O Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNBR3) informou que o Conselho de Administração nomeou Paulo Henrique Saraiva Câmara como presidente da instituição ontem, 29 de março. A posse ocorreu às 11h, em cerimônia interna, na sede do BNB, no bairro Passaré.
A informação foi divulgada ao mercado em fato relevante. Portanto, o nome indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou mesmo como o do ex-governador de Pernambuco para presidir o banco.
Ele assume no lugar do também pernambucano José Gomes da Costa, que havia sido efetivado no cargo no dia 2 de agosto de 2022, após ficar desde o dia 17 de janeiro, ou seja, quase sete meses como interino.
Já o nome de Paulo Câmara passava por um possível empecilho da Lei das Estatais, de 2016. Porém, no dia 16 de março, Ricardo Lewandowski, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu liminarmente trechos do texto, que restringiam a indicação de políticos para cargos de Diretoria em empresas públicas.
Isso porque a posse do ex-governador pernambucano dependia de o Senado aprovar as mudanças feitas pela Câmara no fim do ano passada na Lei das Estatais. O texto aprovado pela Câmara reduzia para apenas 30 dias o tempo exigido de quarentena para o político assumir o cargo em estatal, em vez de três anos.
Encontro de Lula com do ex-governador de Pernambuco já havia sido realizado no dia 7 de fevereiro deste ano, convidando-o para o cargo no BNB.
O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, também havia participado da reunião, que já terminara com o aceite de Câmara para assumir comando do banco.
O ex-governador chegou a ser eleito e reeleito, findando o mandato em 2022, em Pernambuco, fato que gerou o fim do período de 12 anos do PSB no controle do Estado.
Paulo Henrique Saraiva Câmara é graduado em Ciências Econômicas, possui pós-graduação em contabilidade e controladoria governamental e mestrado em Gestão Pública para o desenvolvimento do Nordeste, todos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
É auditor do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, tendo exercido, ainda, carreira administrativa, no Banco do Brasil, no período de 1993 a 1994.
Foi secretário de Administração de Pernambuco (2007 a 2010), secretário de Turismo de Pernambuco no exercício de 2010, secretário da Fazenda de Pernambuco, de 2011 a 2014, e governador daquele estado de 2015 a 2022.
Além da nomeação de Paulo Câmara como presidente, o Banco do Nordeste também divulga composição da nova Diretoria, que ainda deve passar por modificações. Veja lista:
O Banco do Nordeste do Brasil S. A. é considerado o maior banco de desenvolvimento regional da América Latina e diferencia-se das demais instituições financeiras pela missão que tem a cumprir: atuar como Banco de Desenvolvimento da Região Nordeste, papel que que exerce há 70 anos completos em 2022.
Com sede em Fortaleza, no Ceará, a instituição criada em 1952 tem abrangência na Região Nordeste, norte de Minas Gerais e norte do Espírito Santo.
Sociedade de economia mista e de capital aberto, o BNB mantém mais de 55% do capital sob controle direto da União Federal.
Seus recursos provêm do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), sendo que mais da metade é destinada ao Semiárido, em consonância com o Plano de Desenvolvimento Regional.
Há ainda captações nacionais e internacionais, tendo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) um parceiro importante.
O BNB também é agente operador do Fundo de Investimento do Nordeste (Finor) e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e agente de crédito do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Possui mais de 90% da carteira de microcrédito do Brasil e é o maior banco regional da América Latina.
É líder em programas de microcrédito (Crediamigo e Agroamigo), que respondem por mais de 90% do modelo no País, e é destaque ainda por atuar junto às micro e pequenas empresas (MPMEs).
Atua em todos os setores e com todos os portes, ao longo de 1.990 municípios.
Por ser economista, ter visão na área de gestão pública para o Nordeste e ter uma história dentro do Tribunal de Contas, o nome de Paulo Câmara, ex-governador de Pernambuco, é visto como positivo na classe de economistas.
A avaliação é de Igor Lucena, presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE). Ele diz que o currículo de Câmara o credencia do ponto de vista de compliance dentro da própria estrutura do banco.
"E como ele já passou também por secretarias de Fazenda essa questão de orçamento é muito importante devido ao momento que a gente está passando da economia nacional. Agora, o que que se espera do ponto de vista prático é a continuidade do processo do banco de inovação e de levar crédito às regiões do Nordeste onde são menos favorecidas", destaca.
Isso porque, do ponto de vista histórico, o BNB chega aonde instituições privadas não chegam. "O que nós esperamos dessa nova gestão do Paulo Câmara é uma continuidade e até mesmo um avanço, porque sabemos que a gente está numa espécie de de credit crunch (crise do crédito) internacional e que isso pode chegar no Brasil, então, seria muito salutar principalmente olhar para o interior nordestino", acrescenta Lucena.
De investimentos em setores, ele cita a importância de olhar para a transição energética mundial, e que Câmara traz isso por ser do Nordeste. Além do papel para desenvolver a infraestrutura e a construção civil pesada na Região.
"Esperamos que a nova gestão dê continuidade a esses processos. Vemos com bons olhos a indicação do senhor Paulo Câmara e desejamos uma um excelente gestão no que, ao meu ver, é a instituição mais relevante, mais importante do ponto de política pública e de diminuição da desigualdade no nosso Estado e em todos os nove estados de atuação do Banco do Nordeste", frisa o representante dos economistas no Ceará.
Lauro Chaves Neto, economista e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), destaca o BNB como a principal instituição de crédito, de microcrédito e de fomento industrial, além de crédito agrícola do Nordeste. Sendo assim, de "fundamental importância para o desenvolvimento da Região."
Sobre a nomeação ser de indicação de Lula, diz que ao longo de toda a história da instituição este cargo sempre esteve muito ligado a questões políticas e que "isso é normal".
"O que nós temos de ficar atentos é da composição técnica da Diretoria, é para os recursos destinados aos seus principais programas, para que os recursos financiem as necessidades reais de desenvolvimento regional. Então nós vemos, como economistas, que o mais importante é que a Diretoria como um todo tenha um perfil muito técnico e que as posições e as decisões sejam técnicas."
Já Raul Santos, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE) e nome que chegou a ser contado pela classe empresarial para presidir o Banco do Nordeste, pontua que, por Câmara ser formado em economia, ter mestrado, pós-graduação, conhecimento de controladoria, apesar do viés político, há uma "formação razoável" para ocupar a função na instituição.
"Ele é uma pessoa que se posiciona de uma forma muito aberta ao diálogo, gosta de ouvir, de trabalhar em equipe... Então, em termos pessoais, parece ser interessante o perfil. É uma função muito mais de comandar a equipe, de se relacionar com o Governo Federal, com entidades de fora do País, grandes bancos e grandes empresários também", complementa.
O fato de Câmara ser do Nordeste é outro aspecto citado por Raul como de auxílio em específico ao Ceará, porque os "problemas lá no estado de Pernambuco são semelhantes".
"Um certo conhecimento desses problemas que a gente tem, como a falta de água, a população de baixa renda cada vez mais crescendo, as necessidades e as dificuldades das empresas regionais, então isso também é um ponto positivo", frisa.
Com relação ao mercado privado, Raul avalia que Câmara já não deve ter tanta experiência, mas que essa deficiência pode ser suprida por uma boa Diretoria técnica.
"O Banco do Nordeste é um grande repassador de recurso do FNE e está muito ligado ao Congresso Nacional, a políticos, a governadores e tudo mais. Então uma pessoa que tem o entendimento sobre como é que funciona essa máquina governamental não deixa de ser uma coisa boa. A gente precisa ver na prática como é que vai ser a postura dele. Os resultados do banco estão indo bem, então, eu espero que ele consiga contribuir para a continuidade desses bons números", diz.
Ricardo Coimbra, conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais no Nordeste (Apimec-NE), analisa que o nome escolhido vem no direcionamento de uma aproximação e do fortalecimento do desenvolvimento regional no campo de atuação do BNB.
"Deve ser bastante interessante, visto que você vai ter um ex-gestor de Estado, que tem essa visão de planejamento, uma visão de interseção dos governos dos estados e do Governo Federal nesse processo de debate e discussão do desenvolvimento regional. Ou seja, talvez, junto ao próprio Governo Federal, vai ajudar a destravar ou desenvolver novas pautas relacionadas com esse crescimento de médio, de longo prazo, pra reduzir as desigualdades da região Nordeste", afirma, acrescentando que pode potencializar a atração de investimentos para os nove estados da Região. (Colaborou Lennon Costa)