As desigualdades raciais que atingem todos os estratos sociais têm profundas raízes na construção histórica brasileira, mas também permanecem por uma dificuldade do País em enfrentar a discussão de como enfrentá-las. Essa é a visão da antropóloga Vera Rodrigues da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
"O Brasil chegou muito atrasado nesse processo de combate à desigualdade racial. O passado foi escravocrata, colonial e ditatorial, mas até que ponto nós enfrentamos de fato essas questões como nação? Eu creio que esse é o ponto de virada. O Brasil sempre se negou a lidar com suas feridas estruturais. Nós saímos do processo de escravidão com uma abolição, mas sem reparação", observou a pesquisadora.
"Agora, a gente começa a fazer a reflexão, a partir de uma pauta colocada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), sobre como reparar os danos econômicos causados pelas instituições financeiras que se serviram da escravidão enquanto fomento a um suposto progresso. A gente saiu de uma ditadura falando em anistia. A verdade é que temos dificuldade em lidar com as nossas feridas históricas", pontuou.
"Então, chegamos atrasados em uma corrida de mobilidade social. O que acontece é que, para quem abre um caminho, a geração seguinte pode ter melhores condições de vida, escolaridade, acesso a bens e serviços. Mas mesmo assim, a pessoa negra ainda enfrenta desvantagens, quando você analisa economicamente os ganhos da população branca em relação à população negra", conclui.