O estudo também revelou que nas regiões onde estão concentradas as maiores proporções de pobreza e extrema pobreza, no Norte e Nordeste, há maior frequência de endividamento das famílias. No Nordeste, por exemplo, 45% das famílias estão endividadas.
No Brasil, o estado que, proporcionalmente ao tamanho da sua população, sofre mais com os pratos vazios é o Alagoas, onde 36,7% está em situação de insegurança alimentar grave. Na região Norte, quem lidera é o Amapá, com 32% da população nesta situação.
Para a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP-UFC), Alessandra Araújo, a fome no Brasil não é caracterizada pela ocorrência de seca ou perdas na agricultura, mas é fome por falta de dinheiro mesmo. Embora a falta de políticas de agricultura familiar no País também tenha contribuído para esse momento.
No Ceará, o perfil dos chefes de famílias nessa situação é caracterizado por serem mulheres (63%), pretas ou pardas (80,3%) que têm nenhuma ou até apenas oito anos de estudo (72,1%).
"Tem uma característica estrutural, de que estamos num estado pobre. Por mais que tenhamos melhorado algumas condições de vida, de acesso à água encanada e energia, melhorando o bem-estar social, mas ainda somos um estado pobre."
A professora ainda explica que pobreza, desigualdade e fome são condições diferentes. Existem pobres que não passam a insegurança - de não ter certeza de que haverá comida para a família - ou mesmo fome. A pandemia foi um fator negativo para esse quadro. "Tivemos ainda um forte processo de inflação de preços, em que as pessoas não tinham dinheiro para comprar alimentos."