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Crise em indústria de calçados ameaça mil empregos em Uruburetama
Economia

Crise em indústria de calçados ameaça mil empregos em Uruburetama

| Setor calçadista | Grupo gaúcho Paquetá The Shoe Company também possui fábricas em Itapajé e Pentescoste e parcelou os salários neste mês de abril
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FUNCIONÁRIOS em Uruburetama em diálogo na parte externa da fábrica da Paquetá (Foto: WhatsApp O POVO)
Foto: WhatsApp O POVO FUNCIONÁRIOS em Uruburetama em diálogo na parte externa da fábrica da Paquetá

O parcelamento dos salários no mês abril acendeu um alerta em mil funcionários da unidade da Paquetá The Shoe Company, na cidade de Uruburetama, no norte do Estado. A fábrica, instalada desde 2001, tem como foco a produção de calçados femininos para exportação e é a principal empregadora do município.

A empresa também tem indústrias nas cidades de Itapajé e Pentecoste, no Ceará, além de possuir unidades na Bahia e no Rio Grande do Sul, onde fica a sede e onde surgiu, em 1945. Desde 2019, a Paquetá The Shoe Company está em processo de recuperação judicial. Porém, esta foi a primeira vez que todos os seus 7,5 mil funcionários, de todas as unidades fabris e do varejo, tiveram os salários parcelados.

Com medo de represálias, nenhum dos funcionários fala sobre a insegurança gerada abertamente, mas o clima da cidade de Uruburetama é de tensão. "Eles não dão certeza se o nosso salário será pago, no próximo dia 5 de maio. Como ficam as nossas famílias, nossos filhos, aluguel e as nossas despesas?", questiona um dos colaboradores que sob a condição de anonimato. Ele ainda conta do medo dos direitos trabalhistas não serem respeitados.

Legislativo está atento

Conforme o vereador Cleber Uchôa (PSD), que está acompanhando o caso e levou o problema para a última sessão da Câmara Municipal de Vereadores, na segunda-feira, 24, os trabalhadores foram dispensados das atividades laborais no início deste mês. Nesta semana, dos mil, apenas 600 foram recrutados para voltar ao trabalho, com a informação de que a fábrica só teria matéria-prima para fabricação com este número de mão de obra. Ou seja, não teria demanda de produção para todos os colaboradores.

"A nossa população está preocupada com essa realidade. São milhares de famílias, direta e indiretamente, que dependem da economia desta fábrica, que é a maior da cidade." Uchôa afirma ainda que já está se articulando para conversar, não só com o prefeito, Aldir Chaves (PT), como também com deputados estaduais e federais e com o Governo do Estado.

"Sabemos que a empresa também tem fábricas em Itapajé e Pentecoste e recebe incentivo do Estado para estar aqui. O que queremos é transparência da direção. Precisamos saber o que está acontecendo e fazer alguma coisa."

Prefeito encaminhou ofício à empresa

Questionado sobre a situação pela reportagem do O POVO, o prefeito afirmou que na semana passada encaminhou um ofício para a direção da fábrica da cidade, pedindo uma reunião para que a situação possa ser esclarecida.

"Só posso dizer alguma coisa depois que tiver uma reunião com eles, mas, por enquanto, o município não tem medo que a fábrica feche e queremos saber o motivo do parcelamento dos salários e o que está ocorrendo. Porém, até o momento, a fábrica ainda não respondeu o ofício ou marcou a reunião."

Um proprietário de uma das terceirizadas da Paquetá no Ceará, que pede para não ser identificado, afirma que a indústria não ficou devendo nenhum trabalho, mas que, por enquanto, dispensou os seus serviços. Com isso, dezenas de pessoas que ele empregava também foram dispensadas.

No Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, a informação do parcelamento dos salários, mas sem demissões, foi confirmada pelo Sindicato de Sapateiros de Sapiranga, cidade onde fica a sede do Grupo Paquetá.

Segundo o secretário-geral da entidade, Leandro Rodrigues dos Santos, o parcelamento de todos os seus funcionários, em todo o País, foi uma opção da empresa, acreditando que a medida tenha sido melhor do que escolher apenas um grupo para receber o montante cheio.

O representante sindical afirma não ter informações específicas sobre a região Nordeste e que, desde que entrou em recuperação judicial, esta foi a primeira vez que os salários foram parcelados. "A empresa tem honrado os compromissos tomados na recuperação judicial, tanto como colaboradores demitidos neste período, como também com fornecedores e a gente está torcendo para que se levante, porque são milhares de famílias que dependem destes postos de trabalho."

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Sem resposta

O POVO procurou os secretários estaduais de Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, e do Trabalho, Wladyson Viana, além do Grupo Paquetá e do escritório de advocacia que o representa no processo de recuperação judicial, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

 

Paquetá pelo mundo

O grupo Paquetá já esteve presente em 16 países, com fábricas em:

  • Brasil
  • Argentina
  • República Dominicana

E lojas em:

  • Brasil
  • Canadá
  • Argentina
  • Paraguai
  • Costa Rica
  • Angola
  • Líbano
  • Egito
  • Omã
  • Emirados Árabes Unidos
  • Qatar
  • Bahrain
  • Kuwait
  • Arábia Saudita
  • Filipinas

São ou já pertenceram ao grupo:

  • Paquetá
  • Paquetá Esportes
  • Dumond
  • Capodarte
  • Esposende
  • Gaston 

Grupo Paquetá, além de três fábricas, foi proprietário das lojas Esposende

Em 2019 o Grupo Paquetá entrou em recuperação judicial. O plano de reestruturação foi aprovado após dois anos e a dívida era estimada em R$ 428 milhões, com 12.418 credores.

A empresa possuía, em 2021, 9,1 mil funcionários, cinco unidades produtivas e mais de 200 lojas físicas, além do e-commerce que ganhou espaço na pandemia. As marcas Paquetá, Paquetá Esportes, Gaston, Esposende, Capodarte e Dumond fazem parte da Paquetá The Shoe Company, uma empresa com mais de 75 anos de mercado.

Em junho do ano passado, o grupo vendeu a Esposende, operação de varejo multimarcas com 48 lojas no Nordeste, incluindo no Ceará, ao Grupo Dok. A negociação fez parte da reestruturação.

A Esposende foi adquirida pelo Grupo Paquetá em outubro de 2010. Na época, a rede varejista era composta por 30 pontos de venda, sendo 25 na Região Metropolitana de Recife e cinco em Fortaleza, faturava R$ 180 milhões e comercializava cerca de 4,2 milhões de itens. Naquele momento, o grupo gaúcho se tornou a maior rede de lojas de calçados do País, já que somando todos os seus pontos de venda, chegava ao número de 123.

Apesar das dificuldades financeiras, o grupo se mantém entre os maiores varejistas do Brasil. Segundo o último ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o grupo vendeu R$ 386 milhões em 2021, uma queda de 33% sobre o ano anterior. Porém, fortes boatos no mercado dão conta de que toda a parte de varejo estaria sendo negociada com o Grupo Oscar, de São Paulo.

Caso a proposta do Grupo Oscar seja aceita, ainda será necessária a aprovação de credores e a autorização da Justiça. A intenção seria vender a operação de varejo para reestruturar a parte industrial.

Com 40 anos de mercado, o grupo paulista tem mais de 100 lojas, além da operação de venda on-line. Comercializa calçados, roupas e acessórios e, na região Nordeste, está presente em Alagoas e na Paraíba.

 

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