A economia do Nordeste fechou 2024 com um crescimento acima da média nacional, impulsionada pelo comércio e serviços. No entanto, os sinais de desaceleração no consumo das famílias no último trimestre do ano levantam dúvidas sobre o ritmo da economia em 2025.
Com a política monetária contracionista e a Selic elevada, o crédito ficou mais caro, reduzindo o consumo e afetando setores-chave. O mercado de trabalho, que vinha em recuperação, já mostra sinais de arrefecimento.
As análises publicadas hoje e adiantadas ao O POVO constam do Boletim Macroeconômico, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste, pertencente ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), unidade da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“O Nordeste cresceu consistentemente ao longo do ano, mas a desaceleração no fim de 2024 já indicava os desafios para 2025, especialmente por conta do impacto da Selic no consumo das famílias”, explica Isadora Osterno, doutora em Economia e pesquisadora do FGV/Ibre.
Nordeste cresceu 4%, acima da média nacional (3,8%).
Em dezembro, crescimento foi de 4,9%, contra 2,4% do Brasil.
No comparativo mensal, o Nordeste avançou 0,6%, enquanto o Brasil recuou 0,7%.
Ela analisa que os estados do Nordeste vinham crescendo acima da média, mas ao longo dos boletins já se observa que esse ritmo vinha perdendo força nos últimos trimestres.
“A indústria do Nordeste teve um desempenho positivo, mas ainda ficou um pouco abaixo da média nacional, especialmente por conta da queda na indústria extrativa”, analisa Isadora.
Indústria
Serviços e Comércio
A pesquisadora acrescenta que o comércio e os serviços tiveram um desempenho muito positivo e estão diretamente ligados ao mercado de trabalho e à renda das famílias. “Esse crescimento foi um diferencial para a economia nordestina em 2024”, destaca a economista.
Isadora ainda alerta que o mercado de trabalho no Nordeste melhorou muito em 2024, mas os primeiros meses de 2025 já indicam uma possível perda de fôlego
Taxa de desocupação caiu de 10,4% (2023) para 8,6% (2024).
Ceará teve a menor taxa de desemprego (6,5%), enquanto Pernambuco (10,2%) e Bahia (9,9%) tiveram as mais altas.
Saldo positivo de 330 mil empregos em 2024, mas janeiro de 2025 já mostra perda de 2.671 postos de trabalho.
“O último trimestre de 2024 já mostrou um consumo das famílias mais negativo do que o esperado. Isso reflete diretamente a alta da Selic e a restrição ao crédito”, explica Isadora.
“A sojicultura no Matopiba tem grande potencial para dinamizar as economias locais, mas precisa superar desafios climáticos e ambientais”, comenta Osterno.
A soja cresce no Matopiba A região do Matopiba é palco de conflitos entre o agronegócio e os povos tradicionais, como os indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. O avanço da agropecuária na região tem provocado a destruição do meio ambiente e violações dos direitos humanos. (Maranhão, Piauí, Bahia e Tocantins), impulsionando a economia regional.
Segundo a doutora, a tendência é que a economia do Nordeste siga o padrão do Brasil, com um início de ano mais fraco. O primeiro trimestre será crucial para entender como o consumo e o crédito vão se comportar.
A economia do Nordeste deve seguir a tendência nacional de desaceleração no início do ano.
O desempenho do primeiro trimestre de 2025 será fundamental para entender o ritmo da economia.
A manutenção da Selic elevada pode continuar reduzindo o consumo das famílias e impactar o setor de serviços.