Os trabalhos na unidade de Bio-Manguinhos, no município de Eusébio, região metropolitana de Fortaleza, começam em abril de 2023. Integrante do distrito de inovação em saúde que tem a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como âncora, o Complexo Tecnológico em Insumos Estratégicos (CTIE), inicia com a pesquisa para a produção de um biofármaco utilizado para tratamento de cânceres agressivos.
A projeção é de que a fabricação propriamente dita inicie em 2027, quando a patente da medicação, utilizada em quimioterapias, vence após 20 anos. As informações foram passadas pelo diretor da Fiocruz no Ceará, Carlile Lavor.
"A Fiocruz já contratou uma pesquisadora que já está trabalhando neste projeto, no Rio de Janeiro e, assim que o laboratório estiver pronto aqui, no Ceará, ela se transfere para cá. O trabalho inicia com o aprendizado de como produzir esse biofármaco, para chegarmos em 2027, quando ocorre a quebra da patente, com condições para produzi-lo."
Lavor explica que este remédio de combate a cânceres agressivos, como o melanoma, por exemplo, é um dos mais importados mundialmente. "É um remédio muito caro, que, em alguns casos, não é usado por conta desse fator. Mas com a produção no País, poderemos mudar essa realidade."
Além disso, com uma previsão de três anos, dez outros biofármacos que já são produzidos pela Fiocruz no Rio de Janeiro, serão transferidos para a unidade de Bio-Manguinhos do Ceará. Para isso, estão sendo iniciadas as tratativas para a construção de infraestrutura e laboratórios.
A transferência de produção, conforme Lavor, se dá para que o espaço atual no RJ possa começar a ser usado para a ampliação da área de produção de vacinas. "Estes já são remédios produzidos há tempo pela Fiocruz, que terão a continuidade aqui dando a possibilidade de, no Rio, se investir ainda mais em vacinas."
Outra novidade para 2023 é a produção de mosquitos Aedes Aegypti, infectados com a bactéria Wolbachia. Essa é conduzida pela Fiocruz Ceará, com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), que também é Fiocruz, e em associação com Bio-Manguinhos.
Segundo o doutor Lavor, a meta é reproduzir em larga escala esse Aedes, para todo o Brasil, para o combate de doenças como Dengue, Zika Vírus, Chikungunya e Febre Amarela. "Este é um estudo australiano que deu certo lá, foi testado e está sendo produzido ainda em pequena escala no Rio de Janeiro e que vem para ser feito em grande escala, na nossa unidade do Ceará."
Ele explica que, resumidamente, o aedes contaminado com a bactéria elimina o aedes vetor das doenças e não as transmite. A ação já está sendo testada com sucesso em uma área do RJ. O custo da "fábrica de mosquitos" é estimado em R$ 80 milhões.
"Os equipamentos já estão comprados, em parceria com uma universidade australiana e estamos viabilizando a produção. Para se ter uma ideia, se fôssemos produzir apenas para o Ceará, a estimativa é que em um ano já teríamos trocado no meio ambiente o aedes que existe hoje no estado por esse que não transmite as doenças virais, podendo buscar a erradicação."
Lavor ainda lembra que esse é um passo muito importante para o Estado, pois dá início a uma indústria de alto nível tecnológico. "Assim, entramos em um mercado de produção de alto nível agregado. Com a geração de empregos da mais alta qualidade. Além disso, esse investimento significa a necessidade de insumos que podem ser produzidos por outras indústrias também aqui no Ceará."
Ao todo, o Distrito de Inovação em Saúde, onde está instalada a unidade da Fiocruz, possui 500 hectares que podem receber novos empreendimentos de pesquisa, produção e formação de pessoas, além de uma área residencial, voltada para quem trabalha ou estuda no local, como o exemplo buscado em Barcelona.
Atualmente a Fiocruz Ceará possui 52 servidores concursados e sua composição ainda soma cerca de 500 pessoas entre estudantes de mestrado, doutorado, empregados via CLT e bolsistas.
Em 2020, o laboratório da Fiocruz Ceará realizou mais de 1,5 milhão de exames, para todo o Brasil, para detecção da Covid-19. Atualmente, o espaço também identifica também novas variantes da doença.