A preocupação com a falta de energia elétrica durante os feriados no Ceará vem ganhando destaque desde o Ano Novo, continuando pelo Carnaval e agora no feriado da Semana Santa. Empreendimentos têm enfrentado prejuízos recorrentes, sem vislumbrar melhorias a longo prazo. A Enel Distribuição Ceará justifica que fortes chuvas impactaram as regiões e que investimentos têm sido feitos para melhorar a rede elétrica.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel), Taiene Righetto, informou que a problemática tem acontecido em “todas as altas temporadas e feriados”. “A Abrasel Ceará está em contato direto com a Enel, e (faz) o apelo para que a Enel forneça um serviço de qualidade, permitindo que o setor de bares e restaurantes opere com tranquilidade”, disse em nota.
A recorrência da falta de energia afeta ainda o Turismo, de acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Régis Medeiros. “Se isso vai ficando uma coisa recorrente, muitas pessoas podem começar a ter medo de ir para as localidades e passar por esse tipo de coisa”. Além disso, muitas das hospedagens não têm condições de adquirir geradores para mitigar o problema, pontuou o gestor.
Em apuração, O POVO conversou com proprietários de hotéis e pousadas no Ceará, que afirmaram ter tido prejuízos com as oscilações elétricas no feriado. Um deles foi o sócio-diretor do Hotel DaMa – localizado na Praia da Colônia, em São Gonçalo do Amarante –, Davide Beneventi, que disse ter perdido todos os hóspedes por uma falta de energia que durou cerca de 40 horas durante a Semana Santa.
Além disso, o hotel contou com perdas de alimentos que precisavam de refrigeração. “Na quarta (27), compramos peixe, camarão, carne, sorvete… tudo para o feriado de Páscoa. Perdemos tudo”, lamentou Beneventi. O empreendimento já havia enfrentado problemas semelhantes no período de Carnaval, algo que já havia afetado a saúde financeira do local.
As oscilações também foram registradas em Flecheiras, no Trairi, pela dona da pousada La Casa Di Pietra, Moira Sibemberg. “O problema é recorrente, a oscilação tem sempre – independentemente de chuva e ocupação. (...) Aqui também já tivemos que reembolsar hóspedes.” No relato, a empreendedora disse que alguns hóspedes entendem a situação, mas, ainda assim, há desconforto.
Para Sibemberg, a preocupação com o bem-estar dos hóspedes vai além do prejuízo financeiro da pousada. “Eles estão pagando caro para poder relaxar, descontrair, se divertir. (A falta de energia) gera um estresse psicológico muito grande e é difícil de traduzir em números”, detalhou a gestora em entrevista.
“De novembro até hoje aqui na pousada, perdemos por causa da Enel quatro ares-condicionados, duas televisões, uma geladeira industrial, um freezer, uma geladeira normal e um micro-ondas. Somos uma pousada pequena, oito quartos somente, um prejuízo muito grande”, acrescentou a dona da La Casa Di Pietra.
As perdas também têm sido constantes para o proprietário da Pousada 3 Abelhas, no Cumbuco, Simone Mellini. “O prejuízo é constante e não para… mundial de kite (esporte aquático), Natal, Réveillon e Páscoa foram completamente estragados, o prejuízo foi de dezenas de milhares de reais”.
Ainda no Cumbuco, o proprietário da pousada Kite Cabana, Alexandre Coelho, afirmou que o Turismo da região está sendo diretamente afetado pelas faltas de energia constantes. “Essas ocorrências vêm se repetindo. Tivemos um alto prejuízo dos hóspedes que foram embora, quase 14 foram embora. Tivemos prejuízos com os alimentos, temos que pagar o pessoal da limpeza, então está sendo muito difícil”.
Já a Pousada Bosque Cumbuco não teve desistências dos hóspedes, mas o prejuízo para eles foi outro. “Nosso maior prejuízo foi ter que dar explicações, rezar para que a luz voltasse para todos (...). Além do prejuízo financeiro, temos um prejuízo que é pouco falado, que são os comentários feitos sobre as nossas praias e a falta de luz e isso é uma coisa irreparável”, de acordo com o proprietário Ricardo Campos Moura.
Em Beberibe, por exemplo, a proprietária de um sítio voltado ao cultivo de peixes, Mara Pinheiro, disse que o local teve que se adaptar por meio da aquisição de um gerador para levar mais segurança ao negócio com as oscilações de energia. “As instabilidades no fornecimento foram ficando constantes”. Guaramiranga também contou com faltas de energia no período do feriado, segundo apuração do O POVO.
Enel Ceará afirma que fortes chuvas afetaram rede elétrica
Descargas elétricas, árvores caídas e postes danificados, atrelados a fortes chuvas, foram os motivos citados pela Enel Distribuição Ceará para as oscilações da rede elétrica no Cumbuco, São Gonçalo do Amarante, Trairi, Beberibe e Guaramiranga durante o feriado da Semana Santa no Ceará.
Os pontos levantados pela empresa ocasionaram danos severos à estrutura da rede, de acordo com nota enviada ao O POVO. A companhia destacou, ainda, que aumentou em 50% o número de equipes para atender as ocorrências nas regiões citadas.
"No Cumbuco, foram realizadas transferências de cargas e a troca de um transformador e o serviço foi restabelecido na noite de sábado (30)", detalhou a Enel. Em relação ao Pecém, em São Gonçalo do Amarante, "descargas atmosféricas afetaram alguns alimentadores da região, porém o serviço foi normalizado no sábado."
Já em Flecheiras, no Trairi, um poste foi danificado e equipes da Enel tiveram que realizar a substituição da estrutura, restabelecendo o fornecimento na noite de sábado. Em Beberibe, as chuvas danificaram aparelhos da companhia, que normalizou a situação no sábado também, segundo nota.
"No caso de Guaramiranga, houve desmoronamento de barreiras e alguns trechos foram bloqueados, dificultando o acesso das equipes. Um cabo partido foi identificado e substituído, e o serviço foi totalmente normalizado na noite de sábado", acrescentou a Enel Distribuição Ceará.
Além disso, a Enel comunicou que tem trabalhado na melhoria da qualidade do fornecimento e modernização do sistema elétrico no Estado. "Só em 2023 foi investido R$ 1,6 bilhão, o maior investimento da série histórica da companhia", disse.
"Nos últimos cinco anos, investiu R$ 5,9 bilhões no Ceará, principalmente em expansão da rede, inclusão de tecnologias, adequação da infraestrutura e construção de novas subestações", complementou.
Ministério de Minas e Energia requer abertura de processo disciplinar contra Enel em SP
As frequentes interrupções no fornecimento de energia atribuídas à Enel em São Paulo levaram o Ministério de Minas e Energia (MME) a emitir um ofício à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) solicitando uma ação em relação às falhas e violações ocorridas no estado paulista. A Enel Distribuição Ceará não está sujeita a essa medida.
O ministro do MME, Alexandre Silveira, afirmou que o ofício - assinado ontem, 1º - considera os reiterados "descumprimentos da Enel com as questões levantadas", além de conter inúmeras provas que podem, eventualmente, levar a uma declaração de "caducidade" ou quebra de contrato da concessão da empresa no Estado.
Em resposta à demanda sobre o assunto, o Ministério de Minas e Energia esclareceu que o ofício se aplica exclusivamente ao estado de São Paulo.
Tendo em vista a Resolução Normativa N° 846/2019, Silveira reiterou a importância e necessidade de atuação da Aneel para instruir o processo e avaliar a situação da Enel em São Paulo. "Estamos extremamente atentos à qualidade do serviço de energia, além da tarifa."
"São diversas falhas na prestação dos serviços de energia elétrica, que tem demonstrado incapacidade de prestação dos serviços de qualidade à população. Por isso, na apuração, deve se considerar todas as possibilidades de punição à empresa", de acordo com o ministro, em nota do órgão.
A ideia é que o setor elétrico preste um serviço adequado não só à população, mas também que possam ser criadas as condições para o crescimento nacional, "tão necessário ao combate à desigualdade", acrescentou Silveira.
O órgão governamental citou ainda a necessidade de analisar se a Enel perdeu "as condições técnicas ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço; e se deixou de atender à intimação da Aneel para a regularização da prestação do serviço".
Por outro lado, a Enel São Paulo e Ceará afirmam que a concessionária "cumpre integralmente com todas as obrigações contratuais e regulatórias e está implementando um plano estruturado que inclui investimentos no fortalecimento e na modernização da estrutura da rede, na digitalização do sistema e na ampliação dos canais de comunicação."
"Reitera que, nos últimos anos, fez grandes investimentos para elevar a qualidade do serviço e enfrentar os desafios por que passa o setor elétrico, com os efeitos das mudanças climáticas", acrescentou em nota.
Em nota, a Aneel informou que tem atuado de forma célere e rigorosa na fiscalização da Enel São Paulo. "Em relação à atuação da distribuidora frente a eventos climáticos de elevada severidade ocorridos em novembro de 2023, já inclusive houve aplicação de multa, no valor de R$ 165 milhões, que se soma a diversas outras multas aplicadas após várias fiscalizações realizadas pela Aneel em todas as dimensões do serviço prestado aos consumidores.". Em seis anos, já foram aplicadas mais de R$ 700 milhões em multa à Enel São Paulo.
Direito
Pedidos de ressarcimento de prejuízos podem ser solicitados pelo site da Enel (www.enel.com.br), pela Central de Relacionamento (0800 285 0196) ou em uma loja de atendimento próxima. Além disso, é possível registrar uma reclamação na Aneel e no Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon)
Maciço
O POVO também recebeu relatos de falta de energia por mais de 11 horas no sábado, dia 30, em Mulungu. Além de interrupções no fornecimento de energia em Baturité e Guaramiranga