A saúde mental dos indivíduos precisa de um olhar atento do mercado de trabalho. O tema foi debatido no Fórum Saúde e Segurança no Trabalho, realizado ontem pelo Grupo de Comunicação O Povo e o Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região (TRT-7).
A pandemia foi destacada como o ponto de partida para o afloramento de doenças como estresse, problemas cardíacos, ansiedade, depressão e pensamentos negativos com relação ao trabalho.
Segundo Ana Virginia Moreira Gomes, professora do Programa de Pós-Graduação em Direito e do Curso de Direito da Unifor, palestrante do tema “Os desafios das repercussões psicossociais nos trabalhadores pós-pandemia”, há um ciclo de precarização do trabalho, que reflete na qualidade do que é produzido e, por consequência, resulta em problemas de saúde mental dos trabalhadores.
“A pandemia expôs, colocou mais foco neste tema que precisa ser enfrentado. Vivemos em um país em que ter um emprego típico (formal) é um privilégio de cerca de 25% dos trabalhadores. Todos os demais, que são a maioria, estão de alguma forma na informalidade, que é uma forma de precariedade no trabalho e isso gera uma vida precária.”
A ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Kátia Magalhães Arruda, debatedora do painel, ressaltou que a pandemia desequilibrou os direitos sociais das pessoas de um modo geral e que no ambiente de trabalho não foi diferente. Sobre o tema, ela ainda ponderou que apenas com o passar dos anos saberemos “os reais efeitos físicos e mentais do teletrabalho”.
Anfitrião do evento pelo TRT-7, o desembargador Francisco José Gomes da Silva, Franzé, afirmou que “o governo atual fez uma reforma ruim para os trabalhadores, acabando com direitos coletivos e quase acabando com os sindicatos”. Ele questionou a professora e a ministra sobre o que é esperado, então do novo governo federal.
Ana Virgínia declarou que acredita que a política do novo governo, que inicia em janeiro, deva acabar com os contratos intermitentes, regulamentar o trabalho por plataforma e retomar o papel dos sindicatos.
Já a ministra Kátia lembrou que, atualmente, “os trabalhadores estão sem voz e os empregadores só têm voz se forem amigos dos governantes”. “Independente dos governos, precisamos que os diálogos da sociedade sejam retomados e que não esperemos que os fatos ocorram de cima para baixo. As pessoas precisam tomar os diálogos para si.”
Franzé lembrou que falar sobre saúde e segurança no trabalho é essencial, já que a Justiça do Trabalho tem, por missão, salvar vidas. “Cabe a nós fazer o novo, promovendo a cada dia melhorias na qualidade do trabalho das pessoas.”
Ele aproveitou a oportunidade para homenagear o trabalho da presidente do TRT-7, desembargadora Regina Gláucia Nepomuceno, destacando o papel da mulher na magistratura.
A iniciativa contou ainda com os painéis “Enfrentamento ao assédio como forma de violência laboral” e “A saúde dos trabalhadores em plataformas e pandemia”, com os palestrantes e debatedores Alberto Bastos Balazeiro, ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Nicodemos Maia, procurador Regional do Trabalho, e dos desembargadores do TRT-7, Emmanuel Teófilo Furtado e José Antonio Parente da Silva. A moderação foi realizada pela colunista do OPOVO, Lêda Maria.