O lançamento do ChatGPT em novembro do ano passado causou alvoroço entre as grandes empresas de tecnologia (bigtechs), o mercado e a academia, com a discussão sobre eventuais riscos que um uso indiscriminado da inteligência artificial (IA) poderia trazer à sociedade.
Passados quase 10 meses, os temores mais catastróficos, inclusive das bigtechs, deram lugar a uma intensa movimentação de concorrentes, como o Google, que também lançou sua própria plataforma de IA. Foi o que ocorreu em 6 de fevereiro, com o anúncio da criação do Bard.
Do pessimismo inicial, a visão sobre as alternativas que esse tipo de tecnologia pode trazer para as empresas e para o consumo de informações, produtos e serviços mudou, principalmente após investimentos feitos em segurança de dados. No caso específico do Bard, o Google anunciou, no último dia 19, a integração da nova plataforma com o Gmail, o Docs, o Maps e o YouTube.
Para entender essa rápida transformação e o potencial de desenvolvimento da inteligência artificial, entre outras ferramentas voltadas para pequenas e médias empresas, O POVO conversou, de forma exclusiva, com o gerente sênior do Google no Brasil, Edson Sousa Júnior.
Confira a entrevista na íntegra!
O POVO - Muito tem se falado sobre a inteligência artificial. Qual o potencial que ela tem para alavancar pequenos e médios negócios?
Edson Sousa Júnior - Olha, a inteligência artificial tem muito potencial porque a gente está no começo de uma utilização dessa tecnologia mais amplamente pela população. Para as empresas também é só a pontinha do iceberg, vamos dizer assim. Eu imagino que a gente está em um ponto agora, de cada vez mais e de forma mais rápida, ver novas soluções para pequenas empresas, também surgindo a partir dessa tecnologia. Então, existem dois lados da inteligência artificial que a gente fala: a generativa, que é para criar coisas. Por exemplo, o empresário consegue criar imagens, cartazes, anúncios, textos, materiais. Ou seja, a generativa é para todo tipo de criação de forma mais escalável. Existe também a IA para relatórios e para inteligência de dados, que traz um poder de análise que a gente também nunca teve. Ela vai ser cada vez mais aperfeiçoada.
OP - Como o Google quer se posicionar nesse mercado?
Edson - O Google, como empresa, vem trabalhando a tecnologia de inteligência artificial desde 2016. A gente já se lançou publicamente como uma empresa AI-First. A empresa quer olhar para a inteligência artificial com bastante cuidado, respeito, segurança e também com bastante inovação. Então, de 2016 para cá foi só evoluindo. Lembrando que, como empresa, a gente quer simplificar isso. Então, a gente quer essa super tecnologia de ponta e muito avançada na mão do consumidor. Que o cidadão comum possa utilizar essas ferramentas diariamente. Então, por isso, que a gente trouxe o Bard para o Brasil. Essa nossa solução teve novidades implementadas nesta semana (no último dia 19), inclusive, de busca por imagem de referências, em relação ao uso da câmera, por busca de tipos de texto etc. Fizemos parcerias também com outras ferramentas para poder complementar a resposta que é dada ali.
OP - O quão rapidamente o uso da inteligência artificial deve se popularizar?
Edson - Essa é uma ferramenta gratuita que está disponível para todo mundo, já. Agora! Não é uma coisa do futuro. Eu acho que assim como o Bard tem lançado essas novas funções vai ser cada vez mais comum nos próximos meses a gente ter novidades. Com certeza, a cada mês, vamos ter novidades de ferramentas ou de soluções, seja para criar ou seja para analisar. Então, são esses dois lados da inteligência artificial, podendo ajudar os empresários.
OP - Tão logo essas ferramentas de inteligência artificial passaram a chegar ao alcance do usuário comum surgiu a preocupação com a segurança. Como o Google tem lidado com isso, tanto na questão dos dados pessoais, quanto em evitar propagação de fake news e discurso de ódio?
Edson - A questão da segurança e privacidade são elementos que passam por toda nova criação de produto dentro do Google. Então, isso é algo que a gente vem fazendo desde antes da legislação existir, seja a LGPD, no Brasil, ou a GDPR lá na Europa. O Google já vem trazendo ferramentas de controle de privacidade, de controle de anúncios, de identificação do que pode ser deletado etc. Se você quiser baixar os seus arquivos também, você tem a propriedade sobre o seu conteúdo, ali. Ou seja, isso o Google já fazia desde antes dessas legislações. O que a gente fez foi reforçar e dar ainda mais controles e ainda mais possibilidades para cada pessoa em relação à sua informação. E aí é essa mesma cabeça de ser cuidadoso em relação ao avanço tecnológico, o que a gente tem feito com a inteligência artificial também. Eu acho que é um caminho mais seguro, que é você ter bastante cuidado com cada avanço que você faz, entendendo quais os usos que podem ser feitos dessa tecnologia. Então, aí a gente vai dedicando bastante testes para isso e bastante gente envolvida também, de diversos segmentos, por entender que a gente pode dar um passo de cada vez com segurança e que seja útil. Relembrando, que a nossa missão é organizar as informações do mundo e torná-las úteis e acessíveis.
OP - Falando em outras ferramentas muito utilizadas no mundo corporativo, vocês divulgam anualmente um relatório de impacto econômico. O que podemos destacar do levantamento feito neste ano?
Edson - O relatório de impacto econômico mede o que as empresas, sejam pequenas, médias ou grandes, geraram na economia do Nordeste, considerando o uso das ferramentas do Google. Então, por exemplo, o relatório considera os anunciantes que usam o Google Ads para gerar para trazer mais clientes e o retorno que eles tiveram em vendas com esses anúncios. Então, isso faz parte da conta. A mesma coisa também acontece com relação aos criadores de conteúdo no YouTube. Por exemplo, no Nordeste a gente tem muita gente que produz conteúdo no YouTube e é remunerado por isso pela plataforma. Isso também entra na conta assim como os criadores e desenvolvedores de aplicativos. Então, a gente tem a Google Play, que é uma enorme loja de aplicativos online pelo Android, e a gente consegue remunerar também os desenvolvedores de aplicativos. Então, somando todas essas ferramentas, incluindo a loja de aplicativos, o YouTube e a própria busca do Google, levam a oportunidade ao empreendedor de se relacionar com novos negócios e novas empresas. Esse cálculo de impacto econômico, que já é um estudo que o Google faz há alguns anos, e todo ano a gente reporta, desde 2018. E, nesse ano, a gente conseguiu trazer essa quebra por região. Essa foi uma novidade: trazer o impacto econômico regionalmente. Então, a gente tem R$ 26,4 bilhões no Nordeste e R$ 153 bilhões no Brasil. Cerca de 17% de representatividade.
OP - Você citou algumas dessas ferramentas. Quais você destacaria como as mais utilizadas por pequenos e médios empresários?
Edson - Esse perfil de pequenas e médias empresas, eu tenho o prazer de trabalhar há mais de 10 anos no Google. O que a gente observa é que o ponto de partida deles é a ferramenta gratuita do perfil de empresa no Google. Essa é a forma que eles têm de colocar a empresa no mapa e na busca. Então, essa é uma das ferramentas mais utilizadas. Depois disso, a própria ferramenta do Google Ads é muito utilizada também por essa fatia das empresas que são um motor de crescimento para o Brasil, que são as pequenas e médias empresas. Elas conseguem usar porque é uma ferramenta de publicidade que eu diria ser a mais democrática pois seja quem tem R$ 10 para investir ou quem tem R$ 1 milhão para investir tem acesso à mesma tecnologia e o mesmo poder de segmentação de audiência, de público, de criação. Até porque a ferramenta está muito automatizada e consegue ajudar o pequeno empreendedor a criar os seus anúncios com custo zero, de forma muito prática. Então, isso é algo muito utilizado também por esse segmento de empresas.
OP - Nesse sentido, o Google Ads é talvez uma das mais antigas e consolidadas ferramentas do mercado. O que você destaca como principais evoluções da plataforma nesse período?
Edson - Em mais de 20 anos de Google Ads, muita coisa evoluiu e a gente foi evoluindo junto com o próprio consumidor. Foi evoluindo a forma de utilizar a tecnologia. Uma das principais mudanças nesse percurso foi justamente o uso do celular. Ele foi um grande divisor de águas, porque a gente tinha um acesso muito focado em computadores e a gente pode dizer que há cerca de 7 anos, principalmente, começou a dar essa virada de computadores para celulares. Isso muda também o que a gente tem de espaços publicitários, muda o que a gente tem de interação com as mídias, criaram-se muitos novos formatos. A partir daí foram criadas muitas novas oportunidades de mensuração também. Para você ter uma ideia, só por causa do celular e a capilaridade de todo mundo ter um celular com GPS na mão, a gente consegue também fazer uma mensuração gratuita para as empresas, de visitas às lojas, por exemplo. Então, cada empresário, desde quem tem uma loja a quem tem centenas de lojas, consegue saber quantas visitas ocorrem por dia, por semana e por mês, graças a essa ferramenta.
OP - Por fim, já é tradicional a divulgação dos termos e assuntos mais buscados pelo Google anualmente. O quanto esse tipo de informação pode ajudar também o pequeno empresário?
Edson - Essa ferramenta, que é chamada de Google Trends com as tendências de busca pelo Google, eu digo que é a pesquisa de mercado mais barata e acessível do mundo. Essa é a forma que eu defino, porque seja pequeno, médio ou grande, o empresário tem acesso a entender quais são as maiores buscas em volume, mas também quais são as buscas em tendência de crescimento. Então, você consegue ver o que está em ascensão nos últimos sete dias, nos últimos seis meses ou no último ano. Você pode mudar o período e o local, então, isso dá um poder de pesquisa de mercado e de tendência que a gente nunca teve tão disponível e gratuito, na mão de um empreendedor.