A renda per capita média da parcela mais pobre da população da Grande Fortaleza caiu 20% entre o 3º trimestre de 2019 e o 3º trimestre de 2022, passando de R$ 205 para R$ 164. Já na comparação com período equivalente de 2021, também foi registrada queda, de 13,25%, e rendimento médio das fontes oriundas do trabalho de R$ 181.
Os dados revelados no 11º Boletim da Desigualdade nas Metrópoles aponta que a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), produzido pelo Observatório das Metrópoles, foi a única do País a apresentar tendência contínua de redução na renda entre os 40% mais pobres, desde o início da pandemia de Covid-19, quando considerado esse estrato da população.
Já quando considerados todos os estratos sociais, houve recuperação em relação ao ano passado, embora insuficiente para retomar o patamar médio de renda no pré-pandemia. Do 3º trimestre de 2021 para o 3º trimestre de 2022 houve crescimento de 4,1%, indo de R$ 985,03 para R$ 1.026,37. Mesmo com o aumento na média geral, a metrópole caiu uma posição no ranking nacional, sendo superada pela Grande Teresina e ficando em 17º lugar. Além disso, esse rendimento médio ainda é 13,23% menor que o verificado no 3º trimestre de 2019.
Apesar dessa queda de rendimento do trabalho dos 40% mais pobres na RMF, a proporção dessa parcela da população sobre o total caiu de 32,4% para 31,1% do ano passado para cá, embora siga acima do registrado antes da pandemia, quando era de 28,7%. Por outro lado, a desigualdade voltou a subir na Capital e nos municípios vizinhos, bem como a distância para os 10% mais ricos, que em 2021 ganhavam 28,9 vezes mais que a parcela de menor remuneração e agora ganham 30,5 vezes mais.
O índice de Gini, principal indicador internacional usado como referência nesse quesito passou de 0,612 para 0,622. Quanto mais próximo de 1, mais desigual é uma sociedade e quanto mais perto de 0 menos desigual. Paradoxalmente, antes da pandemia a desigualdade na Grande Fortaleza era ainda maior, com índice de 0,629.
Para um dos autores do estudo, o pesquisador do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Gomes Ribeiro, “esse comportamento da renda na Região Metropolitana de Fortaleza é o contrário do que está sendo verificado no conjunto das metrópoles brasileiras”.
“A principal explicação que a gente pode apontar é a dinâmica do mercado de trabalho na Grande Fortaleza, associada à estrutura econômica local. Até porque nós tivemos no 3º trimestre deste ano até deflação. Então, o peso da informalidade pode ter puxado para baixo o rendimento do trabalho dos 40% mais pobres”, analisa.
Já a especialista em Desenvolvimento Urbano e Regional, Silvana Parente, destacou que “no caso de Fortaleza, esse indicador vem piorando desde a crise de 2015-2016. Ele teve uma pequena melhora nos dois nos últimos dois trimestres de 2022 e esperamos que isso continue melhorando, com a recuperação da economia”.
“Fortaleza não é a pior região metropolitana, mas é a oitava mais desigual. Abaixo dela estão mais seis metrópoles do Nordeste e o Rio de Janeiro. Agora, a RMF perde bastante para as regiões metropolitanas do Centro-Oeste, Sul e Sudeste”, acrescenta a também economista.
Nesse sentido, Davi Azim, que integra o Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), afirma que a melhoria na renda dessa parcela da população passa por acesso à educação e capacitação profissional.
“O mercado de trabalho está muito digital e quem está na linha de pobreza estão afastadas dessas oportunidades”, conclui o conselheiro do Corecon-CE.
Brasil
Renda dos 40% mais pobres no Brasil ficou 22% abaixo do pico de R$ 323 atingido no 4º trimestre de 2013