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Brancos que estão entre os 1% mais ricos ganham mais que o dobro do que negros
Economia

Brancos que estão entre os 1% mais ricos ganham mais que o dobro do que negros

Dados do IBGE mostram que a desigualdade racial é mais acentuada nas extremidades de renda no País. No outro extremo da pirâmide social, entre os 5% mais pobres, a diferença no valor dos rendimentos chega a 73,1% no recorte de raça
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DESIGUALDADE de raça é mais acentuada nas extremidades das faixas de renda (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil DESIGUALDADE de raça é mais acentuada nas extremidades das faixas de renda

A desigualdade racial não se restringe a fenômenos como pobreza ou desocupação, mas atinge de forma significativa mesmo o rendimento da população mais rica, entre os diferentes grupos, conforme revela o Painel Cor ou Raça, plataforma lançada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para se ter uma ideia, entre os pretos e pardos (que compõem um conjunto maior, designado pelo IBGE como sendo a população negra) 1% mais ricos, a renda média é de R$ 9.734,79. Já entre os 1% mais ricos de cor branca esse rendimento médio é de R$ 23.414,51, o que representa mais que o dobro (cerca de 140,5% a mais).

O mesmo fenômeno se repete com menor intensidade entre os 5% mais pobres de ambos os estratos. Entre a população negra, a renda média nesse segmento é de R$ 141,98 e entre a população branca, esse rendimento médio sobe para R$ 245,82, sendo aproximadamente 73,1% superior.

Por sua vez, a média nacional, no caso dos 1% mais ricos, considerando todos os grupos raciais, é de R$ 17.303,11 e, no caso dos 5% mais pobres, é de R$ 168,96.

Outros dados que revelam a desigualdade racial, mesmo em indicadores de ascensão social. Entre microempreendedores individuais 32,2% são brancos e 24,8% são negros.

Já entre pessoas que ocupam cargos gerenciais 69% são brancos, 29,5% são negros e 1,5% compõem outros grupos étnicos, tais como amarelos ou indígenas. Quando considerados os donos de grandes propriedades rurais, 79,1% são brancos e 19% são negros, ante 1,9% de outros grupos. Já a despesa total de consumo é em média de R$ 2.279,19, entre brancos, e de R$ 1.207,11, entre brancos.

Mesmo nos dados de ocupação, em que a desigualdade é menos acentuada, o economista e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), Vitor Hugo Miro Couto Silva, observa que há elementos não apontados pela pesquisa que reforçam a existência de uma profunda desigualdade social.

“Em relação ao nível de ocupação, quando olhamos para a população negra, vão predominar os empregos de remuneração mais baixa, ou os informais, que têm salários mais baixos e apresentam uma grande rotatividade. Isso se reflete, diretamente, na qualidade do emprego”, pontua. Ele ressalta as raízes históricas dessa desigualdade e a diferença de oportunidades de acesso à educação, qualificação e vagas de trabalho.

“A política pública deve tentar garantir a igualdade, mas precisa atacar a raiz do problema, que é a falta de garantia de acesso à educação, saúde. Não só garantir acesso, mas a qualidade desses serviços, que ainda apresenta um abismo enorme. Se você olhar uma estatística de crianças frequentando escolas, não veremos grande diferença, por exemplo, mas a qualidade de acesso a essa educação ainda é muito desigual”, exemplifica.

O especialista, que já coordenou o Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) da UFC, disse ainda que em seus estudos também constatou o aumento da desigualdade à medida em que se avança na análise das classes sociais mais ricas.

“Essa diferença, conforme avançamos na distribuição de renda, vai se ampliando. Nas camadas mais baixas, a diferença não é tão grande. É muito difícil para famílias menos favorecidas historicamente, onde predominam pessoas negras, ocupar cargos de gerência, que possuem maiores remunerações”, analisa.

“Aqui no Brasil, boa parte dessas maiores remunerações ocorre dentro do setor público, que apesar de ter concursos, aparentemente meritocráticos, acaba tendo um acesso desigual. Isso ocorre devido ao acúmulo de capital humano, da educação formal com melhores condições, sendo um privilégio para grupos provenientes de famílias de melhor condição financeira”, afirma Vitor Hugo, acrescentando, por fim, a importância das políticas afirmativas, como as cotas raciais para redução das desigualdades.

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PANORAMA DE COR OU RAÇA NO BRASIL

Parda: 92 milhões

Branca: 88,2 milhões

Preta: 20,6 milhões

Indígena: 1,2 milhões

Amarela: 850,1 mil

NÍVEL DE OCUPAÇÃO*

Parda: 56,1%

Preta: 59%

Branca: 59,4%

*População com 14 anos ou mais

NÍVEL DE DESOCUPAÇÃO*

Parda: 7,8%

Preta: 9%

Branca: 5,5%

*População com 14 anos ou mais

TAXA DE OCUPAÇÃO EM CARGOS GERENCIAIS

Parda/Preta: 29,5%

Branca: 69,0%

Outros grupos: 1,5%

PESSOAS VIVENDO NA POBREZA

Parda: 38,4%

Preta: 34,5%

Branca: 18,6%


PESSOAS VIVENDO EM EXTREMA POBREZA

Parda: 11,4%

Preta: 9,0%

Branca: 5,0%

RENDA MÉDIA PER CAPITA (5% MAIS POBRES)

Parda/Preta: R$ 141,98

Branca: R$ 245,82

Todos os grupos: R$ 168,96

RENDA MÉDIA PER CAPITA (1% MAIS RICO)

Parda/Preta: R$ 9.734,79

Branca: R$ 23.414,51

Todos os grupos: R$ 17.303,11

DESPESA TOTAL DE CONSUMO

Parda/Preta: R$ 1.207,11

Branca: R$ 2.279,19

Todos os grupos: R$ 1.667,90

DONOS DE GRANDES PROPRIEDADES RURAIS

Parda/Preta: 19,0%

Branca: 79,1%

Outros grupos: 1,9%

MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS

Parda/Preta: 24,8%

Branca: 32,2%

Outros grupos/Não informado: 42,4%


Fonte: IBGE

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