O Ceará fechou o mês de janeiro com saldo negativo de 3.033 empregos formais. É o segundo mês de queda consecutiva. Em dezembro do ano passado, a diferença entre admissões e demissões tinha ficado negativa em 6,9 mil vagas.
O movimento no mercado de trabalho cearense vai na contramão do que foi observado no cenário nacional que encerrou o primeiro mês do ano com saldo positivo de empregos em 83.297 vagas, após recuo de mais de 440,6 mil vagas em dezembro.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram divulgados nesta quinta-feira, 9, pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O recuo do saldo de empregos registrado em janeiro deste ano foi mais acentuado do que o registrado em igual mês de 2022 (-2.170).
No Ceará, dos cinco grandes setores econômicos, três fecharam o mês com saldo negativo de contratações. A indústria lidera a lista com uma diferença negativa de 2.811 vagas, resultado da abertura de 6.932 postos de trabalho, frente a 9.747 distratos no período.
Neste caso em específico, vale lembrar que no dia 10 de janeiro, o grupo Guararapes, dona da marca Riachuelo, comunicou o encerramento das atividades da fábrica em Fortaleza. Na ocasião, cerca de 2 mil funcionários foram demitidos.
Em seguida aparecem comércio (-2.190 vagas) e agropecuária (-380), conforme levantamento do Caged.
Contudo, apesar de ter terminado o mês com um saldo positivo na geração de empregos, chama atenção a alta rotatividade registrada no setor de serviços. Foram 22.492 admissões e 20.484 demissões, resultado em um saldo de 2.008 empregos.
A construção civil cearense encerrou o primeiro mês do ano com saldo de 340 vagas.
Vladyson Viana, secretário do Trabalho do Ceará, afirma que esta é uma característica de mercado de trabalho cearense, a desaceleração nos meses de dezembro e janeiro, "muito puxados, principalmente, pelo setor de comércio."
Já no setor industrial, ele aponta que o número negativo, quase que na totalidade, vem do setor de indústria de transformação de principalmente na área de vestuário. "E, obviamente, a gente enxerga ali, claramente, a participação o impacto do fechamento da planta da Guararapes."
"O Estado continuará numa trajetória de crescimento da economia. Mantivemos a capacidade de investimento público e as políticas públicas que de atração de novos investimentos, assim como o ambiente de atração de novos negócios e acreditamos que a partir de fevereiro haverá uma virada nessa trajetória", diz Viana.
Ele lembra que em 2021, o Ceará também tinha saldo negativo no primeiro mês do ano, mas fechou como seu maior saldo de geração de empregos da história do Caged, com mais de 81 mil postos de trabalho. "Em 2022 tivemos um saldo positivo de mais de 67 mil postos de trabalho e também um janeiro negativo. Então, acreditamos que a economia do cearense continuará nessa trajetória de crescimento e com isso gerando mais postos de trabalho, emprego, enfim, oportunidade."
Já o economista Alex Araújo segue a mesma linha de análise do Governo do Estado e aponta os números como movimentação esperada do mercado local. "Diferente do observado para o Brasil, porque em outros estados a sazonalidade funciona de forma diferente da nossa, com os setores de serviços, agropecuária e pesca puxando o resultado positivo."
Ele comenta que o que chamou a sua atenção foi o saldo negativo em dezembro de 2022. "Esse é um resultado atípico, pois sempre tínhamos algum movimento de contração no início do mês, mas, em 2022, os desligamentos dos empregos temporários começaram mais cedo, indicando nível de atividade abaixo do esperado para o período."
Araújo ainda revela que a expectativa é de que a retomada do mercado de trabalho do Ceará ocorra a partir de abril, nos preparativos para o Dia das Mães.
"Nestes últimos meses o consumo tem sido muito afetado pelo elevado nível de endividamento das famílias, ou do elevado comprometimento da renda com o pagamento dessas dívidas, combinado com os efeitos da inflação mais alta, fazendo com que a participação dos itens essenciais de consumo pese mais no orçamento familiar. Dessa forma, podemos esperar um movimento mais duradouro com a combinação dos seguintes fatores: redução das taxas de juros, incremento das transferências governamentais e algum impacto do programa de renegociação de dívidas que o governo federal está desenhando", diz o economista, apostando nas vagas de comercio e serviços reaquecerem com estes pontos. (com Irna Cavalcante)