A Bolsa de Valores (B3) anunciou ontem (19) que a Americanas terá seus títulos excluídos de todos os índices da B3, incluindo o Ibovespa. O movimento reflete o pedido de recuperação judicial feito pela varejista nesta quinta-feira. A exclusão está prevista para esta hoje após o encerramento do pregão regular. Até o fechamento da edição, a empresa continuava listada na B3.
"A participação será redistribuída proporcionalmente aos demais integrantes da carteira com o pertinente ajuste nos redutores dos índices", explica a B3.
Além do Ibovespa, a Americanas será excluída do IGCX, ICO2, ICON, IBXX, IGCT, IGNM, IBRA, IVBX, ISEE, ITAG, SMLL, IBXL e GPTW.
Diante das implicações dos últimos acontecimentos do ponto de vista ESG, a B3 já tinha deliberado pela exclusão da empresa da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Porém, com a recuperação judicial, a varejista será excluída também dos demais índices.
Na quarta-feira, 18, quase 94 anos depois da sua inauguração, quando teve seu pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça, o valor daquela época conseguiria comprar 246 ações da rede varejista. A companhia reconheceu ter uma dívida de R$ 43 bilhões com cerca de 16,3 mil credores.
Segundo a empresa, a medida foi necessária para "reduzir o impacto" da divulgação, em 11 de janeiro, de que a empresa havia encontrado "inconsistências" contábeis. Na data, Sergio Rial, seu então presidente, deixou o cargo dez dias após assumi-lo e anunciou um rombo no caixa de R$ 20 bilhões.
No pedido de recuperação feito na 4.ª Vara Empresarial do Rio, a Americanas diz ter perdido "quase 80% do valor de mercado" em menos de uma semana. Ontem, suas ações fecharam a R$ 1 - no dia anterior à divulgação do rombo, eram cotadas acima de R$ 12. A varejista pediu um prazo de 48 horas para apresentar a lista com todos os credores.
O pedido é o quarto maior da história no País em relação ao valor da dívida. Fica atrás apenas de Odebrecht (R$ 89 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 55 bilhões).
A empresa afirmou que continuará operando normalmente dentro das novas regras. Ela destacou a criação de um comitê independente e a contratação do banco Rochschild para apurar "eventuais irregularidades" em suas operações. Com o pedido aceito pela Justiça, a companhia tem até 60 dias para definir os meios de recuperação a serem adotados, sua viabilidade econômico-financeira e o laudo de avaliação dos bens do grupo.
Em sua decisão, o juiz Paulo Assed Estefan disse que o caso se trata de "uma das maiores e mais relevantes recuperações judiciais ajuizadas até o momento no País". "Não só por conta do seu passivo, mas por toda a repercussão de mercado, pelo aspecto social envolvido, dado o vultoso número de credores, de empregados diretos e indiretos, bem como o relevante volume de riqueza e tributos gerados", disse. Segundo ele, uma eventual falência da empresa "pode acarretar o colapso da cadeia de produção do Brasil."
O juiz afirmou ainda que o processo de recuperação não deve se confundir com as "alegações de fraude e má-fé" contra os gestores, mas proteger a atividade econômica da empresa.
Ele escolheu como administradores judiciais da ação os advogados Bruno Rezende e Sergio Zveiter. O administrador é uma espécie de assessor do magistrado nesses processos e busca entender a situação fiscal da empresa, além de listar todos os seus credores.
A Americanas tem 3,6 mil lojas, cerca de 50 milhões de clientes e gera aproximadamente 100 mil empregos diretos e indiretos, segundo a empresa. Até o ano passado, o grupo tinha mais de 140 mil investidores pessoa física na Bolsa. Em razão da recuperação judicial, a varejista terá seus títulos excluídos de todos os índices, incluindo o Ibovespa. A supressão está prevista para acontecer hoje, após o encerramento do pregão regular. (Agência Estado)