Embora tenha iniciado oficialmente ontem, o empréstimo consignado do Auxílio Brasil foi recebido com cautela pelos bancos autorizados pelo Ministério da Cidadania para operar a nova modalidade de crédito ofertada para quem recebe o benefício social, que substituiu o Bolsa Família.
No total, 12 bancos, incluindo a Caixa Econômica Federal, podem oferecer a linha de crédito, que terá valor da parcela do empréstimo descontado automaticamente do valor mensal do benefício para quem contratar o consignado, mas apenas um já divulgou detalhes de como funcionará a solicitação desse serviço.
O valor solicitado poderá ser contratado comprometendo no máximo 40% do total pago pelo Auxílio Brasil. Contudo, na medida anunciada pelo Governo Federal foi considerado o antigo valor, de R$ 400. Desde agosto, o benefício passou a pagar R$ 600, contudo, os R$ 200 adicionais só estão garantidos até dezembro deste ano.
O Auxílio Brasil turbinado foi possível graças a aprovação da chamada PEC das Bondades ou PEC Kamikaze (a primeira expressão é usada pela base aliada e a segunda pela oposição). A propósito, os presidenciáveis em disputa no 2º turno, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se comprometeram a manter ou até a ampliar esse valor, em caso de vitória. Os recursos para tal, no entanto, não estão previstos no Orçamento de 2023.
Para o economista e sócio da V8 Capital, Gilberto Barbosa, as incertezas sobre a continuidade do programa ou de eventuais alterações em seu formato explicam porque mesmo os bancos autorizados a operar o consignado do Auxílio Brasil estão hesitantes em colocá-lo em operação. “As áreas de crédito dos bancos estão esperando um pouco mais de definições sobre isso até para tentar estruturar uma linha de crédito, o que não é possível fazer quando você não sabe se vai continuar nem como”, explica.
O economista alerta que há o risco de um aumento no endividamento das famílias com a nova modalidade de crédito, apesar do caráter consignado do empréstimo a ser disponibilizado. “O tipo de cliente que está recebendo o Auxílio Brasil tem dificuldade de acessar crédito de qualidade maior e realmente está precisando de dinheiro. Então, é meio que por definição uma pessoa que tem um crédito um pouco pior”, avalia.
Nesse contexto, O POVO procurou ouvir todos os bancos envolvidos na primeira fase da operação da nova linha de crédito. Seis não responderam aos nossos questionamentos (Crefisa, Capital Consig, Facta Financeira, Pincred, Banco Data, Zema Financeira) e quatro (Agibank, Banco Daycoval, Banco Pan e Banco Safra) afirmaram estar analisando se e como vão aderir ao programa.
Já a Caixa anunciará os detalhes do programa hoje à tarde, pela presidente em exercício da entidade, Danielle Calazans. Na semana passada, a presidente do banco público, Daniella Marques, disse que o crédito provavelmente seria liberado no próximo dia 15 de outubro. Na ocasião, ela afirmou ainda que o banco ainda estava fazendo estudos sobre a nova linha.
A única instituição financeira que já divulgou informações sobre o consignado do Auxílio Brasil foi a QI Tech que seguirá as principais diretrizes estipuladas pelo Ministério da Cidadania, mas com taxa de juros de 3,39% ao mês, menor que o máximo estipulado pelo Governo que é de 3,5% ao mês. (Colaborou Lennon Costa)
Nosso propósito é fazer o dia a dia das pessoas melhor e gerar inclusão financeira e digital para todos. Portanto, ainda estamos avaliando os impactos da instrução normativa, verificando se atende aos critérios e políticas do Agibank e, principalmente, se conseguimos gerar uma proposta de valor aos nossos clientes. Ainda não temos um prazo para confirmar se vamos iniciar ou não o produto.
O Banco Daycoval decidiu por não iniciar prontamente a operação de crédito do Auxílio Brasil. A instituição, que opera com crédito consignado há quase 20 anos, estuda com cautela as regras de adesão à Portaria MC nº 816, uma vez que a ativação do produto exige a realização de ajustes sistêmicos não previstos.
O Banco Pan é um dos principais players do mercado de consignado e optou por participar dessa modalidade de empréstimo aos beneficiários do Auxílio Brasil. No primeiro momento, sua atuação será focada na análise de crédito das solicitações já cadastradas, considerando as condições da Portaria que regulamentou o tema. Aquelas que foram pré-aprovadas seguirão para o processo de formalização pelo cliente, averbação e pagamento a partir desta data, 10/10. Por ora, o banco não receberá novas propostas.
O Safra ainda está analisando se vai operar essa linha.
A QI foi a primeira Sociedade de Crédito Direto autorizada pelo Banco Central do Brasil. A empresa é pioneira na construção de tecnologias para o sistema financeiro nacional. Dessa forma, em parceria com fintechs e outras instituições financeiras, construíram juntos produtos para disponibilizar para o mercado.
No caso do empréstimo consignado Auxílio Brasil, por enquanto a QI Tech em parceria com a Meutudo, fintech destinada a democratizar o acesso a produtos financeiros para a população brasileira, está disponibilizando acesso ao mercado.
A Meutudo é uma fintech que facilita o acesso de clientes a empréstimos consignados atuando como correspondente bancário da QI SCD, atividade regulada pelo Banco Central do Brasil, nos termos da Resolução nº 3.954, de 24 de fevereiro de 2011.
O acesso já está disponível através do link: https://meutudo.com.br/emprestimo-auxilio-brasil/
Anunciou que divulgará detalhes sobre a operacionalização do Crédito Consignado do Auxílio Brasil hoje.
Não se manifestaram até o momento.
Endividamento entre os mais pobres supera 80% no Brasil
O total de famílias endividadas no Brasil atingiu recorde em setembro, e o número de inadimplentes também teve novo patamar, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Entre os mais pobres, o endividamento superou 80% pela primeira vez na pesquisa. A proporção de endividados entre os consumidores com renda familiar inferior a 10 salários mínimos mensais aumentou 0,4% em setembro ante agosto, atingindo 80,3%, o maior patamar da série histórica iniciada em 2010.
No grupo de famílias com maior renda, a proporção de endividados ficou estável no percentual de 75,9%, segundo a pesquisa.
Na média, o total de famílias brasileiras com dívidas a vencer chegou a 79,3%, o terceiro aumento consecutivo, enquanto a fatia de famílias com contas em atraso alcançou a marca histórica de 30% no mês passado.
A pesquisa considera como dívidas as contas a vencer em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestação de carro e de casa.
Quanto à inadimplência (quando as contas já estão vencidas), o volume de consumidores com pagamento de dívidas em atraso cresceu pelo terceiro mês consecutivo, segundo o levantamento.
Em setembro, 10,7% das famílias relataram que não terão condições de pagar as contas atrasadas, ou seja, permanecerão inadimplentes.
A pesquisa também mostra que as taxas de juros nas linhas de crédito para pessoas físicas cresceram 13,5 pontos porcentuais em um ano, de acordo com os dados do Banco Central, chegando à média de 53,9%, a maior taxa desde abril de 2018.
Em setembro, 85,6% dos endividados tinham contas a vencer no cartão de crédito, alta de 1 ponto porcentual em um ano. Houve aumento nas dívidas nos carnês de loja (com 19,4% de menções e aumento de 0,6 ponto porcentual em um ano) e no cheque especial (5,2% de menções e crescimento de 0,6 ponto porcentual em um ano).
A CNC diz que o volume de endividados nos carnês de loja cresce desde maio deste ano. No recorte por faixa de renda, a proporção de endividados nos carnês entre os mais pobres atingiu o maior nível da série histórica, 20,1%.
"Isso revela que estes consumidores estão na dinâmica de diversificação do endividamento e buscando alternativas de crédito", explicou Izis Ferreira, responsável pelo levantamento da CNC, em nota oficial. "Quando se olha o filme dos últimos cinco anos, o avanço do crédito operado pelo varejo tem resultado no maior volume de endividados de forma geral no Brasil", afirmou.
A economista chamou a atenção para o impacto em particular na faixa dos mais pobres. "Embora os atrasos tenham crescido no mês e no ano entre os consumidores nas duas faixas de renda (também na dos mais ricos), as dificuldades de pagamento de todos os compromissos do mês são mais latentes entre as famílias de menor renda", avaliou Izis Ferreira.(Agência Estado)
RENEGOCIAÇÃO
Caixa anunciará detalhes sobre o consignado do Auxílio Brasil e deve permitir, por exemplo, que os recursos da linha sejam utilizados para pagar dívidas com o banco com descontos de até 90%