O projeto de implantação da Planta de Dessalinização de Fortaleza foi atrasado em, pelo menos, um ano por conta de um impasse envolvendo o Consórcio das Águas e as empresas responsáveis pelos 16 cabos ópticos submarinos que chegam de diversos pontos do mundo ao Brasil pela capital cearense.
O imbróglio ocorre porque tanto a usina, que vai transformar água marinha em água potável, quanto o espaço de chegada dessas redes de dados internacionais têm como ponto geográfico estratégico a Praia do Futuro.
O projeto foi desenvolvido pelo consórcio, formado pelas empresas Marquise, PB Construções e Abegoa Água, em parceria público-privada (PPP) com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
O prazo inicialmente previsto para que a usina entrasse em operação era o fim de 2024 e agora foi revisado para março de 2026. O presidente do Consórcio Águas de Fortaleza, Renan Carvalho, e da Cagece, Neuri Freitas, em entrevista exclusiva a O POVO, afirmaram que o projeto tinha pontos de captação e dispersão coincidentes com alguns cabos submarinos, em sua primeira versão.
Após o recebimento da carta náutica apontando a posição dessa rede, uma segunda versão do projeto foi apresentada estabelecendo uma distância de aproximadamente 40 metros em relação a esses cabos.
Renan Carvalho destacou que “a localização de uma planta como essa, de uma tomada de água para dessalinização, não é só onde tem mar, não! É onde tem as condições necessárias e suficientes para tal.
Na costa de Fortaleza, a escolha pela Praia do Futuro não é por capricho nosso! É porque ali é onde você tem as correntes marinhas adequadas e onde você tem capacidade de captar a melhor água, a mais adequada”.
A captação, a propósito, deve ocorrer a 1.300 metros de distância da orla e a dispersão da salmoura a 800 metros.
Voltado a falar sobre as idas e vindas do projeto, num segundo momento, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) também teria intervindo e apresentado parecer negativo ao projeto, tal como estava, e recomendado a ampliação dessa distância para 500 metros.
Com isso, foi realizado uma terceira modificação no projeto, com os pontos de captação de água do mar e dispersão de salmoura migrados para uma área próxima à rua Visconde de Cairu, já no bairro Vicente Pinzón e, próximo à comunidade do Titanzinho e da área de abrangência do Porto de Mucuripe.
Segundo Carvalho, por conta da mudança no projeto, foi preciso realizar “várias análises e um acompanhamento por meses da qualidade de água. Então, é por isso que teve esse atraso de um ano. A gente afastou o ponto de captação em 500 metros”.
Freitas complementou dizendo que a alegação de que a obra poderia danificar cabos “é um medo abstrato, que não faz o menor sentido” e alfinetou as empresas contrárias ao projeto. “Argumento técnico para não ser feita a obra não existe. Só se eles inventarem”, disse.
O terreno para construir a estação elevatória, que receberá a água do ponto de captação e a levará por meio de uma adutora para a Planta de Dessalinização propriamente dita, já foi desapropriado a um custo de R$ 12 milhões. No total, a construção da obra até que ela esteja apta para atender a população é de R$ 526 milhões e gerar 600 empregos diretos. Além disso, o consórcio se compromete a investir R$ 3 bilhões, ao longo de 30 anos, após a usina entrar em operação.
A Cagece, por sua vez, se compromete a comprar o líquido purificado para o consumo humano, que terá capacidade para acrescentar diariamente 86,4 milhões de litros de água potável no sistema de abastecimento de água de Fortaleza, o que corresponde a pouco mais de 720 mil pessoas beneficiadas, ou 12% da oferta na região metropolitana.
Serviço
Audiência pública
Data: 25 de agosto, 9h30
Local: R. Renato Braga, 203, Vicente Pinzon, Sede social Clube do Sindissétima