A saída da tancagem — processo de armazenamento e distribuição de combustíveis — do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) até 2027 tem levantado questões sobre o que será feito em termos de revitalização, empregabilidade e arrecadação relacionadas àquela área do entorno na Capital.
O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), levantou a possibilidade da atração de investimentos de data centers para a região, mirando a expansão de um eventual hub tecnológico na Praia do Futuro. Todavia, ressaltou que o debate envolve o município e precisa de verificação técnica, a fim de analisar o que pode ser feito de fato.
“Na minha opinião, tem uma boa possibilidade de nós discutirmos se não é possível atrairmos outros investimentos na área de data center para aquela região da cidade, com empregos ainda melhores, no Mucuripe. Eu acho que é uma das possibilidades que nós teríamos de discutir de atração”, detalhou o governador em entrevista ao O POVO.
“A Praia do Futuro já está demonstrando ter pouco terreno para a quantidade de investimentos que podemos ter. Tem possibilidades de data centers muito maiores do que temos hoje, o que seria muito importante para empregabilidade de salários elevados para a nossa cidade e conectado com o que temos feito de formação”, acrescentou.
Isso poderia gerar uma possibilidade "bem razoável de arrecadação", de acordo com Elmano. Inclusive, para a Prefeitura de Fortaleza, "porque essas empresas também prestam serviço e, portanto, elas têm que recolher ISS (Imposto Sobre Serviços)."
Elmano citou, entretanto, que a principal preocupação é garantir que a tancagem, efetivamente, se desloque para o Porto do Pecém até 2027, cujo intuito é evitar riscos em casos de acidentes no Mucuripe, densamente habitado, e a impossibilidade de ampliação do parque. No Pecém, haveria aumento da capacidade de armazenamento de combustível.
O presidente-executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), Luiz Henrique Barbosa, vê que o Ceará tem um potencial imenso na atração desses data centers por causa das energias renováveis e de sua estrutura de cabos submarinos que fortalece a conectividade.
Apesar do setor de data centers não ser conhecido por empregar quantitativamente muita mão de obra, ele gera empregos qualificados – com salários médios de R$ 5 mil – e trabalhos 24 horas por dia, segundo Luiz, pontuando, ainda, que os data centers precisam de diversos técnicos, e a capacitação de profissionais é uma alternativa.
Segundo a advogada, pós-graduada em gestão portuária e ex-presidente da Comissão de Direito Marítimo-portuário, Aeroportuário e Aduaneiro da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE), Rachel Philomeno, esta parece ser uma “forma inteligente” para não desperdiçar os postos de trabalho da comunidade local.
Isso porque a saída da tancagem deve gerar impactos sociais, como o desemprego de pessoas que moram no entorno do Porto do Mucuripe, especialmente trabalhadores informais, com mercadinhos e comércios ambulantes, segundo Rachel. “São muitas pessoas que se beneficiam dessa estrutura pública, ou seja, dessa geração de emprego.”
Em contrapartida, o vice-presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação no Ceará (Assespro-CE), Charles Boris, disse que o hub tecnológico pode ter mais impacto se vier acompanhado de outras medidas, não só de um espaço físico; “para fomentar o empreendedorismo e o crescimento de empresas de base tecnológica no Ceará.”
“Dependendo de como for estruturado esse plano, pode haver um belo impacto. Mas, se for simplesmente uma área física destinada a tirar cargas e trazer data centers, não vejo um impacto transformador para o Ceará. Agora, se junto com isso houver contrapartidas, (...) pode ser um grande incentivo para transformar Fortaleza em um grande polo tecnológico”, citou.
Lei
Em agosto deste ano, a Lei 19.012/24 determinou que as licenças estaduais das empresas de combustíveis e gás liquefeito de petróleo instaladas nos arredores do Porto de Fortaleza fossem classificadas como provisórias e condicionadas a um plano de transferência da área pelo Governo
do Ceará