O novo plano para a Indústria, no entanto, é visto com certa reserva por parte dos economistas. Uma das preocupações é o risco de agravamento do quadro fiscal, no momento em que a meta da equipe econômica de fechar as contas deste ano com déficit zero já é vista com desconfiança.
O anúncio teve também impacto no mercado, contribuindo para a queda de 0,81% do Ibovespa, principal índice da Bolsa, e a alta de 1,23% do dólar (a R$ 4,98).
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, afirmou que a política é uma "velha roupagem de coisas que a gente já conhece: uma velha política industrial baseada em usar recursos" públicos.
Vale se refere à política de estímulo à industrialização iniciado no segundo mandato de Lula, que elegeu empresas de setores específicos na chamada política de campeãs nacionais. Além disso, concedeu crédito subsidiado, via BNDES, para compra de máquinas e caminhões e exigiu conteúdo local nas contratações feitas pela Petrobras.
O presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Igor Lucena, vê com preocupação esse papel central do Governo como indutor do desenvolvimento.
"Percebemos que colocar o poder público como grande indutor do desenvolvimento deu errado, principalmente quando gera déficits públicos para realizar obras. Existe essa ideia equivocada de que gastos, ou até mesmo investimentos, necessariamente gerarão aumento do PIB, o que é errôneo", explicou.
Para o economista, há maior possibilidade de haver investimentos bem-sucedidos em parcerias público-privadas. "É a melhor das soluções, isso porque você tem uma visão pública em relação à necessidade social de aplicação de recursos com a participação do setor privado, não apenas investindo, mas principalmente fiscalizando a alocação eficiente dos recursos".
"Acredito que não existe uma política industrial, seja pública ou privada, capaz de resolver todos os problemas. Essas questões são mais profundas e envolvem aspectos como a política educacional. (...) Não podemos repensar uma nova política industrial sem um aumento na produtividade."
Enquanto, para o presidente do Sinduscon-CE, Patriolino Dias de Sousa, há um papel fundamental do poder público como indutor do desenvolvimento industrial, “especialmente quando se trata de superar desafios estruturais e criar um ambiente favorável aos negócios”.
“No entanto, é importante que essa atuação seja pautada pela eficiência, transparência e diálogo com o setor privado. A colaboração entre governo e iniciativa privada é essencial para o sucesso das políticas industriais”, esclareceu.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, rebateu as críticas e defendeu a volta do investimento estatal, alegando que outros países também estão nessa trilha. "Qual nação desenvolvida não está fazendo isso hoje em dia?", questionou. (com Agência Estado)