Alvo de desconfiança de investidores no primeiro dia após a confirmação da vitória de Lula nas eleições presidenciais, a Petrobras derreteu mais de 8%, enquanto caiu mais de 10% na Bolsa de Nova York. Portanto, é importante ponderar qual será o papel da estatal que deve sofrer uma mudança radical em comparação ao atual estado.

Na avaliação do consultor no setor de Petróleo e Gás e ex-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Ricardo Pinheiro, a petroleira brasileira deveria tentar retomar características que perdeu nos últimos anos de investimentos em biocombustíveis e pesquisas em energias renováveis.

Ele destaca que a Petrobras tinha todo um programa de energias renováveis, com unidades de biodiesel - inclusive uma em Quixadá - que fazia o recolhimento de óleos vegetais já usados, uma estrutura montada de coletores de óleos vegetais, de restos de alimentos de indústrias de peixes, de óleos de graxas industriais. No entanto, com a mudança de rumos da gestão, a fábrica foi paralisada.

"A Petrobras tinha programas importantes de mapeamento de unidades eólicas marítimas em toda costa do Nordeste. Essas informações estão guardadas e ainda disponíveis internamente. A Petrobras não é só petróleo e já vinha enveredando em energias renováveis, como a produção de matérias primas para produção de óleos vegetais em Belém-PA, com palma, para abastecimento de unidades de produção de biocombustíveis."

Ricardo ainda pontua que a Petrobras tem capacidade financeira para entrar nesse novo mercado, atuando como player ou "alavancadora de projetos". Ressalta ainda que há infraestrutura e capital humano de porte internacional, então "não podemos jogar fora" toda essa possibilidade de ser a grande liderança no mercado de biocombustíveis nesse processo internacional de mudança da matriz energética.

"Não precisaria a Petrobras ser uma empresa monopolista desses projetos, mas poderia atuar como uma alavancadora de projetos, parceira de empresas privadas, como uma facilitadora de projetos no Brasil. A Petrobras tem capacidade financeira e competência para isso. E esse processo geraria o aumento da escala de produção", afirma.