Líder em geração de empregos formais no Norte e Nordeste com mais de 13 mil novas vagas abertas no primeiro semestre e abertura de negócios no Ceará, em que mais de 55 mil empresas foram iniciadas em 2022, Fortaleza desponta em relação a outros indicadores.
Atualmente, a Cidade é a que mais recebe Bolsa Família no Estado (com repasse superior a R$ 227,7 milhões para mais de 340 mil famílias, segundo a União) e há potencialização, formação e acesso ao trabalho, sendo maior em geração de empregos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
E, no caso de chefes de família, a costura parece ser uma solução viável, vide o DNA cearense no setor de confecção já mostrado nesta série de reportagens.
O titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) de Fortaleza, Rodrigo Nogueira, aponta que, com a maior oferta de formação profissional nos bairros, a Capital tem liderado o processo de geração de postos de trabalho.
Atualmente, Fortaleza mantém a marca de 8% no índice de desemprego da população, percentual menor do que o das outras grandes capitais nordestinas (Salvador-BA e Recife-PE). Segundo avaliações consolidadas, o nível de pleno emprego é quando o índice permanece estável abaixo de 6%.
Dentro dessas iniciativas de formação profissional promovidas pela gestão municipal, destaque para parcerias com o Senai, Senac, Sebrae e Fundação Demócrito Rocha, em programas como o Fortaleza + Futuro que prevê beneficiar 15 mil pessoas com qualificação em áreas como moda, gastronomia, saúde, beleza, gestão, tecnologia e idiomas.
"Nesses 35 meses de gestão vemos a diferença, pois são mais de 100 mil empregos gerados e a qualificação auxilia tudo isso. É empreendedorismo na veia e o segredo é qualificar o pequeno empreendedor", destaca o secretário.
Rodrigo pontua ainda que esse movimento de ampliação das qualificações, sendo que 90% são realizadas na periferia, contribui para que mais pessoas não dependam do Bolsa Família e busquem o emprego formal ou empreender.
Neste contexto, destaca Rodrigo, o papel do setor de moda, confecção e têxtil é fundamental. Há vocação para esse tipo de manufatura e o apoio de programas governamentais visa potencializar esse movimento.
O projeto Costurando o Futuro, lançado pela Prefeitura em dezembro de 2021, visa oferecer a estrutura de ateliês em formato coworking, disponibilizando máquinas de costura para promover a inclusão produtiva. Cerca de 20 mil pessoas já foram beneficiadas.
Atualmente, existem 11 ateliês espalhados na Cidade, mas, segundo a SDE, a perspectiva é chegar a 15 até o fim do ano. Entre esses novos ateliês, deve ser inaugurado o equipamento na região do bairro Antônio Bezerra, onde ficava localizada a planta industrial da Guararapes, fechada no início do ano.
O programa preza pela troca de experiências entre as participantes. Saber todas as técnicas da costura não é primordial, pois nos espaços há monitorias como a de Jana Moura, designer de moda e professora de costura.
Ela conta que dedicou a vida à atividade, é filha de costureira e que agora tem o prazer de distribuir suas experiências. A maioria das participantes do programa, destaca Jana, são mulheres, mães solo.
A costura é sobrevivência na vida dessas mulheres, que dividem o dia entre os afazeres domésticos, cuidado com os filhos e a atividade. Mas, conta ela, a realidade da maioria na costura era limitada pelo alto custo das máquinas.
Para conseguir fazer uma entrega de coleção é necessário possuir pelo menos três tipos diferentes de máquinas de costura e corte. O custo desse maquinário pode variar entre R$ 6 mil (se os equipamentos forem usados) até R$ 10 mil, estima Jana.
Jana destaca que a experiência no programa é transformadora pelo caráter colaborativo. As máquinas de qualidade industrial são disponibilizadas de forma simplificada e trocas de experiências e cursos são cotidianos.
A estrutura física dos ateliês também são diferenciais em comparação com as pequenas confecções, destaca Jana, lembrando que muitas costureiras não têm acesso a ambientes de trabalho saudáveis e com infraestrutura adequada.
"Conheci o projeto por um panfleto, me apaixonei e entrei há um ano e oito meses. Ouvimos cada história dessas costureiras. São mulheres de verdade, a maioria são mães solo, mães atípicas com filhos especiais, que não podem trabalhar numa empresa e aqui no programa têm essa oportunidade", afirma Jana.
Como forma de ampliar o apoio às costureiras que participam do programa, a Prefeitura também lançou os Empreendimentos Solidários, projeto em parceria com a Fundação Demócrito Rocha e financiado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
A ação é destinada para profissionais da área de costura ou que tenham interesse em empreender nesse setor.
No que diz respeito às oportunidades de trabalho no setor de confecção e produtos têxteis, o Ceará ainda vive momento de instabilidade no mercado de trabalho formal.
Segundo dados do Ministério do Trabalho (MTE), entre janeiro e setembro, o setor de confecções demitiu mais do que contratou, gerando saldo de 1.725 empregos a menos. No setor têxtil, o saldo é positivo em 434 novos postos de trabalho.
O titular da Secretaria do Trabalho do Ceará, Vladyson Viana, explica que o impacto da saída da Guararapes do mercado cearense com fechamento de sua fábrica em Fortaleza, gerou uma grande cicatriz.
Ele destaca, que, no entanto, em meio ao cenário negativo observa um movimento crescente de empreendedorismo.
"Além de trabalhar para atrair um novo investimento para o Estado para ocupar aquele espaço, temos investido no microcrédito orientado, conversando com as costureiras que querem desenvolver uma produção própria", esclarece.
Para Sílvio Moreira, gerente da Unidade de Competitividade dos Negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE), existem desafios importantes para os negócios do setor.
A informalidade é latente e leva a déficits estruturais na produção, diminuindo a produtividade e qualidade dos produtos confeccionados. Sílvio ainda destaca outro ponto primordial: o acesso a crédito.
"Na condição de informalidade, muitas empresas desse setor não tem acesso a crédito. Nessa condição, uma série de problemas para sustentabilidade da empresa aparecem", analisa.
Para corrigir essa situação, Sílvio destaca que o Sebrae possui um serviço de consultoria exclusiva, contribuindo com a melhoria do produto, por exemplo.
Esse tipo de ação já foi desenvolvida em parceria com o Centro Fashion, o que permitiu regularizar vários negócios. Mas não é só esse projeto.
"Temos um conjunto de aproximadamente 50 empresas sendo preparadas para entrarem no marketplace do Centro Fashion", diz.
As redes sociais se tornaram parceiras indispensáveis no sucesso de qualquer negócio. Aparecer bem para um público cada vez mais conectado é o objetivo e o talento de comunicar bem neste mundo pode render bons frutos.
Com dez anos de experiência no mercado de moda, a influencer Eryka Nobre (@erykanobre) possui mais de 66 mil seguidores no Instagram e vídeo com quase 1 milhão de visualizações no Tiktok.
Essa trajetória online começou com um blog sobre moda. Mas, quando as redes sociais começaram a "bombar", viu a oportunidade de aquilo virar um meio de vida.
Ela conta que, a partir da experiência adquirida, começou a se relacionar com as marcas e expandir parcerias. Hoje, Eryka tem um pacote de serviços ofertado às lojistas parceiras, de forma a atender a todos os orçamentos.
"Eu prezo muito pela minha imagem, estou há muito tempo neste mercado. Mas eu não esqueço nunca dos meus primeiros R$ 100 conquistados neste mercado", explica.
E confidencia: "Hoje, somente pela minha presença recebo entre R$ 600 e R$ 800 e para mim é uma vitória muito grande. Até um tempo atrás, as pessoas não confiavam muito, não acreditavam. Agora vemos o quanto a internet pode mudar vidas de quem luta pelos seus sonhos".
Um convite para ensinar crochê para um grupo de costureiras foi o que apresentou o programa Costurando o Futuro à Mércia Veras, 52. O que era para ser uma aula, virou troca de experiência e Mércia hoje é aprendiz de costureira.
A partir da experiência, a até então dona de casa passou a alimentar novos sonhos e planos. Por duas vezes na semana está ensinando voluntariamente e aproveita para confeccionar peças no ateliê.
"Existem meninas que nem sabiam manusear uma agulha quando chegaram e hoje já participam de feira, vendem seus produtos. Eu também já vendi produtos que eu mesma produzi e, para mim, é bem gratificante", diz.
O próximo passo, destaca Mércia, é juntar as habilidades no crochê e na costura para lançar uma coleção autoral.
Mas o sonho Mércia planeja mais para o futuro: Montar uma lojinha de aviamentos e acessórios.
O ano de 2023 para o setor de confecção e têxtil começou de forma desafiadora: demissão de cerca de 2 mil funcionários da Guararapes e o encerramento das atividades de suas três unidades fabris no bairro Antônio Bezerra.
A ampla maioria das demitidas foram mulheres costureiras. O grupo, que é dono da varejista Riachuelo, era um dos mais antigos grandes industriais do setor, tendo chegado ao Ceará há aproximadamente 40 anos, e recebia incentivos fiscais - inclusive havia uma negociação em andamento com o Governo do Estado para permanência.
No entanto, optaram por encerrar suas atividades no Ceará e centralizar a produção no Rio Grande do Norte. Na época, além das rescisões, as funcionárias demitidas receberam uma máquina de costura industrial.
A partir daí, um vácuo ficou. Tanto Estado quanto Prefeitura passaram a se movimentar para buscar um novo investimento para área que pudesse gerar novos empregos para as desempregadas, assim como houve o lançamento de programas governamentais para gerar novas oportunidades para as costureiras.
Foi neste contexto que um movimento nacional gerou expectativas: o anúncio de acordo para nacionalização da produção da Shein no Brasil. A gigante chinesa, até então concorrente, buscaria parceiros nacionais para atender sua demanda no País.
A operação da Shein no Brasil iniciou um processo de nacionalização da produção neste ano. Serão estabelecidas parcerias com 2 mil fábricas brasileiras, num processo que deve gerar 100 mil novos postos de trabalho nos próximos três anos.
O investimento da Shein neste processo é de, inicialmente, R$ 750 milhões. Até 2026, a Shein quer que cerca de 85% de sua produção seja local, tanto de fabricantes quanto de vendedores.
Atualmente, já são 300 parceiros, sendo que 213 fabricantes já estão confeccionando produtos "made in Brazil" no catálogo da Shein.
Fabiana Magalhães, diretora de Produção Local da Shein, destaca que o número de parceiros no Ceará já está próximo de dez e a lista de potenciais fabricantes pode aumentar.
Há negociações com outros 15 a 20 potenciais novos parceiros. A executiva destaca o histórico do Ceará neste mercado e seus diferenciais competitivos.
"Tenho bastante tempo de indústria, então conheço a potência do Ceará na produção de vestuário. Por isso, nada mais natural do que procurar esses parceiros", afirma.
Ainda segundo Fabiana, alguns estilos próprios da produção cearense estão no alvo da Shein, como o trabalho das rendeiras.
No futuro, a multinacional projeta exportar esses produtos para todo mercado das Américas, mas, por enquanto, o foco principal é no estabelecimento das parcerias e troca de experiências.
"Um dos nossos objetivos é fortalecer a indústria local trazendo toda nossa tecnologia e uma metodologia diferente de uma varejista global online", pontua.
A titular da Secretaria de Relações Internacionais do Governo do Ceará, Roseane Medeiros, avalia positivamente o processo de aproximação da empresa de tecnologia multinacional chinesa. A inclusão de parceiros cearenses e a aproximação da diretoria com a gestão pública e indústria local.
Ela destaca a articulação em conjunto entre o Governo e os sindicatos empresariais da indústria. A Shein tem origem chinesa e aquele país é visto de forma reticente pela indústria local, já que o montante de importações de produtos chineses tem crescido nos últimos anos.
Na avaliação de Roseane, não há espaço para qualquer medida que prejudique ou faça a indústria local perder em relação aos concorrentes estrangeiros. A troca de experiência, acrescenta, também deve ser positiva, vide as experiências já observadas pelo Ceará em outros segmentos, como o de tecnologia.
"Esses acordos de colaboração têm acontecido em função do novo momento, já que os chineses buscam novos mercados e, no Ceará, temos o objetivo muito claro de criação de oportunidades de emprego e renda, principalmente no Interior", destaca.
A proporção de microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) chega a 93% do total de empresas atualmente em atividade no Ceará.
De acordo com cálculo da Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec) com dados até setembro, são 730,8 mil MEs e 18,3 mil EPPs. Neste recorte de empreendimentos, destaque para Fortaleza, que tem 188,1 mil micro ou negócios de pequeno porte.
As outras cidades cearenses que aparecem na sequência desta lista são Caucaia e Maracanaú, cada uma com 16,4 mil e 13 mil, respectivamente.
A presidente da Junta Comercial, Carolina Monteiro, destaca que o quantitativo de 749.165 empresas ativas sendo micro e pequenos negócios geram um movimento positivo na economia do Estado.
Isso é muito importante, é o que movimenta o País e gera cada vez mais empregos para a população”, afirma Carolina, destacando que há um processo de aperfeiçoamento da Jucec para que o processo de formalização dos negócios seja mais simples, mas respeitando as legislações.
"Dispomos de ferramentas de Inteligência Artificial para ajudar os empreendedores, para fazer mapeamento do mercado e são desenvolvidas novas tecnologias e produtos que atraem o investimento", pontua.