A guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos em relação aos seus parceiros comerciais segue imprevisível e distante de um desfecho. Ontem, a Casa Branca confirmou mais uma sobretaxa de 50% à China, fazendo com que a tarifa imposta aos produtos do país alcancem o percentual de 104% a partir de hoje.
A troca de farpas elevou a aversão ao risco, levando o dólar à máxima de R$ 6,0054 ao longo do dia. A moeda encerrou o dia cotada em R$ 5,9979, alta de 1,48%, e o maior valor de fechamento desde 21 de janeiro (R$ 6,0307).
A medida ocorre após o silêncio do governo chinês em relação ao prazo dado pelo presidente americano Donald Trump para a China recuar de tarifas retaliatórias, que expirou às 13 horas (horário de Brasília).
Os chineses não piscaram. Mantiveram as tarifas, ressaltaram que estão prontos "a lutar até o fim" e iniciaram disputa contra os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A elevação de tom é vista com preocupação pelos analistas. "O mercado esperava um clima mais ameno dos EUA em relação à China, no sentido de sentar para conversar, tentar chegar a um denominador comum. E não é isso que estamos vendo. Estamos vendo uma escalada", comenta o estrategista de ações da Nomos, Max Bohm. Para ele, fica no ar a pergunta: "Será que a China vai aumentar as tarifas ainda mais também?"
Em outra frente, ontem, o Canadá anunciou que começará a impor a partir de hoje uma tarifa de 25% sobre as importações de determinados veículos dos Estados Unidos, uma medida de retaliação às tarifas do presidente Donald Trump sobre carros fabricados no exterior.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou essa medida em 3 de abril, horas depois que os Estados Unidos impuseram sua tarifa de mesmo valor, mas não tinha detalhado uma data de aplicação. "O Canadá continua respondendo energicamente a todas as tarifas injustificadas e irracionais", disse ontem, em comunicado, o ministro das Finanças do país, Francois-Philippe Champagne.
A tarifa entrará em vigor um minuto após a meia-noite e será aplicada a aproximadamente 10% de todos os carros enviados dos Estados Unidos.
Diante das tensões, o dólar emendou ontem o terceiro pregão consecutivo de alta firme no mercado local, flertando com fechamento acima do nível psicológico de R$ 6.
O dia foi negativo para divisas emergentes mais ligadas à China. O real, que nos últimos dias apresentou desempenho superior a de pares, amargou a maior perda entre as moedas mais relevantes. No mercado offshore, o yuan caiu ao menor nível histórico em relação ao dólar, o que é ruim para exportadores de commodities como o Brasil.
A moeda moderou os ganhos em seguida e chegou a trabalhar abaixo de R$ 5,98, mas voltou a se aproximar de R$ 6 na reta final dos negócios, com aumento da aversão ao risco e o tombo das bolsas em Nova York. O gatilho teria sido a afirmação do porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, de que o presidente Donald Trump acredita ser possível a fabricação de iPhones nos EUA. A Apple produz a maioria de seus produtos na China.
Para o chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, a tendência é que o dólar continue a se valorizar em relação a divisas emergentes, uma vez que não há sinais de que haverá redução iminente das incertezas provocadas pela guerra comercial.
"Com a falta de previsibilidade, temos visto investidores e empresas já em busca de hedge (uma estratégia de proteção de investimentos contra variações de preços no mercado financeiro). Ninguém vai abrir mão da segurança do dólar com tanta indefinição no exterior", afirma Viotto.(Com Agência Estado)
Apple
A Apple perdeu a "coroa" de empresa mais valiosa do mundo. O título passou a pertencer à Microsoft, após o fechamento ontem da Bolsa de Nova York. As ações da Apple caíram 5% no dia e perderam 23% desde o anúncio da tarifa recíproca da semana passada