Com protocolo já assinado com o governo cearense desde o ano passado, a chinesa Higer quer acelerar o cronograma acertado com o Estado para a instalação de uma fábrica de ônibus e caminhões elétricos e a hidrogênio verde (H2V) no Complexo do Pecém. O objetivo é atender o contrato já assinado com o Uruguai para fornecimento de 80 veículos por ano a partir de 2024, além dos novos contratos.
Atualmente, Colômbia, Guatemala, Costa Rica, El Salvador e Panamá têm negociações em curso com a montadora, segundo informou o diretor da empresa para a América do Sul, Marcelo Barella, em entrevista exclusiva ao O POVO.
Inicialmente, os veículos devem ser enviados diretamente da China, até o início da operação da unidade do Ceará, que é prevista para a segunda metade de 2024. Juntamente com Alexandre Colonese, diretor da Tevx Motor Group - responsável pela importação dos veículos e equipamentos nesta etapa do trabalho -, Barella veio para encontrar o governador Elmano de Freitas (PT).
"Foi muito bom o encontro. Sentimos o compromisso do Estado em desenvolver o plano de negócios. Estamos felizes e confiantes", afirmou Barella após o encontro. A principal demanda dos dois era ter um compromisso do Estado do Ceará para assumir um plano de substituição da frota de ônibus - inicialmente, o principal produto da empresa - para que houvesse mercado local para a produção da Higer.
O posicionamento já foi adotado por outros estados e, de acordo com o presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Danilo Serpa, é uma demanda que será bem analisada pelo governador.
A unidade planejada para o Pecém tem uma área de 180 mil metros quadrados reservada na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará e deve ser alvo de US$ 20 milhões em investimento na primeira etapa e mais recursos são previstos para a segunda, planejada para dois anos após o início das atividades. Os recursos devem ser próprios e com financiamento com o Banco do Nordeste, em uma modelagem ainda não definida.
Com uma estrutura de montagem parcial dos veículos, a mão de obra empregada para a operação fábrica deve ser de 400 pessoas no primeiro momento e mais cerca de 300 com a segunda. A capacidade é de fabricação entre 300 e 400 ônibus, inicialmente.
O treinamento desses funcionários, segundo informou Barella, será feito pela matriz, a partir do envio de pessoal da China e com o envolvimento de instituições locais, como acrescentou o presidente da Adece.
No Brasil, a Higer ainda negocia fornecimento sob sigilo e admite resistência e movimento contrário das grandes montadoras neste movimento de substituição de frota de ônibus e caminhões na velocidade que eles propõem.
Sobre o hidrogênio verde, os executivos planejam trazer um ônibus e um caminhão para o Ceará até o fim do ano para iniciar testes e negociações com as empresas que estão no processo de geração do novo combustível. Hoje, a empresa já mantém conversa com a fornecedora de equipamentos Hytron e com as geradoras EDP, Enel e Engie, segundo revelou Barellas.
No entanto, Colonese aponta para um gargalo importante para viabilizar o negócio da Hider: a suspensão do Imposto de Importação dos equipamentos para dar início à fabricação dos veículos no Ceará. Negociações nesse sentido já são feitas com o Governo Federal, mas precisam avançar e o executivo disse querer o apoio de Elmano nas tratativas com o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT).
"Tenho uma expectativa muito grande que, logo após esse encontro com o governador Elmano, haja um encontro com o presidente Lula juntamente com ele, o ministro Camilo, para que a gente possa sim dar uma partida", estima Colonese.