O conteúdo do Plano de Trabalho Trienal do Programa Nacional de Hidrogênio também não agradou por completo o setor produtivo. Os principais investidores em hidrogênio verde (H2V) do hub do Pecém apontam a necessidade de mais especificações técnicas a partir do uso das tecnologias e, principalmente, mais rapidez e incentivos pelo governo federal.
A publicação agrada por trazer marcos temporais e ações já em andamento, mas não convence pela falta de um marco regulatório e pelo próprio marco temporal não reconhecer as vantagens do Nordeste brasileiro, em especial, o Ceará.
"Parece um plano muito generalista. Não tem um viés claro por tecnologias, então, vê no mercado de hidrogênio como um todo. Por ser generalista nas tecnologias que vai beneficiar é generalista nos benefícios também", analisa Alisson Camargo, gerente de hidrogênio verde da AES Brasil.
Em Fortaleza para o Proenergia Summit 2023, que ocorreu na semana passada, o executivo classificou como "uma grande sombra para o investidor" a falta de uma regulamentação e também a ausência de benefícios para a autoprodução de hidrogênio. Ou seja, para empreendimentos que atuam em várias etapas da cadeia produtiva. A AES, por exemplo, possui parques de geração, além de projetar uma planta de eletrólise no Pecém.
"Nós dependemos muito de saber qual é a visão, qual é a estratégia do governo e qual que vai ser o apoio do Estado para facilitar esses projetos no Brasil", observa Vinícius Santos, especialista de energia em projetos de hidrogênio da Qair Brasil. Também na feira, ele ressalta que um indicador de planos mais detalhado facilita a definição de investimentos pela empresa, desde a captação de recursos até a aplicação deles - os quais têm o Ceará como foco.
Já a Fortescue observa que "a criação de programas e incentivos para avançar rumo à transição energética é essencial para acelerar o desenvolvimento da indústria do hidrogênio verde e o necessário". A mineradora australiana é responsável pelo maior investimento do hub no Pecém, estimado em US$ 6 bilhões.
Em nota ao O POVO, a empresa ressalta que a criação do Programa Nacional de Hidrogênio é um passo significativo para tornar o Brasil um polo produtivo global e assinala "o compromisso de trabalhar em conjunto com autoridades governamentais e outros atores para construir uma indústria competitiva que contribua para a transição energética global e promova o crescimento e a criação de empregos para a economia cearense".
Todas as empresas consideram os esforços já feitos pelo Ceará como assertivos para a promoção do hub local. Incentivos, infraestrutura e ambiente de negócios são elogiados pelas empresas, que ainda reforçam a ideia de que o Estado consegue se colocar à frente dos demais polos brasileiros. "Acho que o Ceará tem sido um grande apoiador dos projetos de hidrogênio aqui no Brasil e acho que é isso, eles têm nos ajudado muito e a gente está numa parceria que está no caminho certo", conclui Alisson Camargo, diretor da AES Brasil.