A gestão dos perímetros irrigados do Ceará está em debate e se depender dos empresários do agronegócio uma mudança é urgente. Eles pedem uma "estadualização" do comando em Araras Norte, em Varjota, que atualmente fica por conta do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).
Na avaliação da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), a falta de uma gestão eficiente impede o avanço maior de culturas de alto valor agregado no Estado.
Amilcar Silveira, presidente da Faec, afirma que já existe ideia de como transferir a gestão do Dnocs, está em contato com o Governo do Ceará e que a proposta já estaria "na mesa" do titular do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). O primeiro movimento, em Varjota, pode servir de exemplo para um movimento maior, em todos os demais espaços.
A proposta diz respeito mudar o conceito dos perímetros: Ao invés de vender terras, realizar concessões após análise dos projetos. O foco deve ser na produção de produtos de alto valor agregado, de preferência culturas temporárias (como melão e melancia), "que rendem mais e são menos arriscadas" em detrimento das permanentes (como manga e uva).
O entrave, porém, ocorre por haver resistências por parte do Dnocs, o que Amilcar classifica como "ideológicas". Ainda segundo o presidente da Faec, após visitar todos os projetos de perímetros irrigados do Dnocs no Nordeste, os classifica como mal administrados.
Na avaliação do agronegócio cearense, o Dnocs é um órgão enfraquecido, com mais funcionários aposentados do que na ativa. Amilcar diz que os perímetros precisam de uma gestão mais profissional. "O Dnocs é um defunto que esqueceram de enterrar. O agronegócio não aceita mais amadorismo, pois os custos de produção são altíssimos".
"Precisamos de profissionais técnicos para obter resultados", destaca. Amilcar continua: "O Dnocs, infelizmente, não tem demonstrado interesse em mudar a situação, preferindo manter as coisas como estão, com produção abaixo do que poderia".
Dentro desse contexto, praticamente metade das áreas disponíveis nos perímetros irrigados do Ceará estão improdutivas. Conforme o Dnocs, dos 35,2 mil hectares disponíveis, 19,4 mil hectares estão ativos.
Segundo cálculo da Faec, cada hectare de fruta plantada gera um emprego direto. E culturas de valor agregado alto, como a produção de algumas espécies de frutas podem gerar até R$ 200 mil por hectare, enquanto o hectare de soja rende R$ 10 mil.
No Ceará, os dois maiores perímetros irrigados são os de Tabuleiro de Russas e o Jaguaribe-Apodi. No primeiro, destaque para a exploração de banana.
Sob o ponto de vista do Governo do Estado, o secretário executivo do Agronegócio, Sílvio Carlos Ribeiro, destaca que atualmente existem problemas nos distritos de irrigação, que são entidades que fazem a gestão dos espaços.
A ideia da Faec que propõe maior dinamização dos espaços, é apoiada pelo Estado, primeiramente no perímetro de Araras Norte.
"A ideia seria uma parceria entre Faec e o Governo do Estado, através da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), para fazer essa gestão. Porque a função do setor agro é tentar produzir mais, estimular os produtores, atrair investidores. E temos áreas possíveis de serem exploradas, mas que estão ociosas", aponta Sílvio.
O Dnocs é atualmente responsável pela gestão operacional de 37 Projetos Públicos de Irrigação, todos localizados em estados do Nordeste, sendo o Ceará o estado com o maior número de áreas, com 14.
Além do Estado, Maranhão, com dois projetos, Bahia e Paraíba (3 projetos cada), Pernambuco (4), Rio Grande do Norte (5) e Piauí (6) possuem iniciativas similares sob gestão do Dnocs.
Sob o Dnocs, cada perímetro irrigado compreende uma área dividida em vários lotes que são explorados na produção agrícola. Nesses espaços, toda infraestrutura de irrigação é oferecida aos assentamentos, com canais, drenos, estações de bombeamentos ou adutoras.
Com mudança, PIB do agro saltará 15%
Uma projeção da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cearense poderia saltar 15% em sua participação na economia local com a ampliação da área produtiva dos perímetros irrigados.
Segundo o presidente da Faec, Amilcar Silveira, esse crescimento pode ser alcançado caso a área ocupada chegue a pelo menos 30 mil hectares.
"(Atualmente,) Apenas 15 mil hectares estão sendo utilizados. Nossa luta é para que mais áreas sejam efetivamente utilizadas", destaca.
Amilcar cita o exemplo do perímetro de Varjota, que estaria "há 30 anos sem funcionar adequadamente" já que dos 3,2 mil hectares disponíveis, apenas 679 hectares estão em uso.
A ideia da Faec é que essa ampliação da área produtiva dos perímetros irrigados possa contribuir tanto com o crescimento da agropecuária, quanto da indústria, abrindo possibilidade para atração de fábricas de beneficiamento dos produtos cultivados.
"É preciso organização e planejamento. Hoje, 49% das exportações brasileiras são do agronegócio, mas a maioria vai para a China como commodities. Nós queremos agregar valor aos produtos produzidos no Ceará e gerar empregos aqui", ressalta.
PROJETOS PÚBLICOS DE IRRIGAÇÃO NO CEARÁ
Área total irrigável no Ceará:
52,9 mil hectares
Área irrigável já implantada (infraestrutura pronta): 39,8 mil hectares
Área irrigável já ocupada: 35,2 mil
Área irrigável ocupada e com produção ativa:
19,4 mil hectares
Conheça os perímetros irrigados do Ceará e seus níveis de ocupação
> Araras-Norte:
98,75%
> Ayres de Souza:
84,6%
> Baixo Acaraú:
96,3%
> Curu-Paraipaba:
89%
> Curu-Pentecoste:
82,9%
> Ema:
100%
> Forquilha:
92,16%
> Icó-Lima Campos:
95%
> Jaguaribe-Apodi:
48%
> Jaguaruana:
99,8%
> Morada Nova:
100%
> Quixabinha:
41,78%
> Tabuleiro de Russas: 94,8%
> Várzea do Boi:
87,35%
Fonte: Dnocs