O Ceará é o décimo estado brasileiro com a maior proporção de cidadãos sem renda. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 40% da população está nesta situação e 61,3% dos cearenses possuem rendimento mensal.
O índice considera como rendimento mensal aqueles recursos provenientes do trabalho, assim como de outras fontes, como aposentadorias e pensões, pensão alimentícia, além de programas sociais, como Bolsa Família.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua - Rendimento de todas as fontes 2023, divulgada nesta sexta-feira, 19.
Ainda de acordo com a pesquisa, em 2023, 140 milhões de brasileiros possuíam algum tipo de rendimento, correspondendo a 64,9% da população.
Nos extremos, no Acre, apenas 51,5% possuem alguma renda, enquanto no Rio Grande do Sul 70,3% possuem rendimento mensal.
Analisando sob a ótica regional, o Sul, com 68,8%, apresentou a maior estimativa em todos os anos da série histórica, enquanto as regiões Norte (57,8%) e Nordeste (60,8%), as menores.
A pesquisa ainda revela que aumentou a parcela da população com rendimento do trabalho, tendência observada desde 2021, após forte queda em 2020, em reflexo da pandemia.
No Nordeste não é diferente. Entre 2022 e 2023, a média de trabalhadores com fonte de renda oriunda do trabalho subiu de 36,8% para 37,8%. O percentual, no entanto, ainda permanece como o menor dentre as regiões.
No País, a parcela de pessoas que depende da renda do trabalho subiu de 44,5% para 46%, entre 2022 e 2023.
A pesquisa também aponta que os moradores do Nordeste dependem mais de outras fontes de renda que não o trabalho ou aposentadorias. Dentre essas fontes estão incluídos os benefícios sociais, como o Bolsa Família.
Na Região, 15,7% dependem dessas “Outras Fontes”, enquanto 12,4% dependem de aposentadorias e pensões. No Norte, o cenário é parecido, com 12,9% dependentes dessas fontes diversas que incluem os programas sociais.
Já em regiões como Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a maior incidência é de pessoas que dependem de aposentadorias e pensões como fonte de renda, além dos salários a partir do trabalho.
Para a doutora em Economia e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre a Pobreza da Universidade Federal do Ceará (LEP/UFC), Alessandra Araújo, o cenário descrito demonstra que os avanços na renda dos cearenses seguem condizentes com um longo histórico.
Na sua avaliação, faltam políticas públicas efetivas para que a distribuição de renda de fato ocorra. Isso porque, apesar de ter a capital com maior Produto Interno Bruto (PIB) da Região, a condição de vida dos trabalhadores segue sendo de pobreza.
Outro desafio apontado por Alessandra diz respeito ao acompanhamento continuado dos beneficiários do Bolsa Família, inclusive buscando soluções para a evasão escolar no início da adolescência, o que tem relação também com o quadro social de crescimento da influência das facções criminosas nas comunidades mais pobres.
"Não adianta só olhar o econômico sem o social, ver somente a política da repressão a qual muitos governos priorizam. É preciso acompanhar esses jovens desde a infância", afirma.
Para Alessandra, apesar dos últimos anos de crescimento do PIB, a análise per capita não demonstra grande evolução. "Na verdade, continuamos muito pobres".
Rendimento
O rendimento médio mensal das famílias brasileiras cresceu 11,5% entre 2022 e 2023, saltando para R$ 1.848 por mês. Entre os 40% de renda mais baixa, houve um aumento de 17,6% no valor médio por mês por cada pessoa da família, para R$ 527.
Redução
No cálculo do Índice Gini, que mede a desigualdade de renda, entre 2022 e 2023 houve reduções a níveis nunca antes calculados pelo IBGE na série histórica desde 2012. No Nordeste, entre 2019 e 2023, a queda da desigualdade de renda chegou a 8,45%.
Mais ricos ganham 14,4 vezes mais que os mais pobres
Em 2023, os 10% da população brasileira com maiores rendimentos domiciliares per capita tiveram renda 14,4 vezes superior à dos 40% da população com menores rendimentos. Essa diferença é a menor já registrada no Brasil.
Os dados da Pnad mostram que os 10% da população com maior rendimento domiciliar por pessoa tiveram, no ano passado, renda mensal média de R$ 7.580. Já os 40% dos brasileiros com menor rendimento obtiveram R$ 527. Ambos os valores são os maiores registrados para cada faixa de renda.
Em comparação mais extrema, o 1% da população com maior rendimento tinha renda mensal (R$ 20.664) que chegava a 39,2 vezes à dos 40% de menor renda. Em 2019, a diferença era de 48,9 vezes - a maior já registrada.
A diferença de 14,4 vezes entre os 10% das maiores faixas de renda e os 40% das menores é a mesma de 2022. Em 2019, antes da pandemia de covid-19, a relação estava em 16,9 vezes. O ponto mais desigual - 17 vezes - foi atingido em 2021, auge da pandemia.
A série histórica do IBGE teve início em 2012, quando a relação era de 16,3 vezes. (Agência Brasil)