Logo O POVO+
Valor menor do boi no campo não chega ao açougue para o consumidor cearense
Economia

Valor menor do boi no campo não chega ao açougue para o consumidor cearense

| MENOS IMPACTO | Cotação do boi já retraiu 6,17% em 2023 e mais de 15% em 12 meses, mas não chega aos preços dos cortes nas prateleiras
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
PREÇO no açougue não cai na mesma proporção que no campo (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves PREÇO no açougue não cai na mesma proporção que no campo

Ainda que o preço da picanha tenha apresentado deflação de 6,17% no Ceará, nos primeiros cinco meses de 2023, os consumidores não estão sentindo totalmente a queda observada no campo. A cotação do boi no mercado tem experimentado forte retração, o que anima para que a redução de valor dos cortes ao cliente final continue em queda.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, a arroba do boi gordo fechou o mês de maio cotada a R$ 243,25. A mínima anterior havia sido registrada em setembro de 2020 (R$ 240,45). O resultado de maio é uma marca muito distante do pico de R$ 352,05, atingido em 22 de março do ano passado. Neste ano, a arroba já caiu mais de 15% até o fim de maio, em termos nominais. Se for descontada a inflação, o valor médio mensal recuou 6,17% no ano até maio. Em 12 meses, a retração foi de 15,3%.

De acordo com o analista de mercado e supervisor do Núcleo de Economia e Estatística das Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão, apesar de estar longe dos grandes centros produtivos e de criação de bovinos, o Ceará é impactado por essa variação por ser um estado importador desses produtos. "O Ceará não é destaque nacional ou regional na produção de boi, então a nossa carne vem da região Centro-Oeste e de estados do Norte, como Tocantins e Pará, e elas já vem fatiadas. Ainda existem as carnes já destinadas aos supermercados, que vêm das regiões Sul e Sudeste", explica.

Apesar do movimento no mercado, o consumidor tem sentido um efeito muito menor nos preços das prateleiras dos açougues. Segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre janeiro e maio, o preço do grupo de produtos que inclui as carnes caiu 3,03%. Em 12 meses, a queda chega a 6,17%. Os percentuais, portanto, são aquém do observado no início da cadeia. Entre abril e maio, o IBGE chegou a captar um movimento de alta, o que influenciou alguns cortes, como fígado ( 1,82%), contrafilé ( 1,25%), chã de dentro ou coxão mole ( 2,6%), alcatra ( 0,98%) e acém (1,23%).

Segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea/USP, a atual queda de preços tem origem quatro anos atrás. Em 2019, a China ampliou fortemente as compras do produto e os preços subiram. Com isso, os pecuaristas passaram a investir mais e ampliar o rebanho. "Houve muito investimento em genética, nutrição, manejo, redução na idade de abate, inclusive produzindo animais mais pesados", observa.

Esse aumento na oferta de boi gordo aparece no crescimento do volume de abates, observa Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). No primeiro trimestre deste ano, o número de bovinos abatidos aumentou 4,7% em relação ao mesmo período de 2022, segundo o IBGE. "Isso mostra a maior oferta de animais disponíveis no mercado."

Paralelamente, as exportações de carne brasileira para a China, o principal comprador, ficaram suspensas por cerca de um mês, entre fevereiro e março deste ano, por causa de um caso atípico de vaca louca. Isso turbinou ainda mais a oferta do produto. Quando a China voltou às compras, houve uma certa recuperação de preços, observa o técnico da CNA. No entanto, esse movimento não se sustentou. (Samuel Pimentel, com
Agência Estado)

O que você achou desse conteúdo?