Um dos setores que mais empregavam e demandavam novos profissionais, a tecnologia da informação e comunicação (TIC) sente impacto de movimento negativo iniciado em grandes empresas como Google e Amazon.
Somente neste início de janeiro mais de 55 mil profissionais foram demitidos e a análise é que o mercado passa por uma readaptação após o “estouro de uma bolha”.
De acordo com dados compilados pela Layoffs.fyi, que contabiliza as demissões de empresas do setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC). Somente nessas três primeiras semanas de 2023, 166 companhias já demitiram 55,8 mil funcionários ao redor do mundo.
Em meio às dezenas de milhares de demissões, a grande maioria envolve grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como Amazon - que desligou 18 mil colaboradores desde o início deste ano -, Google (12 mil), Meta (11 mil) e Microsoft (10 mil).
Isso apenas para falar das empresas que demitiram pelo menos 10 mil empregados.
Sobre o movimento das grandes empresas internacionais, o presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Igor Lucena, explica que o exemplo da Amazon é o mais notável da crise no universo dos negócios digitais e da desaceleração econômica.
Mas no Ceará também devemos ver adequações. O entendimento de Igor é que se formou uma "bolha" no mercado, que aumentou muito o tamanho de equipes e a disputa por profissionais qualificados e, por consequência, inflando muito os salários.
As empresas investiram muito, projetando como seria o "novo normal", mas com a volta aos escritórios após a vacinação, a demanda por modelos híbridos diminuiu, o que frustrou o mercado, continua.
"Vai ser uma readequação para baixo, tanto de postos de trabalho, quanto de salários, após um "boom" muito acima da média. Os salários nestas empresas vão continuar altos, o setor de tecnologia continua sendo a tendência para impulsionar o desenvolvimento econômico, mas o olhar das empresas agora é mais realista", avalia Igor.
Em nota que comunicou milhares de dispensas, a Amazon diz que resistiu a tempos econômicos difíceis no passado e continuarão a fazê-lo, mas essas mudanças permitirão com que a empresa continue se desenvolvendo a partir de agora.
Os dados da Layoffs.fyi revelam ainda que o ritmo das demissões se acentuou nos últimos meses de 2022. Entre janeiro e junho do ano passado foram demitidos 43,9 mil, enquanto no segundo semestre foram mais de 170 mil dispensas. A variação chega a 287,2% de aumento.
Se a análise for feita trimestralmente, no 4º trimestre de 2022 houve 79,6 mil demissões em 454 empresas. Foi o pior resultado desde o 2º trimestre de 2020, no início da pandemia, quando 60,1 mil foram demitidos em 428 empresas. No entanto, somente neste início de 1º trimestre de 2023, o número de demissões representa 70% do recorde dos últimos três meses.
O POVO apurou que empresas cearenses do setor de TIC também estão passando por esse momento de dispensas.
Mas, para o presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Ceará (IDT-CE), Vladyson Viana, ainda não é possível dizer que o mercado cearense passa por crise.
Para ele, é preciso primeiro avaliar o momento que cada ecossistema passa. Lá, nos Estados Unidos, as big techs são consolidadas, demandando profissionais do mundo inteiro. Aqui, no Ceará, as empresas ainda sofrem com déficit de profissionais. Esse perfil pode, inclusive, favorecer o mercado local neste momento de demissões.
"A tendência é que as vagas sejam preenchidas e as empresas que precisam de profissionais possam atrair os cearenses que por acaso sejam dispensados das big techs", afirma Vladyson, destacando ainda o trabalho de implementação do hub tecnológico no Estado e a política de atração de investimentos empresariais, como os relacionados aos cabos submarinos e datacenters.
COMPANHIAS DE TECNOLOGIA QUE MAIS DEMITIRAM EM 2023
Amazon: 18 mil
Google: 12 mil
Meta: 11 mil
Microsoft: 10 mil
Salesforce: 8 mil
Booking.com: 4,37 mil
Cisco: 4,1 mil
Philips: 4 mil
Uber: 3,7 mil
Twitter: 3,7 mil
Fonte: Layoffs.fyi