A preocupação com a segurança de ambas trabalhadoras e clientes tem impulsionado uma procura por serviços oferecidos por mulheres e para mulheres. Assim, mais negócios têm emergido buscando atender especificamente ao público feminino e as necessidades femininas.
Paralelamente, as mulheres representaram 47% dos responsáveis pelo registro de novos negócios no Ceará no ano passado, de acordo com dados fornecidos pela Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec). O setor que contabilizou maior participação feminina foi o de serviços, com mais de 27 mil novos registros.
No setor, as mulheres têm um porcentual de atuação maior do que os homens. Enquanto 50% das donas de negócio se dedicam à prestação de serviços, apenas 35% dos homens atuam na área.
É o caso da bugueira Edilene Férrer que, no ano passado, deu início a um negócio realizando passeios de buggy para mulheres. Após um divórcio, ela resolveu reformular a vida e mudou-se para Icaraí, no município de Amontada, há 174,4 km de Fortaleza. Com dois buggys, ela começou a se inserir no mercado dos passeios atendendo ao público feminino.
A ideia surgiu por muitas vezes perceber um incômodo de mulheres que viajam desacompanhadas ao saírem em passeios conduzidos por homens. “Resolvi pesquisar e entendi que hoje, uma demanda importante é de serviços que proporcionem essa tranquilidade para mulheres”, explica.
O próprio passeio de buggy naturalmente passa por áreas mais isoladas, o que pode contribuir para a sensação de insegurança. Dessa forma, Edilene acredita que estar acompanhadas de outras mulheres como guias faz com que as clientes se sintam mais seguras.
“Minha vinda para o Icaraí me fez sentir empoderada como nunca havia me sentido antes. Quero proporcionar isso a outras mulheres. Essa sensação de que temos essa força e esse poder e não precisamos sentir medo por ocupar esse lugar,” relata.
No começo, Edilene conta que as pessoas torceram os narizes ao ver uma mulher se colocando nesse mercado sem um homem para representá-la. Na época, ela sofreu represálias e teve medo de circular com os seus buggys.
Outro problema que se apresentou foi a falta de mulheres buscando trabalhar como guias, uma ocupação predominantemente masculina. Edilene acredita que isso precisa ser mudado.
Atualmente, ela quer trazer mais mulheres para trabalhar nos passeios. Para ela, “a ideia agora é ter uma equipe de bugueiras, mães, negras, brancas... mulheres que desejem esse espaço que certamente ocuparemos!”
Edilene é uma de muitas mulheres que têm o próprio negócio e têm trabalhado para se inserir no mercado. De acordo com a economista, Desirée Mota, as mulheres, em geral, têm maior dificuldade em dar início a uma atividade, seja um negócio ou um emprego.
Como Edilene, muitas dessas donas de negócios são também mães. A maternidade faz com que, muitas vezes, a mulher tenha que conciliar tarefas domésticas, que tradicionalmente lhe são colocadas, e laborais.
“Tem a questão também que eu diria das barreiras com relação a galgar espaços mais altos de liderança, de alta direção, porque tradicionalmente os homens eram quem ocupava esses espaços,” explica Desirée. No entanto, segundo ela, atualmente não existem atividades que sejam desenvolvidas exclusivamente por homens. Ela coloca que, com a automação dos processos industriais e de comércio, as mulheres têm se inserido mais no mercado.
Um diferencial da participação feminina para Desirée são as chamadas soft skills, características comportamentais adquiridas através da experiência feminina. A economista coloca que as mulheres têm uma série de conhecimentos em áreas específicas que ajudam a diferenciá-las dentro de mercados como a moda, beleza e alimentação.
Para ela, a presença das mulheres nos negócios traz melhorias para a sociedade, economia e empresas. “O foco principal do empreendedorismo feminino é tentar reduzir essas diferenças entre as oportunidades de crescimento de carreira entre os homens e as mulheres e procurar favorecer a diversidade nos negócios”, opina.