, o presidente Bolsonaro 'busca permanecer na regência do Estado, mesmo que esse propósito individual, para concretizar-se, seja transgressor do postulado da separação de poderes e revelador de uma irresponsável desconsideração das instituições democráticas'.

Em setembro do ano passado, carta com teor semelhante foi divulgada também com a presença de nomes importantes do empresariado. O manifesto 'A Praça é dos Três Poderes' foi encabeçado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), mas sem a assinatura da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que havia referendado primeira versão do documento.

Cearenses aderem ao manifesto pela democracia

No meio acadêmico, também houve adesão expressiva ao documento. Inclusive, entre docentes no Ceará. Para a vice-presidente da Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (ADUFC), Irenísia Oliveira Graúna.

“A carta é uma notícia boa em um contexto de apreensão. Os docentes vêm se mobilizando de forma mais contundente na defesa democrática desde 2016 e é importante a adesão de outras parcelas da sociedade para a promoção no sentido mais amplo da palavra democracia, inclusive nas empresas”, enfatiza.

A secretária da Fazenda, Fernanda Pacobahyba, destacou que essa “é uma carta que deixa muito marcada essa voz da defesa da democracia. Se esse não for o momento de nós nos manifestarmos contra esses ataques, talvez não tenhamos outro, no sentido democrático”.

Já o conselheiro de empresas, Geraldo Luciano, destaca duas principais motivações para assinar o documento. "Um é do ponto de vista da cidadania e  de se entender que não há uma outra forma melhor de se conviver em sociedade. O outro é que fora do ambiente democrático haveria uma deterioração completa do ambiente econômico", pondera.

Apesar da avaliação, ele disse acreditar que a adesão à carta pelo empresariado cearense deve ser baixa, devido o temor de que a assinatura seja vista como apoio ou contraposição a determinados candidatos, em um ano eleitoral.  

A presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, expressou apoio à à carta e intenção de assiná-la. “O manifesto mostra a preocupação com a garantia das eleições livres. Isso é fundamental para a retomada da economia e a contestação às urnas só faz atrapalhar esse processo”, defende.

Ontem, nomes do empresariado ouvidos por O POVO como a CEO da Mallory, Anette de Castro, e do Grupo Beach Park, Murilo Paschoal, também fizeram coro à defesa da democracia, embora preferindo não indicar se assinarão ou não o manifesto. (Colaboraram Beatriz Cavalcante, Samuel Pimentel e agências)

Veja a íntegra da carta pela democracia abaixo

"Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito

Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos.

Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A semente plantada rendeu frutos.

O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o Estado Democrático de Direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal. Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição: " Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição ".

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública.

Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável.

O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais.

Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira.

São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana.

Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão. Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia.

Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e aos brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado.

A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito Sempre!"

Confira aqui quem já assinou o documento

Saiba Mais:

Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito

Organização: Faculdade de Direito da USP

Link para assinatura: Estado de Direito Sempre 

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CARTA EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Confira algumas da personalidades que assinaram o manifesto!

Celso de Mello, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal

Roberto Setubal, banqueiro (Itaú Unibanco)

Walter Schalka, presidente da Suzano

Guilherme Leal, fundador da Natura

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central

Eduardo Vassimon, presidente do conselho de administração da Votorantim

Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin e ex-presidente da Fiesp

Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso

Persio Arida, economista

Fernanda Pacobahyba, secretária da Fazenda do Ceará

Geraldo Luciano, consultor empresarial

 

Celso de Mello, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal

Roberto Setubal, banqueiro (Itaú Unibanco)

Walter Schalka, presidente da Suzano

Guilherme Leal, fundador da Natura

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central

Eduardo Vassimon, presidente do conselho de administração da Votorantim

Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin e ex-presidente da Fiesp

Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso

Persio Arida, economista

Fernanda Pacobahyba, secretária da Fazenda do Ceará

Geraldo Luciano, consultor empresarial


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