A Grendene, dona das marcas de calçados Melissa e Ipanema, registrou um lucro líquido de R$ 223,5 milhões no terceiro trimestre deste ano, um avanço de 66,5% em relação a igual período do ano passado. O resultado positivo foi apoiado pelo mercado interno.
Um dos principais indicadores do mercado financeiro, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) ficou em R$ 166,5 milhões, um avanço anual de 44,7%. A margem Ebitda aumentou, ainda, 5,5 pontos percentuais (p.p.) – para 22,2%.
As linhas masculina, Grendene Kids e Melissa apoiaram o balanço da companhia. Todavia, o segmento feminino e a marca Ipanema contaram com retração de receita devido à liquidação de estoques de concorrentes e de forte base de comparação no último ano.
A calçadista contou, também, com crescimento anual de 8,8% na receita líquida, para R$ 749,5 milhões; enquanto o avanço na receita bruta foi um pouco maior, em 10%, a R$ 926,5 milhões. Mas o montante da receita bruta voltado às exportações caiu 5,4%, com R$ 136 milhões.
No que tange às exportações em dólares, o recuo foi ainda maior (16,7%), saindo de US$ 29,5 milhões para US$ 24,5 milhões no ano a ano. Algo que o diretor financeiro e de relações com investidores da Grendene, Alceu Albuquerque, atribuiu a um contexto desafiador.
Trata-se de um reflexo do desaquecimento da economia global, com inflação e taxas de juros elevadas, que impactam os hábitos de consumo. Além dos custos dos fretes internacionais terem subido, tornando o produto brasileiro menos competitivo, segundo Alceu.
Crises políticas e econômicas na América Latina também foram citadas pelo executivo, bem como conflitos no Oriente Médio. “Ou seja, uma série de fatores, tanto pequenos quanto grandes, tem influenciado o desempenho das exportações”, explicou.
Neste sentido, o volume total de pares embarcados regrediu 1,5% no terceiro trimestre frente a igual período do último ano, para 40,5 milhões de pares. Enquanto o mercado interno avançou 1,1% (para 34,2 milhões de pares), a exportação caiu 13,5% (para 6,3 milhões de pares).
No acumulado do ano – de janeiro a setembro –, o lucro líquido da Grendene alcançou R$ 404,9 milhões, alta de 28,7% em comparação a igual período de 2023. Entretanto, o volume caiu 1,7% nestes meses devido às exportações, para 95,5 milhões de pares.
Alceu disse que essas questões externas não são enfrentadas de forma exclusiva pela Grendene, mas pelo setor de calçados como um todo. Hoje, a Grendene tem capacidade para produzir 250 milhões de pares por ano, incluindo fábricas em Fortaleza, Sobral e Crato.
Já o mercado interno tem alternado entre períodos positivos e momentos de retração, apresentando desafios decorrentes da lenta recuperação do poder de compra das famílias, o elevado nível de endividamento e os gastos com jogos de apostas online, conforme Alceu.
“A gente tem observado redução no preço das matérias-primas já há uns três ou quatro meses, o que tem beneficiado nossos custos de produção. Por conta disso, temos conseguido aumentar o nosso lucro bruto, ou seja, a nossa margem bruta”, explicou.
“Temos um olhar mais atento às despesas administrativas, especialmente em relação às contratações de pessoal e à utilização de serviços terceirizados. São pequenos ajustes que, no conjunto, têm melhorado a alocação das nossas despesas”, acrescentou.
A expectativa é que as vendas dos produtos da Grendene fossem maiores no Brasil, mas houve adiamento de pedidos de setembro para outubro, gerando um deslocamento no volume para o quarto trimestre deste ano e refletindo a volatilidade no consumo, pontuou a gestão.
A empresa, em contrapartida, vê sinais de recuperação macroeconômica que devem aliviar pressões no consumo, com redução pouco a pouco na inflação e aumento na empregabilidade, apesar disso levar algum tempo para se concretizar, citou em comunicado.