Os domicílios com renda de até ¼ do salário mínimo (de R$ 1.302 em 2023) subiram para 34,8% na Região Metropolitana de Fortaleza no quarto trimestre de 2023. O cenário trimestral apresenta crescimento desde 2019, que saiu de 28,5%, para 31,8% em 2022.
A tendência de aumento da pobreza em Fortaleza vai em contrapartida com o ambiente geral, que apresenta estabilidade.
As informações são do 15º "Boletim Desigualdade nas Metrópoles", produzido em parceria pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Observatório das Metrópoles, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e pela Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedOdsal).
Os dados são provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e são baseadas na renda domiciliar per capita do trabalho, incluindo o setor informal.
O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do País, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados são deflacionados para o 4º trimestre de 2023, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O aumento pode ser explicado pela informalidade e também pela mão de obra com baixa escolaridade, afirma André Salata, coordenador do Pucrs Data Social e professor da Pucrs.
"A tendência geral tem sido de estabilidade, mas em Fortaleza há uma leve tendência de aumento. Nas RMs do Nordeste há muita informalidade e mão com baixa escolaridade, que sem dúvidas são fatores que contribuem para este cenário. Também vale citar que Fortaleza não tem havido clara recuperação após a pandemia".
Já na média da renda domiciliar per capita, o cenário registrado em Fortaleza nos dois trimestres pós-pandemia da Covid-19 analisados pelo Observatório das Metrópoles foi de uma quase estagnação, analisa André Salata.
No 4º trimestre de 2022, a média registrada era de R$ 1.062,13. No mesmo período de 2023, o valor encontrado foi de R$ 1.079,41. Já em 2019, a média registrada era de R$ 1.276,94.
"Você tem a renda média domiciliar per capita do trabalho que não apresenta uma melhora nos últimos anos, oposto da média geral como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, que tem nos últimos anos uma recuperação mais forte da renda depois daquela queda provocada pela pandemia e isso não está acontecendo em Fortaleza. Então você tem quase que uma estagnação da média de renda", compara Salata.
No estrato de rendimento, além de Fortaleza, outras cinco cidades tiveram o rendimento médio no 4º trimestre de 2023 inferior ao registrado antes da pandemia, no mesmo período de 2019. Foram elas: Natal, Recife, Salvador, Curitiba e Vale do Rio Cuiabá.
Salata destaca que o baixo rendimento em Fortaleza pode ser explicado por um mercado de trabalho ainda não recuperado da pandemia.
Outro ponto relatado pela 15ª edição do Observatório das Metrópoles foi a concentração de renda na Região Metropolitana de Fortaleza.
No quarto trimestre de 2023, 10% do topo da distribuição de renda ganhavam, em média, 35,8 vezes mais que os 40% da base da pirâmide.
A relação apresentada foi de crescimento, já que no quarto trimestre de 2022 a razão era de 30,6 vezes e no mesmo período de 2019, 30,2 vezes.
"O grupo onde a gente tem um aumento mais visível da renda ao longo dos últimos anos é o grupo dos 10% mais ricos, que é o explica o aumento da desigualdade, ainda mesmo que esse grupo esteja um tanto quanto mais longe do patamar anterior à pandemia".
Para Clecia Lustosa, professora da Universidade Federal do Ceará e coordenadora do Núcleo Fortaleza do Observatório das Metrópoles, o cenário poderia começar a ser revertido com a cobrança de impostos.
“O problema é que os grandes milionários querem isenção. Se você não paga imposto, não tem como investir em setores, infraestrutura, não gera investimentos. É um ciclo vicioso. Todo mundo tem que contribuir, principalmente aqueles que ganham muito”.
No coeficiente de Gini, que mede o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população de 0 a 1, o cenário em Fortaleza no 4º trimestre de 2023 foi de 0,638. Vale ressaltar que quanto mais perto de 1, maior a desigualdade social.
No 4º trimestre de 2022, o índice foi de 0,620 e em 2019 de 0,629.
André explica que o aumento está relacionado com a "recuperação mais forte" do topo da pirâmide, a base da pirâmide.
Nordeste
As cinco metrópoles mais desiguais no 4º trimestre de 2023 foram: João Pessoa (0,670), Aracaju (0,657), Natal
(0,652), Salvador (0,648) e Teresina (0,647)