O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 10,50% ao ano pela segunda reunião seguida.
O comunicado reporta que o cenário exige mais cautela, deixando a porta aberta para poder subir os juros mais à frente, embora não tenha firmado compromisso com um aumento na próxima reunião.
Na reunião anterior, em junho, o Copom interrompeu o ciclo de cortes de juros iniciado há quase um ano. Ao manter a Selic, a taxa segue no menor nível desde fevereiro de 2022.
A decisão saiu no mesmo dia em que a autoridade monetária dos Estados Unidos, o Fed, anunciou a manutenção das taxas básicas de juros, entre 5,25% e 5,50%, mas indicou de forma mais explícita a chance de uma redução em setembro, com a percepção de que há uma tendência de a inflação estar convergindo para a meta de 2% ao ano.
No caso do Brasil, o Copom disse que monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros.
"O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", diz o texto.
Sobre o cenário econômico, o comitê "avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária". "Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância", diz o comunicado.
De acordo com o comunicado, "o comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para 2024 subiram de 4% para 4,2% e, para 2025, tiveram alta de 3,4% para 3,6%.
Nos EUA, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse em entrevista coletiva depois da reunião do colegiado que um corte na taxa "poderia estar na mesa" na próxima reunião em 18 de setembro. "Estamos chegando perto."
Em suas projeções, a autoridade monetária dos EUA afirmou que poderia fazer cortes em reuniões intercaladas, o que reduziria as taxas para 4,1% até o fim do próximo ano, e 3,1%, até dezembro de 2026. "Está chegando a hora, pois outros bancos centrais do mundo estão enfrentando a mesma questão", afirmou o presidente do Fed.
Ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reforçou em nota que vê com preocupação a decisão do Copom de manter inalterada a taxa de juros Selic em 10,50% ao ano.
A entidade destacou que "o elevado nível em que a Selic se encontra faz o Brasil ter uma das maiores taxas de juros real do mundo e explica parte significativa do alto custo do crédito, situação que implica severas restrições à atividade econômica brasileira".
"Esperamos que a Selic volte a ser reduzida o quanto antes. A retomada de cortes é fundamental para a redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda", afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A entidade destaca ainda que os reflexos da política monetária restritiva são claros ao se observar o comportamento do mercado de crédito e da atividade econômica. "A Selic alta eleva o custo de captação dos recursos para as instituições financeiras. Para piorar, essas instituições ofertam crédito com spread bastante elevado. O Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, sendo mais um fator que encarece empréstimos e financiamentos." (Com Agência Estado)