Logo O POVO+
Congresso promulga reforma tributária após mais de 30 anos de debates
Economia

Congresso promulga reforma tributária após mais de 30 anos de debates

| Imposto sobre consumo| Sessão solene teve a participação dos presidentes dos três poderes da República. Desafio agora é a regulamentação dos impostos por leis complementares
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, encabeçam sessão de sanção da reforma tributária (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Foto: Ricardo Stuckert/PR Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, encabeçam sessão de sanção da reforma tributária

Em sessão solene, o Congresso Nacional promulgou ontem a maior reforma tributária desde a ditadura militar. A emenda constitucional que muda a tributação sobre o consumo no País foi aprovada na última sexta-feira, 15, após mais de 30 anos de debates.

O desafio agora será a regulamentação por meio de leis complementares, que serão enviadas pelo governo ao Legislativo em 2024.

A cerimônia de promulgação contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

"É hoje e aqui que mudamos a trajetória do País. É uma conquista do Congresso e do povo brasileiro", afirmou Pacheco. "Mesmo com tanta dificuldade de se chegar a um novo texto, a reforma tributária se impôs. O Congresso aprovou a reforma porque não havia mais como adiá-la."

Lula afirmou que, com a aprovação da reforma, o Congresso demonstrou "compromisso com o povo brasileiro". "Não precisa gostar do governo, gostar do Lula, mas guardem essa foto, e se lembrem: contra ou a favor, vocês contribuíram para esse País, na primeira vez no regime democrático, (ao) aprovar uma reforma tributária."

Nem a sessão solene, geralmente mais atenta a liturgias, escapou da disputa entre governo e oposição, com parlamentares alternando gritos de guerra e xingamentos. De um lado, governistas gritavam "Lula, guerreiro, do povo brasileiro". De outro, se ouviam gritos de "ladrão".

"Esperava que seria um dia de consagração (...). Pediria a essa Casa que se terminasse essa sessão com o maior nível de respeito possível.", pediu Lira. "Foram 40 anos de espera que transformaram nosso sistema tributário num manicômio fiscal."

A reforma institui o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual: um do governo federal e outro de Estados e municípios. O novo modelo de tributo tem por princípio a não cumulatividade plena, ou seja, impede a chamada "tributação em cascata", que hoje onera consumidores e empresas.

Serão três novos tributos: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), substituindo o ICMS dos Estados e o ISS dos municípios; a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substitui PIS, Cofins e o IPI, que são federais; e o Imposto Seletivo, que incidirá sobre produtos danosos à saúde e ao meio ambiente.

Com essa nova sistemática, a reforma promete colocar fim à guerra fiscal entre os Estados, na qual governadores concedem incentivos tributários para atrair investimentos - uma anomalia brasileira, que se perpetua por décadas.

Com a reforma, a expectativa é de que o Brasil entre num novo ciclo de aumento da produtividade, do investimento e do Produto Interno Bruto (PIB). A mudança, porém, não será de uma hora para outra, pois haverá um período de transição.

O potencial de crescimento é considerado difícil de mensurar, mas a aposta é de que o avanço de se unificar a base de tributação entre bens e serviços será muito maior do que o prejuízo advindo das exceções aprovadas pelo Congresso e que podem levar a alíquota do IVA a uma das maiores do mundo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a Fazenda vai recalcular os impactos das mudanças feitas na Câmara, mas indicou que a alíquota-padrão deve ficar no máximo em torno de 27,5%.

O governo terá um prazo de 180 dias para elaborar os projetos que serão enviados ao Congresso para regulamentar as novas regras de tributação do consumo.

No ano que vem, governo e Congresso também definirão a atuação do Comitê Gestor do IBS, que distribuirá os recursos para Estados e municípios; a composição da cesta básica, de grande interesse do agronegócio e do setor supermercadista; o sistema de cashback (devolução de tributos), previsto para a conta de luz e o gás de cozinha; e Imposto Seletivo. (Agência Estado)

Destino

Também faz parte da espinha dorsal da reforma o deslocamento da cobrança dos tributos da origem (onde a mercadoria é produzida) para o destino (onde é consumida)

O que você achou desse conteúdo?