Apesar do crescimento da aviação regional brasileira, ampliando o arco de municípios atendidos, o setor ainda encontra desafios. E observar a dinâmica dos Estados Unidos, o maior mercado aéreo do mundo, pode trazer algumas respostas.
Lá, os dez principais aeroportos movimentam por ano praticamente o dobro de sua população (627,4 milhões de passageiros). No Aeroporto de Atlanta, por exemplo, foram transportados mais de 93,7 milhões de passageiros em 2022.
Já no Brasil, somando os mercados doméstico e internacional, foram transportados 98 milhões de passageiros em 2022. O número de voos cresceu 40% no ano passado em relação a 2021.
Os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) revelam que foram realizados em 2022 cerca de 830 mil novos voos no País. Alta de 39% em um ano.
Até maio, o Brasil operava com 9.696 aeronaves, crescimento de 2,5% em relação a 2021. A frota inclui turboélices, jatos e helicópteros. Os jatos executivos também tiveram aumento ( 7,4%), chegando a 811 unidades. Os principais crescimentos percentuais foram nas frotas de helicópteros ( 6,4%) e aeronaves turboélices (12,6%).
O que diferencia esses dois mercados é a capilaridade e tamanho do setor aéreo dos Estados Unidos, que, a partir da desregulação, permitiu a formação de três modelos de negócios principais: o legacy carriers (empresas tradicionais), as LCCs (Low Cost ou companhias de baixo custo) e as regionais.
As empresas do modelo legacy comandam entre 65% e 70% do tráfego doméstico, enquanto as LCCs ficam com 25% a 30% e as regionais com 5% a 10%. No entanto, embora as regionais respondam pela menor parte do tráfego, elas têm participação de mais de 50% das frequências de voos.
No entanto, nos últimos anos, um processo de hibridização do mercado aéreo dos Estados Unidos tem ocorrido. Conforme relatório produzido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos últimos cinco anos, as empresas têm buscado mesclar características.
O relatório usa como exemplo o caso da Southwest Airlines, tradicional companhia que passou a vender voos internacionais por meio de codeshare com a canadense WestJet. Também foi o caso da companhia regional Republic que adquiriu a low cost Frontier.
Alessandro Oliveira, professor do ITA especialista em Transporte Aéreo, enfatiza que a predominância de três grandes empresas no mercado - que são profundas conhecedoras do seu funcionamento - até inibe a entrada de entrantes, a não ser que seja muito lastreada em investimentos.
Isso acaba afetando a aviação regional. "A aviação regional tem característica mais próxima de monopólio. Mas, claro, se tivéssemos uma empresa que explorasse rotas diferentes como há nos Estados Unidos isso pode gerar uma corrida por mercados não antes explorados", pontua Alessandro, lembrando que a baixa concorrência limita rotas e gera preços mais altos.