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142 mil cearenses já investiram mais de R$ 8 bilhões na bolsa de valores
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142 mil cearenses já investiram mais de R$ 8 bilhões na bolsa de valores

| B3 | Ceará passa por mudança cultural na renda variável, impulsionada pela abertura de empresas locais na B3, entrada de grandes escritórios de investimentos e mais
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Bolsa de valores (B3) tem ganhado destaque nos investimentos dos cearenses. (Foto: Tima Miroshnichenko/Pexels)
Foto: Tima Miroshnichenko/Pexels Bolsa de valores (B3) tem ganhado destaque nos investimentos dos cearenses.

O Ceará conta com 142,2 mil contas – vinculadas aos cadastros de pessoas físicas (CPF) – e investimentos de R$ 8,4 bilhões na bolsa de valores brasileira (B3) em 2024. Todavia, o montante representa apenas 1,56% do total nacional – equivalente a nona posição –, cuja liderança está com o estado de São Paulo (47,17%).

Os dados da B3 foram atualizados no dia 3 de dezembro. O levantamento mostra, ainda, que apenas a Bahia está à frente do Ceará no Nordeste, somando 220,9 mil contas, R$ 12,2 bilhões e participação de 2,26%. A diferença entre o número de pessoas que vivem em cada um destes estados, no entanto, é muito significativa.

Enquanto a Bahia conta com uma população de 14,1 milhões de pessoas, o Ceará dispõe de 8,7 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao comparar o total de pessoas em cada local com o montante que investe na B3, a participação dos cidadãos cearenses (1,61%) supera a dos baianos (1,56%).

Para o economista e conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), Ricardo Coimbra, o Ceará passa por uma mudança cultural na renda variável, impulsionada pela abertura de capital de empresas cearenses na B3, a entrada de grandes escritórios de investimentos no Estado e a própria educação financeira.

No Ceará, a maior parte dos investidores da renda variável é composta pelo público masculino, com 109,8 mil homens e R$ 6,57 bilhões investidos, ao passo que as mulheres totalizam 32,3 mil contas e R$ 1,92 bilhão. 

De forma detalhada, o número de investidores cearenses saltou de 24,9 mil em 2019 para 142,2 mil nos dados atualizados até 3 de dezembro de 2024. A maior parte está na faixa etária dos 25 aos 39 anos, seguida pelos 40 aos 59 anos.

Nota-se, também, que a maior parte dos investimentos brasileiros na B3 é do Sudeste. Além de São Paulo – com 2,1 milhões de investidores e R$ 256,1 bilhões investidos –, o Rio de Janeiro e Minas Gerais vêm logo em seguida. O primeiro com 607,2 mil investidores e R$ 75,8 bilhões investidos; e o segundo, com 604,5 mil investidores e R$ 44,9 bilhões.

Outros estados do Sul e o Distrito Federal foram destaques nas dez primeiras colocações da tabela. Em contrapartida, as localidades com menos investimentos na renda variável brasileira estão majoritariamente no Norte. É o caso do Amapá, com 9,3 mil investidores e R$ 17 milhões investidos, tendo a menor participação do Brasil, em 0,03%.

O diretor de relacionamento e pessoas da B3, Felipe Paiva, esclareceu que as regiões Nordeste e Norte têm ganhado maior destaque em número de investidores do que outras no Brasil.

O movimento ocorre com apoio da digitalização e da inserção de jovens. Felipe afirmou, ainda, que a B3 tem trabalhado fortemente temas de educação financeira.

As iniciativas contemplam uma plataforma informativa aos investidores, uma parceria com a Receita Federal para ajudar na declaração do imposto de renda, bem como apoio a olimpíadas em escolas sobre o mundo das finanças — com destaque para a participação do Ceará —, entre outros.

“Ter uma conta na palma da mão dentro do celular trouxe a curiosidade das pessoas acessarem outros produtos financeiros que não a velha e tradicional poupança”, detalhou Felipe, cuja expectativa é de alcançar mais pessoas ao longo dos anos.

Empresas cearenses na B3

M. Dias Branco, Pague Menos, Hapvida, Brisanet e Aeris são algumas das companhias cearenses com capital aberto, mas o Estado conta também com participação de outras grandes organizações na B3, como Grendene – dona das marcas Melissa e Ipanema –, Banco do Nordeste, Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e Enel.

Entretanto, o cenário para algumas destas empresas tem se mostrado desafiador em partes. Isso porque as ações ordinárias das cearenses acumulam quedas nos últimos 12 meses. A M. Dias Branco cai 46,85%, a R$ 20,73; Pague Menos (-8,88%), a R$ 3,18; Hapvida (-41,02%), a R$ 2,66; Brisanet (-7,01%), a R$ 3,06; e Aeris (-59,43%), a R$ 7,87.

Perspectivas para 2025

Já a nível nacional, Ricardo prevê um cenário macroeconômico complexo em 2025, com necessidade de controle da inflação e possível elevação da taxa básica de juros (Selic) para até 15% ao ano. Atualmente, está em 10,75%. Este contexto deve levar, assim, a uma migração de parte dos investidores da renda variável para a renda fixa.

Alguns setores da B3 podem ser mais impactados negativamente pela elevação dos juros, como varejo, alimentação, entretenimento e viagens, especialmente na comercialização dos produtos aos consumidores, conforme o especialista. Já as áreas de construção civil, mineração e petróleo e gás devem se comportar a partir de suas próprias dinâmicas.

Na renda fixa, a expectativa é de crescimento do Tesouro Direto, impulsionado pela migração de recursos da poupança entre os mais conservadores. O conselheiro da Apimec também prevê o incremento de outros produtos de investimento, como fundos multimercados e fundos de segmentos específicos, que devem atrair investidores mais arrojados.

Outro destaque para 2025 é a implementação do Drex – real digital do Banco Central (CBDC, em inglês) –, que deve impulsionar as transações virtuais e os bancos digitais, além de fortalecer a inclusão financeira, especialmente entre os jovens, na visão de Ricardo. Apesar das facilidades, ele ressalta a importância de ter cautela antes de fazer qualquer investimento.

Cuidados ao investir

A líder regional da XP, Larissa Falcão, contrapõe que não é necessário altos volumes de dinheiro para começar a investir. “Mesmo que sejam valores pequenos, eles renderão mais do que se ficarem parados em conta corrente ou na poupança. E ajudarão, ainda, a fortalecer o hábito de guardar parte do salário para investir.”

Todavia, a XP ressalta que é importante, especialmente para os investidores iniciantes, entender qual o seu perfil – pouco ou mais suscetível a correr riscos – antes de começar. Este é um fator crucial, conforme a instituição, para definir os diferentes tipos de investimentos que irão compor a carteira com retorno financeiro e, principalmente, segurança.

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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 20.12.2024: Reportagem sobre investimentos. João Victor é investidor e faz esses investimentos em varias platafomas. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 20.12.2024: Reportagem sobre investimentos. João Victor é investidor e faz esses investimentos em varias platafomas. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

Investidor cearense começou cedo em carteira diversificada

Quando o assunto é organização e dinheiro, o analista financeiro João Victor Castro, 27 anos, tem um olhar voltado ao planejamento. Ele começou a investir em 2015, quando começou a estagiar. De lá para cá, construiu uma carteira diversificada e alinhada aos seus objetivos. João vai casar em janeiro de 2025 e o seu foco atual está em consolidar uma reserva de emergência maior para esta nova etapa de sua vida. Ele planeja ampliar os investimentos para atender às necessidades do casal, considerando qualquer infortúnio que possa acontecer.

"Ao entrar na vida de casado, tenho a ideia de que, apesar de eu ter minha renda e a minha esposa ter a dela, juntos somos um único lar. Se acontecer algum problema com ela - relacionado ao trabalho, finanças ou algo assim -, o meu rendimento precisa cobrir tudo", explicou.

Hoje em dia, João tem 39% dos seus investimentos aplicados no Tesouro Direto Selic, priorizando segurança e liquidez; 27% na "caixinha" do PicPay; 19% em renda variável; 10% em co-funding imobiliário; e 5% em criptomoedas.

A trajetória do jovem nos investimentos foi motivada tanto pelo desejo de adquirir independência financeira quanto pela necessidade de fugir de um histórico familiar de desorganização financeira.

Ele deu seus primeiros passos no Tesouro Direto e buscou conhecimento em canais de influenciadores digitais, como Me Poupe! e Primo Rico. "Esses canais no YouTube me ajudaram bastante a dar os primeiros passos."

"Enquanto ainda era estagiário, eu pegava metade do valor da bolsa e destinava tudo para investir. Parei para pensar: 'Quero que esse dinheiro renda. Não preciso gastar tudo.' Foi um privilégio, né? Graças a Deus, eu tinha essa oportunidade", relembrou João.

O analista também destacou a importância de investir com cautela de acordo com o seu estilo de vida. "Não fazia sentido pegar uma carteira pronta de outra pessoa. Minhas prioridades incluem o dízimo, por exemplo. Então, organizo tudo dentro da minha realidade."

 

Investimentos superam R$ 7,2 trilhões no Brasil

Os brasileiros estão com um montante superior a R$ 7,2 trilhões investidos até setembro de 2024 no País, o equivalente a uma alta de 11,5% em relação ao término de 2023, de acordo com os dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na renda fixa, cerca de R$ 4,1 trilhões foram acumulados no mês, ante R$ 3,6 trilhões no fim do ano passado. Para o presidente do fórum de distribuição da Anbima, Ademir Correa, a alta da taxa básica de juros (Selic) e a maior aversão ao risco contribuíram para a maior alocação de recursos nestes produtos.

Já os produtos híbridos - como fundos multimercados, cambiais, imobiliários, fundos de índice e certificados de operações estruturadas - subiram 2,8%, saindo de R$ 790,1 bilhões em dezembro de 2023 para R$ 812,3 bilhões em setembro de 2024. Os fundos avançaram 12%, para R$ 1,7 trilhão. Enquanto as aplicações na renda variável, a exemplo da bolsa de valores (B3), avançaram 5,3% anualmente, somando mais de R$ 1 trilhão neste ano. A poupança também apresentou alta de 3,9% no período, no valor de R$ 962 bilhões, e a previdência cresceu 15,2%, para R$ 1,2 trilhão.

Outra área que tem ganhado destaque é o investimento em títulos isentos, totalizando R$ 1,1 trilhão em setembro, com alta de 10,3% em comparação a 2023. Todos os produtos com benefícios fiscais apresentaram variações positivas no semestre, de acordo com o levantamento da Anbima. "Em fevereiro, havia expectativas sobre qual seria o comportamento desses produtos frente às novas regras do Conselho Monetário Nacional (CMN). O que nós vimos foi um crescimento, em muitos casos de dois dígitos, na procura por esses títulos em função da Selic em alta e da busca por rentabilidade e segurança", segundo Ademir.

As letras de crédito do agronegócio e imobiliário também ficaram positivas. Os aportes em LCI cresceram 5,7% para R$ 339,3 bilhões e em LCA de 7,7% para R$ 450,5 bilhões. Ao passo que as letras imobiliárias garantidas (LIG) ficaram em R$ 114,4 bilhões, com crescimento de 5,1%. Os certificados de depósitos bancários (CDBs) alcançaram uma cifra de R$ 996,6 bilhões, com alta de 15,5%. Os títulos públicos também avançaram 15% na comparação, totalizando R$ 172,3 bilhões, enquanto o volume aplicado em ações ficou em R$ 758,8 bilhões, com alta de 7,9% ante o ano passado.

Os certificados de recebíveis imobiliários (CRI) acumularam R$ 83 bilhões, com alta de 32,5%; assim como os do agronegócio (CRA), com R$ 115 bilhões e crescimento de 23,7%. E as debêntures incentivadas saltaram acima de 17%, para R$ 77,2 bilhões. Os clientes do varejo de alta renda estavam com R$ 2,5 trilhões investidos em setembro. O varejo tradicional ficou com R$ 2,3 trilhões, e o "private" com R$ 2,3 trilhões.

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