O Banco do Nordeste recebe, atualmente, uma demanda por financiamento duas vezes maior do que a capacidade de contratações via Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) - recurso que opera com exclusividade. Isso significa um montante superior a R$ 80 bilhões, segundo revelou o presidente da instituição, Paulo Câmara.
"Hoje, o Banco não está conseguindo atingir todas as demandas. Bate no teto dos recursos que tem, principalmente, o setor de energia. Esse ano chega a R$ 40 bilhões de FNDE. O número que me passaram é que a gente tem carteira de projetos pelo dobro", contou em visita à sede do O POVO.
Principal instituição de fomento da Região, o BNB divide os recursos em áreas estratégicas, como infraestrutura, agronegócio e energia, como Câmara destacou, para assegurar uma cobertura pela instituição em todos os setores produtivos em atividade no Nordeste.
Mas, com a procura superior à capacidade de atendimento, ele admite que o Banco "começa a restringir". "A pessoa pede R$ 500 milhões, a gente financia R$ 200 milhões e faz os outros R$ 300 milhões com outras instituições. Por isso que a chegada de outros bancos públicos combinado conosco pode ajudar", falou, revelando o plano de como atender toda essa demanda.
Câmara já esteve com Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para tratar do assunto e disse ter combinado a atuação. Dois funcionários do BNDES, inclusive, foram destinados para definir a modelagem dessa parceria.
O BNDES, por também ser banco de fomento, replica a atuação do BNB na Região e as tratativas são para evitar isso. O plano do presidente do Banco do Nordeste é atuar de duas formas: "a gente assumir (o projeto) ou fazer cofinanciamento. Eles financiam uma parte e a gente outra. E também dividir as garantias".
Um dos pontos tratados diz respeito ao microcrédito. Segundo Câmara, é de interesse do BNDES operar parte dos bilhões anunciados neste nicho pelo BNB, o que amplia a atuação com microempreendedores rurais e urbanos na Região.
Ao falar que não quer concorrência, mas uma ampliação da atuação, ele diz que vai montar uma agenda também com as presidentes do Banco do Brasil (BB), Tarciana Medeiros, e da Caixa Econômica, Rita Serrano. Conversas que devem ser resolutivas, uma vez que a sobreposição de ações entre o BNB, BB e Caixa são menores.
"Mas eu estou atrás, é uma missão, de ir além do FNE. A gente precisa ter outras fontes de financiamento para as políticas do Nordeste, então, estamos fechando parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estamos atrás do Banco Mundial, do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), da Aliança Francesa de Desenvolvimento - e vou até ter uma reunião de trabalho com eles. O Brics tem que entrar nessa reunião também", enumerou Câmara sobre outra possibilidade para atender a demanda além das condições permitidas pelo FNE.
Do BID, ele já conseguiu recursos da ordem de US$ 300 milhões que serão divididos entre os nove estados nordestinos. Parte da agenda dele com os governadores durante o primeiro mês à frente do BNB foi para tratar disso, inclusive, com Elmano de Freitas (PT), governador do Ceará.
O novo presidente classificou o Banco como "bem estruturado", de "corpo técnico de altíssimo nível e experiente" e diz confiar nisso, assim como nas oportunidades de investimento no Nordeste, para ampliar as possibilidades de administração de recursos para cessão de crédito.
"Vi o sentimento do empresariado nos últimos anos de valer a pena investir no Nordeste. Não conheço um que veio para o Nordeste que tenha se arrependido", ressaltou, destacando a atuação como ex-governador de Pernambuco por oito anos e presidente do Consórcio Nordeste.
Diretoria
Câmara contou que a nova diretoria do BNB deve ser formada com indicados por cada estado do Nordeste, a partir de acertos com o governo federal. Ele próprio se diz indicação da cota pessoal do presidente Lula