As editoras locais estimam aumentar até 50% das vendas de livros com a XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, conforme as fontes ouvidas pelo O POVO.
Nos três primeiros dias desta edição, a feira já recebeu mais de 100 mil visitantes. A programação segue aberta até o próximo domingo, 13 de abril.
O diretor da Fundação Demócrito Rocha (FDR), Marcos Tardin, por exemplo, cita a meta de triplicar o faturamento em relação ao evento anterior, realizado em 2022.
“A nossa expectativa é ter uma boa venda de livros. E eu vi lá muitos estandes muito cheios, com muitas filas, com caixas para comprar. Então o movimento está bem aquecido também.”
Além disso, comenta como os preços podem atrair os consumidores. No stand da fundação, produtos estão com até 70% de desconto. “E, quem for aluno da rede pública ou professor — seja da rede pública ou privada — também tem mais 10%. Então tem ótimas condições para todo mundo comprar.”
Sobre o mercado editorial, Marcos Tardin avalia que nacionalmente há uma estagnação, com o fechamento de diversas livrarias. Porém, o Ceará tem uma grande leva de escritores surgindo.
“Tem muita gente nova escrevendo, fazendo sucesso, e com diversos estilos e gêneros literários. Então acho que está num momento legal para a literatura, um momento de sinalização de crescimento e recuperação no país e aqui no Ceará. E a Bienal, claro, tem um fator super importante.”
Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de informação e comunicação, que contempla o mercado editorial, cresceu 5% em 2024. No anterior, o percentual foi de 4,6%.
Neste ano, a Bienal conta com 188 estandes destinados à exposição e venda de livros, com representações internacionais e institucionais. Ao todo, 34 editoras participarão diretamente, enquanto 400 editoras estarão representadas por 25 livrarias e 32 distribuidores.
Uma tendência observada por especialistas do setor é o crescente interesse do “jovem adulto”, ou seja, entre 20 e 29 anos, pela prática literária por meio das redes sociais.
Conforme explica a diretora da EdUece, Cleudene Aragão, poesias e práticas culturais como os “slams” (batalhas de rimas), assim como a valorização da nossa rica tradição do cordel, têm sido constantemente estimuladas no Instagram, Youtube ou TikTok, com influencers.
“O jovem adulto prefere as narrativas, sobretudo fantásticas e de jornadas do herói, as oriundas de séries e produtos da cultura pop.”
Também avalia que outros formatos como audiobooks e e-books incentivam a inclusão digital e o mercado precisa se reinventar para dar conta dessa nova configuração das múltiplas leituras possíveis.
“Pessoas que normalmente não teriam voz ou oportunidade em grandes editoras puderam começar a publicar e, depois da sua difusão na internet, até entraram nos catálogos das editoras hegemônicas.”
Por ser uma editora universitária, Cleudene Aragão afirma que a Bienal é política pública de fomento às cadeias criativa, produtiva e mediadora da leitura. “Também são uma excelente vitrine para as vendas, pois o leitor tem a oportunidade de ver ali reunidas produções das quais às vezes ele nem tinha conhecimento.”
Também cita os privilégios da profissão: “Tenho a oportunidade de ver o trabalho às vezes solitário de um pesquisador chegar às mãos de novos leitores. E traz mais prazer ainda quando publicamos trabalhos voltados para a educação básica ou que ressaltam o valor do trabalho intelectual das mulheres, sempre tão silenciadas.”
Conforme os últimos dados publicados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o preço do médio do livro subiu 12,8% e atingiu R$ 54,49 em 2024.
Para Eulálio Costa, proprietário da editora Expressão Gráfica, o valor impacta como em qualquer outro segmento, porém, as obras tendem a ser mais penalizadas porque não é um produto que a população considera prioridade.
“E isso acaba atrapalhando, porque, queira ou não, o livro sofre com o aumento de custos. Do ano passado para cá, tivemos alta no papel, mão de obra, além de outros operacionais como energia. Eles acabam sendo repassados ao valor do livro, o que atrapalha. Se tivéssemos um preço mais acessível, eu diria que seria muito mais fácil. Teríamos mais pessoas publicando seus livros e até vendendo.”
Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, popularmente conhecido como inflação, a Região Metropolitana de Fortaleza teve um crescimento de 9,64% nos itens de leitura (jornal diário, revista, livros didáticos e livros não didáticos). O número é acima do Brasil (7,04%).
Eulálio Costa também pontua que grandes varejistas, como a Amazon, não impactam tanto nas editoras. Contudo, prejudicam as livrarias.
“Você vê que hoje Fortaleza é uma cidade que praticamente não tem mais livrarias. Aquelas grandes livrarias que havia, fecharam. Não conseguiram sobreviver.”