No Ceará há 1 mês e seis dias, completados hoje, o CEO da ArcelorMittal Pecém, Erick Torres, projeta um futuro promissor para a companhia. Ao mesmo tempo que rebatiza a antiga Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), o grupo planeja atingir 100% da produção em um curto ou médio prazo.
Sobre as metas de zerar as emissões de carbono até 2050 adotadas por todo o grupo, ele considera que a transição energética da planta cearense deve passar pelo gás natural antes de adotar o hidrogênio, especialmente, o verde - alvo de atenção de toda a cadeia produtiva instalada no Complexo e a principal aposta de combustível do futuro.
O executivo, que ocupava o cargo de COO do grupo no Brasil, já estabeleceu moradia em Fortaleza, juntamente com a esposa e o casal de filhos, e assume reconhecer o peso econômico da empresa no Estado. Erick Torres diz investir no diálogo com o Complexo do Pecém para atingir esses objetivos e fortalecer esse papel da empresa. Confira as principais partes da entrevista dele ao O POVO.
O POVO - O setor industrial demonstrou muita expectativa sobre a chegada da ArcelorMittal ao Pecém desde o anúncio da compra da siderúrgica. O que esperar a partir de agora?
Erick Torres - Essa aquisição tem um papel estratégico para a gente como grupo e tem vários potenciais que conseguimos enxergar nessa integração. Afinal, a gente amplia a posição e condição da empresa quando observamos a siderurgia brasileira. E tem potencial de crescimento, é só ver o consumo de aço no Brasil.Nessa formação do hub (de hidrogênio verde), quando a gente pensa em energia renovável, em hidrogênio verde, e óbvio vamos ter mais 3 milhões de toneladas de placas de aço junto com o grupo para a gente poder dentro do mercado mundial ter fornecimento num potencial com custo bem competitivo dentro do País e fora do País.
OP - Já encontrou com diretores do Complexo do Pecém e do Governo do Estado?
Erick - Tivemos uma agenda com o governador e com a Rebeca Oliveira (diretora vice-presidente financeira do Complexo do Pecém) e trouxemos clareza de como o grupo está, quais os nossos interesses no Estado e vamos trabalhar com diálogo bem aberto com o time que está no Porto do Pecém. Combinamos de fazer, em uma próxima etapa, uma reunião com a diretoria do Porto.
OP - A gente sabe de uma rodovia exclusiva para as placas feita pelo Estado, esteira direto do Pecém... O que destacar de potencial dessa sinergia e o que pode melhorar?
Erick - Eu ainda não tive oportunidade de capturar todas essas sinergias, mas vamos dialogar com o pessoal, buscar essas oportunidades e trabalhar para que sejam boas e adequadas para ambas as partes. Acredito muito na relação próxima com o Complexo e acredito que esse trabalho vai ser construído a partir de agora que estamos entrando e vendo como são todas as informações da empresa.
OP - A empresa planeja ampliar o quadro de funcionários?
Erick - A ArcelorMittal Pecém está com um quadro de empregados bem adequado para a produção. Mas nós sempre estamos avaliando essa produção.
OP - Como ficou a diretoria? Todos já foram empossados?
Erick - A diretoria que existia estava conectada com os donos anteriores. Agora, vai ter uma nova direção que estará conectada com a ArcelorMittal. Todos os diretores já foram nomeados. Eu estava como COO da ArcelorMittal Brasil até a semana passada e agora sou CEO da ArcelorMittal Pecém. Inclusive, nós temos um ponto que é: as pessoas são o grande diferencial desse negócio. A planta que a gente adquiriu tem as pessoas como diferencial e essa transição está pautada com respeito às pessoas e na transparência das relações para que a gente possa conectar a nova planta ao que a gente tem na ArcelorMittal como grupo.
OP - Vimos que a produção da CSP poderia atender ao grupo e também à demanda externa. Para onde vai a produção da CSP agora?
Erick - A produção da CSP atende clientes internos (do mercado nacional) e também mercado externo, sem competição com o mercado atendido pela ArcelorMittal Tubarão (ES), que atende internamente o grupo. Nós vamos honrar os compromissos que a ArcelorMittal Pecém tem e, além disso, dentro desse mercado oportuno de placas mundial verificar as alternativas mais adequadas para colocar nosso produto com competitividade.
OP - Os contratos vigentes têm quanto tempo de duração?
Erick - A gente está chegando agora e um dos grandes pontos desse processo que tivemos, a gente não tinha acesso a esses dados e vamos ter a condição adequada de verificar quando os contratos vencem, como a gente vai atuar. A certeza é que a gente vai garantir os compromissos que foram feitos e verificar as oportunidades que podemos ter nessa sinergia junto com o grupo.
OP - Como não concorrer com a ArcelorMittal Tubarão, que também produz aços planos?
Erick - Hoje, Pecém já faz parte da produção para o mercado interno. Para o mercado externo, o mercado de placas é mundial, bastante amplo e com diversas oportunidades em diversos países. Essa planta, como é muito moderna, dá a oportunidade de uma participação mais ampla e mais adequada no segmento de semi-acabados. Ou seja, além de garantir o mercado que já possui, a ArcelorMittal proporciona a oferta de produtos e melhora o atendimento dos clientes do nosso mercado.
OP - Algum mercado internacional é mais adequado para a produção de Pecém?
Erick - O próprio portfólio da ArcelorMittal Pecém é de uma empresa moderna, onde tem condição de apresentar desde produtos para indústria automobilística, por exemplo. Já tem essa atuação. O que a gente vai criar é sinergia a tendo dentro do grupo ArcelorMittal.
OP - A produção deve aumentar?
Erick - A produção da ArcelorMittal Pecém está bem próxima da capacidade máxima. Então, hoje, o que a gente tem como prioridade no curto e médio prazo é gerar resultado tratando de conectar com as plantas que já existem dentro do grupo para aprimorar e fazer com que ela chegue nesse limite máximo de capacidade. E isso está muito próximo. Produziu 2,85 milhões de placas de aço de uma capacidade de 3 milhões de placas de aço.
OP - O hub de hidrogênio verde planejado pelo Ceará foi destacado pela ArcelorMittal desde o início da operação de compra. O que se pode esperar agora?
Erick - A ArcelorMittal tem um compromisso de sustentabilidade e a gente se comprometeu de, até 2050, como grupo de atingir a neutralidade nas emissões de carbono. Para fazer isso, algumas ações vêm acontecendo e estudos estão sendo adotados. Existem várias oportunidades para que a neutralidade seja atingida. Uma delas é o hidrogênio.
Para ter essa produção de combustível, precisamos de eletrólise e nesse processo precisamos de muita energia limpa, renovável. É aí que está o momento que chegamos no Ceará, que tem uma região de compromisso muito forte. Estamos estudando continuar e avançar nessa linha para vincular as oportunidades, como o Aditya Mittal menciona, no Estado no qual estamos presente.
OP - Qual a base de consumo da ArcelorMittal no Brasil?
Erick - O principal insumo energético da siderurgia no Brasil, e a ArcelorMittal não é diferente, é o carvão. Você transforma em coque através da aciaria, mas também podemos e é uma grande saída usar a fonte de gás natural. O gás natural é uma linha de transição para o avanço da descarbonização.
OP - Dadas as condições da siderúrgica do Pecém, que ainda utiliza carvão, seria economicamente mais viável fazer a transição do carvão para o hidrogênio ou,antes, para gás natural?
Erick - Sim, primeiro, para gás natural. Justamente por causa do custo porque a escala do hidrogênio hoje é incompatível com as necessidades. O gás natural é o promotor para fazer essa primeira fase de aceleração para a descarbonização. Na trajetória de descarbonização vão existir várias oportunidades e várias ações. A primeira delas, de médio e curto prazo, é o gás natural. Hoje, já pode entrar no processo de uma forma muito mais consolidada.