O interesse dos cearenses em empreender motivou outra iniciativa na estratégia municipal de ocupação de espaços públicos requalificados na periferia. Para atuar em parques, como o Rachel de Queiroz, ou mesmo na avenida Beira Mar, cada empreendedor precisa passar por uma qualificação. A exigência fez da capital cearense líder na capacitação de pessoas em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Foram 33.714 pessoas com acesso a informações sobre como conduzir o negócio, gestão contábil, marketing e outros conteúdos essenciais para assegurar a sobrevivência e o crescimento dos negócios. O número, resultado do programa Fortaleza Capacita, supera as duas outras capitais que possuem convênios semelhantes com o Sebrae: São Paulo (24.933) e Salvador (5 mil).
"A gente tem que utilizar uma metodologia bem participativa, bem dinâmica, de forma que consiga manter essas pessoas em sala de aula, que é um grande desafio. Depois que eles passam por isso também oferecemos as consultorias de capacitação de plano de negócio, de 8 horas, e ainda temos outras consultorias individuais, de até 15 horas", diz Rebeca Alcântara, analista do Escritório Regional Metropolitano de Fortaleza do Sebrae e gestora do convênio Fortaleza Capacita.
O programa conduz 30 turmas semanais de treinamento no convênio de R$ 16,5 milhões de investimento apenas pelo Sebrae, cuja meta é chegar a 120 mil empreendedores atendidos até o fim de 2024, na cidade.
"A grande maioria, como todo empreendedor, põe um negócio mais por necessidade do que por oportunidade", conta, destacando que o contato direto é com uma camada da população que sequer tem a instrução básica necessária para o aprendizado.
Isso fez com que o Sebrae capacitasse também os seus técnicos e consultores, os quais estavam acostumados com conteúdos mais aprofundados sobre gestão empresarial. Assim, mais de 100 deles tiveram que adaptar o conteúdo programático para atuar com os empreendedores dos bairros.
Iniciados pelo Fortaleza Capacita, os empreendedores ingressam numa jornada de aprendizado e também contam com outras oportunidades de estímulo ao crescimento, como destaca o secretário municipal Rodrigo Nogueira (Desenvolvimento Econômico).
A depender do perfil e do interesse profissional dos atendidos pelo primeiro programa municipal de qualificação, eles são direcionados a outras iniciativas. As principais são: o Nossas Guerreiras, voltados a mulheres chefes de família, que oferta crédito orientado a partir de R$ 3 mil, e o Fortaleza Futuro, focado em qualificação profissional em cursos de até 400 horas aula em parceria com Senai e Senac.
Os programas, na prática, funcionam também como canais de comunicação entre a Prefeitura e os empreendedores. Estimular e fortalecer canais com a população é defendido por José Borzacchiello da Silva, do Laboratório de Planejamento Urbano da Universidade Federal do Ceará, como uma das medidas primárias do poder público. A partir da troca de ideias são asseguradas as necessidades para que os objetivos mútuos, com destaque para os beneficiados, sejam alcançados.
"Nós estamos falando de um povo excessivamente trabalhador, perspicaz e que tem muita habilidade. Ele tendo condição, vai empreender. Os carrinhos e as barraquinhas como os da Feirinha da Beira Mar são prova da insistência desse pequeno empreendedor cearense. Na renovação daquele espaço físico, eles conseguiram uma vitória fantástica, eles têm um espaço fixo no espaço mais valorizado da cidade", exemplifica o professor.