Com apenas 17,5% das rodovias em condições boas ou ótimas, o Ceará precisa de uma injeção de R$ 2,2 bilhões em ações emergenciais, de restauração ou até mesmo reconstrução de vias estaduais e federais, segundo indica a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Ao todo, 3.782 quilômetros foram analisados no Estado, dos quais apenas 45 km foram considerados ótimos e outros 616 km, bons. A maioria foi classificada como regular (2.033 km), ruim (914 km) e péssimo (174 km).
Na prática, a pesquisa CNT Rodovias 2022 indica que só dois pequenos trechos foram considerados ótimos no Ceará, ambos administrados pelo Governo Federal: um na BR-222, no município de Caucaia e o outro na BR-402, nas proximidades do entroncamento da CE-168, em Itapipoca.
A rodovia estadual CE-040, que no ano passado era a única a receber a classificação de ótima, desceu uma posição, sendo considerada boa desta vez. Entre os trechos classificados como bons ainda estão: o trecho da rodovia BR-304, de Aracati até Mossoró (RN), e o trecho da rodovia BR-222, de Sobral até o Piauí, saindo por Tianguá. Além da BR-020 entre Caucaia e Maracanaú.
Com isso, o levantamento atesta que "82,5% da malha rodoviária pavimentada avaliada do Estado apresenta algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima."
Já os 4,6% considerados péssimos foram identificados na CE-183, entre Sobral e Ipu; na CE-354, entre Barreira e Ocara; e na CE-278, de Jaguaribe para o Rio Grande do Norte.
"A gente está se tornando um grande hub. Temos o de telecomunicação, o marítimo - crescendo em torno de 20% ao ano com a parceria de Pecém e Roterdã -, única ZPE (Zona de Processamento de Exportação) do País e montando o hub de hidrogênio verde, além de um hub aéreo funcionando. A nossa perspectiva é muito boa para que o Ceará se torne o hub logístico do Nordeste. Mas sem as devidas alocações de recursos podemos perder essa oportunidade", alerta Marcelo Maranhão, vice-presidente da Câmara Setorial de Logística do Ceará.
A CNT analisou, ao todo, 110,3 mil quilômetros de estradas federais e estaduais para a pesquisa em todo o País. Enquanto apenas 8,9% do pavimento está em condição perfeita, 50,5% está desgastado, 35% apresenta trincas ou remendos, 5% tem afundamentos e buracos, além da fatia de 0,6% identificada como destruída. Com investimentos públicos no menor patamar em mais de dez anos, a qualidade das rodovias brasileiras piorou em 2022.
"A degradação das rodovias está ocorrendo num nível acelerado e esse quadro precisa ser revertido o quanto antes", alertou o diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista.
Para Marcelo Maranhão, "o que a gente vê é que o Ceará não foge do padrão Nacional", pois "as rodovias bem desgastadas é uma questão da falta de verba para manutenção." Ele observa que se não forem empregados recursos para manutenção, vai ficar cada da mais caro recuperar a malha viária identificada com problemas.
"O que se faz necessário agora? É preciso um mutirão de parlamentares federais, independente de partido ou ideologia, para destinar verba do tal orçamento secreto, que são emendas de parlamentares, e destinar recursos para infraestrutura viária", diz. (Com Agência Estado)
Sobre a condição das estradas no Ceará, a Superintendência de Obras Públicas (SOP) justifica ao O POVO que os dados divulgados pela Pesquisa CNT não diferenciam rodovias estaduais de federais, utilizando como critérios estritamente os parâmetros de rodovias Classe I do Manual de Projeto Geométrico do Dnit. "Desta forma, o levantamento se atém a distorções."
A Secretaria complementa que, pela projeção de uso e pelo propósito de serem vias complementares à rede federal, as CEs (rodovias estaduais) são projetadas, em maioria, nos padrões Classe III e Classe IV, "o que já resulta em desproporção para as diretrizes da pesquisa."
Em nota ao O POVO, a SOP diz que a quilometragem percorrida pela Pesquisa CNT em rodovias estaduais corresponde a cerca de 15% de toda a malha viária estadual pavimentada.
"Não representa mais que 35% do total do percurso analisado pela pesquisa CNT em território cearense. O restante são rodovias federais, cuja jurisdição cabe ao Dnit."
A SOP informa ainda que todos os trechos de sua jurisdição classificados como ruins ou péssimos pela Pesquisa CNT receberam intervenções em obras recentes, anteriores à divulgação.
"A Superintendência monitora periodicamente os defeitos de superfície dos pavimentos através do Levantamento Visual Contínuo (LVC), utilizando a metodologia do Sistema de Gerenciamento de Pavimentos (SGP). O LVC 2021 constatou que 80% da malha viária alcançou um patamar no conceito bom. É o maior crescimento da qualidade da malha rodoviária verificado pelo Levantamento nos últimos 20 anos."
O chamado LVC é um dos norteadores para as ações de melhoria contínua da malha viária estadual.
Para finalizar, a Superintendência acrescenta que trabalha ainda na modernização dos métodos de avaliação. Um exemplo citado é que está em andamento um "projeto piloto para avaliar as CEs pelo método Internacional Irap" ( International Road Assessment Programme).
Atualizada às 9h25min para acrescentar resposta da SOP
Pavimento gera desperdício de R$ 215,44 mi no Estado
As más condições do pavimento identificada nas rodovias cearenses, nas quais 71,4% apresenta problemas, implica em um consumo desnecessário de 47,2 milhões de litros de diesel. O volume gera um desperdício que custará R$ 215,44 milhões aos transportadores, segundo a CNT.
"O aumento do custo de transporte só por conta do transporte por conta da rodovia é de 40%", relembra Marcelo Maranhão, vice-presidente da Câmara Setorial de Logística, citando outro ponto da pesquisa. Ele ainda recorda das rodovias 4º Anel Viário - na Região Metropolitana de Fortaleza - e CE-155 - de acesso ao Complexo do Pecém -, consideradas corredores logísticos do Ceará, e que ainda não foram concluídas. Curiosamente, as duas não estão na pesquisa CNT 2022.
Maranhão ainda aponta a dependência do Ceará - e do Brasil - do modal rodoviário, apesar do avanço da cabotagem com a BR do Mar.
Em resposta aos dados atestados na pesquisa divulgada ontem, o Ministério da Infraestrutura (Minfra) informou que, desde 2019, prioriza a concessão de rodovias e de outros ativos federais para a iniciativa privada. Segundo a pasta, desde 2019 já foram leiloados 100 ativos e R$ 116,4 bilhões contratados para aeroportos, ferrovias, portos e rodovias. (Com Agência Brasil)
Perdas
Enquanto em 2010 e 2011 o investimento público federal em rodovias representou 0,26% do PIB, a proporção caiu para 0,07% em 2021. Para esse ano, o orçamento estabeleceu apenas R$ 5,79 bilhões para o segmento, patamar que já alcançou R$ 33,37 bilhões em 2012