Com pouco menos de quatro meses desde que assumiu o cargo, o novo presidente da Enel no Brasil, Antonio Scala, fez sua primeira visita ao Ceará ontem, 13, prometendo investir em novas conexões, subestações e linhas de alta tensão.
Na agenda, havia a previsão de um encontro com o governador Elmano de Freitas (PT), compromisso cancelado por conta de problemas de saúde do chefe do Executivo estadual.
Em visita ao O POVO, o novo presidente da Enel no Brasil ressaltou que a companhia atingiu, no ano passado, o seu maior volume de investimentos no Estado, cerca de R$ 1,57 bilhão. Ele não quis detalhar, contudo, quanto dos US$ 3,6 bilhões (quase R$ 17,9 bilhões) que a multinacional pretende investir no País até 2026 serão destinados ao Ceará.
“Claramente, uma das maiores prioridades que nós temos aqui no Ceará é ampliar a quantidade de conexões, mas também vamos continuar investindo para melhorar a qualidade do fornecimento em todas as áreas. Temos um plano de construir novas subestações, de fortalecimento e ampliação das subestações existentes e também de construção de novas linhas de alta tensão”, destacou Scala.
Apesar da promessa de novos investimentos e dos já realizados nos últimos dois anos, a empresa vem sofrendo uma série de críticas de representantes da sociedade civil, setores produtivos e da classe política, principalmente por conta dos episódios de quedas ou oscilações de energia registrados, inclusive, em alguns dos principais pontos turísticos do Estado.
No ano passado, a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias de má prestação de serviço pela concessionária de energia. Também em 2023, a Enel Ceará chegou a comunicar em fato relevante o interesse em iniciar procedimentos para possível venda do controle acionário da companhia.
Ainda em 2023, o grupo empresarial enfrentou problemas semelhantes em São Paulo, onde também foi instalada uma CPI para apurar, principalmente, a demora no restabelecimento de energia elétrica em diversos bairros da capital paulista e região metropolitana.
No contexto da crise verificada nos dois estados e da venda da operação de Goiás em 2022, o então presidente da Enel no Brasil, Nicola Cotugno, anunciou aposentadoria em novembro do ano passado, abrindo espaço para que Antonio Scala assumisse o cargo.
Um dia antes, acionistas da Enel Ceará suspenderam temporariamente o processo de venda da companhia no Estado. Nesse sentido, a nova direção da empresa tem sinalizado a intenção de continuar operando em território cearense.
Ontem, representantes do setor produtivo ouvidos por O POVO voltaram a criticar a qualidade do serviço prestado pela concessionária, embora tenham elogiado a criação de canais diretos da Enel Ceará com empresas e entidades classistas.
O presidente do Conselho de Consumidores da Enel Distribuição Ceará (Conerge), Erildo Pontes, comparou a qualidade do serviço prestado pelo grupo europeu em seu continente de origem com o verificado na capital cearense.
“Não pode dar um sereno em Fortaleza, que a cidade para. Isso não significa que o tempo aqui seja o caos. Na Europa chove, dá trovoada, tem furacão, mas a falta de energia lá é, em média, um décimo da que tem no Ceará”, disse.
Por sua vez, o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, avaliou que “a prestação de serviço da Enel está pior. Faltam equipes para trabalhar no Interior. É um negócio muito sério”.
Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE), Taiene Righetto, a criação de um canal com a Enel amenizou, mas não resolveu os problemas do setor de alimentação fora do lar.
“Mesmo que atenda rápido, essas constantes quedas de energia tem, inclusive, preocupado empresários que pretendiam abrir estabelecimentos aqui em Fortaleza e acabam relutantes por conta dessas falhas”, relatou.
Já o secretário executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), Adão Linhares, afirma que o Estado tem uma relação com a Enel ligada ao Programa de Investimentos Especiais (PIE).
Linhares afirma que a maioria das ações de responsabilidade da Enel ligadas ao programa, contudo, estão atrasadas e cita outros impactos das quedas de energia no Estado.
“Por exemplo, no litoral do Ceará, a maioria dos hotéis têm que ter geradores, porque as subestações da Enel não atende a demanda e a manutenção é mal atendida”, critica. (Colaborou Beatriz Cavalcante)
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