Depois de cinco altas seguidas, em que acumulou valorização de 5,2% ante o real e batendo sucessivos recordes históricos, o dólar fechou nesta quinta, 19, em queda de 2,27%, cotado a R$ 6,12. O recuo nas cotações, porém, só ocorreu depois de uma intervenção histórica do Banco Central no mercado de câmbio.
Como anunciara na véspera, o BC vendeu US$ 3 bilhões à vista às 9h30, logo no início dos negócios. Foi pouco para o apetite dos investidores e pouco depois das 10h a moeda americana bateu em R$ 6,30, alta de 0,55%, o que forçou o BC a realizar nova oferta de moeda à vista, desta vez no montante de US$ 5 bilhões.
Foi o maior valor para um único leilão da história do regime de câmbio flutuante, acima do registrado em 9 de março de 2020.
"O mercado deve ter demandado hoje uma atuação mais firme, e o BC conseguiu cumprir seu papel. Mas a solução do problema não passa por ele, mas por uma vontade política de reverter essa situação fiscal. Por enquanto, o governo não tem dado o peso e a importância necessária para isso", disse o gestor da AZ Quest, Gustavo Menezes.
Também ajudou a arrefecer o estresse do mercado a declaração do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), garantindo que os projetos do pacote do governo de corte de gastos seriam votados ainda ontem.
Como esperado, há pontos que levam a uma desidratação das medidas, já vistas como insuficientes. Economistas trabalham com uma economia entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, muito aquém dos R$ 71 bilhões estimados pelo Ministério da Fazenda.
A recente escalada do dólar começou na quinta-feira da semana passada, em seguida à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que na véspera aumentara a Selic em 1 ponto porcentual, antecipando mais duas alta de mesma magnitude nas reuniões de janeiro e março. Desde o dia 12, o Banco Central injetou US$ 20,7 bilhões no mercado, em resposta à forte demanda por dólares.
Na avaliação de Menezes, da AZ Quest, além de o pacote fiscal ter frustrado as expectativas do mercado, houve uma quebra de confiança com a falta de um trabalho de coordenação de expectativas pelo governo em meio a uma realidade global "mais desafiadora".
Ontem à noite, o BC anunciou que fará mais dois leilões de venda de dólares na manhã de hoje - de US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Com isso, o BC pode injetar até US$ 27,76 bilhões no mercado em dezembro -que se confirmada será a maior intervenção da história do regime de metas num único mês.
O Tesouro também teve uma atuação firme ontem com a recompra de títulos públicos (LTNs), num movimento que foi visto pelo mercado como uma concretização da prometida coordenação do o BC. Assim, o mercado de juros operou em dois tempos, como o de câmbio. A disparada das taxas vista pela manhã deu lugar a uma forte correção em baixa à tarde A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 15,49% para 15,06%, e a do DI para janeiro de 2027, baixou de 15,96% para 15,40%.
Ontem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a demanda no primeiro leilão do dia foi maior do que a estimada pelo BC e, que por isso, a instituição decidiu intervir novamente. Segundo Campos Neto, o fluxo financeiro está bastante negativo, com saídas maiores do que a média dos últimos anos, com pagamento de dividendos e remessas de pessoal físicas.
O diretor de política monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, refutou a ideia de ataque especulativo contra o real. (Agência Estado)
Ações
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, fechou em alta de 0,34%, aos 121.187 pontos. Mesmo assim, a Bolsa ainda acumula queda de 2,75% na semana, e de 3,56% no mês