A Bolsa de valores brasileira, a B3, registrou investimentos de R$ 8,44 bilhões advindos dos cearenses em 2023, de acordo com informações contabilizadas até o dia 2 de dezembro. No Estado, 128,7 mil pessoas possuíam aplicações sob sua custódia no último ano. Aumento de 11,7% ante o número de 2022.
Destas, 100,3 mil são do gênero masculino e 28,3 mil do feminino. Os homens cearenses foram responsáveis por inserir um capital de R$ 6,41 bilhões na bolsa durante o ano passado, já as mulheres dispuseram de R$ 2,03 bilhões.
Este montante fez o Ceará ficar na 9ª posição entre os estados que mais investiram recursos em 2023 no Brasil, representando 1,62% do total nacional, de R$ 522,2 bilhões.
O Estado contou, além disso, com um significativo crescimento de investidores nos últimos cinco anos.
De 2019 a 2023, houve uma alta de 415,22% nos Cadastros de Pessoas Físicas (CPFs) de cearenses na renda variável.
Em 2019, o Ceará contava com 24,9 mil investidores na B3; em 2020, 52 mil; em 2021, 90,8 mil; em 2022, 115,2 mil; e em 2023, 128,7 mil.
O maior avanço foi registrado entre o ano de 2019 e 2020, com expansão de 108,48%. O menor ficou entre 2022 e 2023, com ampliação de 11,66%.
Um desses investidores é o estudante de ciências contábeis da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Davi Oliveira, de 26 anos, que detém ações nos setores de energia, mineração e petróleo, incluindo empresas estatais.
“Diversifico minha carteira para me proteger ao máximo. Além da carteira de renda variável, mantenho uma carteira de renda fixa, dividida entre curto, médio e longo prazo, para atender a diferentes objetivos”, explica.
Davi relata que começou a estudar sobre o mercado financeiro e se introduzir no universo da bolsa de valores por conta própria, ao ter contato com outros investidores no trabalho.
“Sempre gostei de matemática e de ser uma pessoa que poupava, fazendo minhas planilhas, mas nunca havia prestado atenção em investimentos. (...) Hoje, acompanho podcasts, vídeos e notícias quase diariamente para me manter atualizado”, diz.
Na visão de Davi, nunca foi uma opção deixar de estudar para, simplesmente, imitar as ações de figuras públicas famosas no mercado financeiro, como o influenciador, empresário e escritor Thiago Nigro.
“Não há ninguém igual a ele (Thiago), assim como não há ninguém igual a mim. Portanto, é necessário utilizar estratégias que se adequem ao seu perfil em vez de copiar estratégias de figuras públicas”, pondera.
Um outro investidor cearense que preferiu não se identificar perdeu praticamente tudo que investiu na B3, em torno de R$ 5 mil no setor de varejo.
“Investi na Magazine Luiza e Americanas, porque eram empresas enormes aqui no Brasil, e eu jamais pensaria em qualquer tipo de falência, principalmente da Americanas”, onde, segundo ele, havia deixado a maior parte dos investimentos.
“Na época, a Americanas estava envolvida no Big Brother Brasil como patrocinadora, e percebi que, antes do BBB, suas ações tinham um certo valor, mas depois valorizaram bastante. Pensei que fosse ser uma boa, algo interessante. Foi assim que decidi investir”, explica.
Investimento em ações requer planejamento
O economista Érico Veras Marques destaca a importância de estudar e conhecer os investimentos antes de investir. "Saiba que tem um risco, você tem que estar preparado".
"O nome é renda variável, então, na realidade, você pode ganhar mais, pode ganhar menos e pode perder. (...) Você precisa entender no que você está investindo, não vamos cair no canto da sereia de: vou investir na bolsa, vou fazer day trade, vou ficar milionário. As coisas não funcionam assim", alerta.
O docente informa também que investimentos de renda variável, diferentemente dos de renda fixa, não têm previsão de rentabilidade ou data de vencimento. O ganho financeiro, neste caso, poderia vir por meio da valorização das ações ou do pagamento de proventos.
Queda de juros pode levar corrida à bolsa de valores no Brasil em 2024
A taxa básica de juros do Brasil, denominada Taxa Selic, está em um ciclo de queda que pode gerar uma corrida de investimentos na B3, de acordo com o economista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques.
"A aposta do mercado é que as pessoas vão para a renda variável. (...) Já tem gente falando da expectativa que a bolsa (Índice Bovespa) terminaria o final do ano com 145 mil pontos, mas isso tudo é especulação", afirmou o docente.
Isso acontece porque os investimentos de renda fixa, como títulos públicos e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), são atrelados à taxa de juros. Dessa forma, quando a taxa cai, a rentabilidade da renda fixa também tende a ser menor.
Já na renda variável não há previsibilidade de retorno, o ambiente é volátil e de risco. Ainda assim, é visto como uma alternativa entre as pessoas que buscam atingir lucros maiores, independentemente dos perigos de perder dinheiro.
Neste cenário, a B3 enviou dados ao O POVO que mostram que o crescimento de investimentos já tem sido significativo nos últimos anos, tanto em ciclos de alta quanto de baixa nos juros.
De 2019 a 2023, até 2 de dezembro, o número de Cadastros de Pessoas Físicas (CPFs) que aportaram dinheiro no capital aberto brasileiro teve uma alta de 306,7%.
O maior crescimento ocorreu entre o ano de 2019 e 2020, com aumento de 91,47%. Já o menor progresso foi de 2022 a 2023, com acréscimo de 14,23%.
Em 2019, 1,4 milhão de brasileiros investiam na bolsa; 2,6 milhões, em 2020; 4,1 milhões, em 2021; e 4,9 milhões, em 2022.
Em 2023, até 2 de dezembro, a B3 contava com 5,6 milhões de investidores responsáveis por investimentos de R$ 522,2 bilhões.
O estado de São Paulo, neste cenário, foi o que mais investiu em termos percentuais, com 47,04%; seguido por Rio de Janeiro (14,48%) e Minas Gerais (8,80%).