O Ceará vendeu mais e comprou menos de Estados Unidos e China, no 1º trimestre de 2025. No caso das exportações, embora os produtos cearenses tenham chegado com mais volume às duas nações entre janeiro e março deste ano, a balança pende com mais força para o mercado norte-americano.
Foram exportados para os Estados Unidos US$ 219,4 milhões no período, crescimento de 163% em relação a igual período do ano anterior.
O país é o principal destino dos produtos cearenses, sendo responsável por 48,37% de tudo o que o Estado vende para o Exterior.
A China, por sua vez, aparece na quinta posição nesse ranking, tendo comprado do Ceará mercadorias num montante de US$ 14,5 milhões, ou 13,7% a mais que o comercializado nos três primeiros meses de 2024.
As duas principais potências econômicas mundiais, agora em guerra comercial, já vem ensaiando escalar essa disputa desde a posse do presidente norte-americano Donald Trump, em 20 de janeiro, e a partir do dia 2 de abril começaram a aplicar tarifas mútuas que alcançaram a casa dos três dígitos percentuais.
Nesse cenário, os produtos que o Estado vende para as duas superpotências também diferem, com exceção dos pescados e frutos do mar, que, em ambos os casos, aparecem na lista dos cinco grupos mais comercializados tanto para China quanto para os Estados Unidos.
No caso das exportações do Ceará para o mercado norte-americano, o grande destaque é o grupo “Ferro fundido; ferro e aço”, com US$ 153,8 milhões comercializados entre janeiro e março deste ano, alta de 303,3% na comparação com o 1º trimestre do ano passado. Já as vendas para a China estão no grupo “Gorduras e óleos animais ou vegetais”, com US$ 5,1 milhões exportados.
No caso das importações, o mercado chinês aparece como um fornecedor mais diversificado de insumos para o Ceará, com dois grupos somando quase US$ 102 milhões de mercadorias compradas: “Máquinas, aparelhos e materiais elétricos” e “Ferro fundido, ferro e aço”. Já dos Estados Unidos, o importador cearense compra, principalmente, “Combustíveis e óleos minerais e produtos de sua destilação”, que totalizaram um volume comercializado de US$ 72,2 milhões.
Conforme lembra a gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), Karina Frota, ”foram aplicadas também tarifas mais altas para países com os maiores déficits comerciais com os EUA. Na análise singular desse contexto, considerando as tarifas altas para outras nações, é possível que alguns produtos do Ceará e do Brasil, mantenham a competitividade”.
“Após a neutralização desse momento inicial, é necessário ‘cruzar’ as pautas de exportações desses países para analisar essa possibilidade. É necessário redirecionar as vendas para outras nações, diversificar os países de destino, abrir novos mercados e estudar estratégias relacionadas ao volume de produção”, acrescenta Karina.
Com o mesmo raciocínio, o CEO da Unipar BR e ex-diretor-presidente da Zona de Processamento das Exportações (ZPE) do Ceará, Eduardo Neves, afirma que “é importante observar esse aumento das exportações, pois se mantêm resilientes. Eu vejo o Ceará com uma grande oportunidade, principalmente com a ZPE”.
Para ele, além dos produtos siderúrgicos, “outros produtos poderão ser produzidos aqui e exportados para os Estados Unidos, já que o Brasil foi um dos menos penalizados, digamos assim, com as tarifas. Isso nos dá uma condição, pela logística e pela infraestrutura da ZPE, de explorar muito essa área industrial”.
Por sua vez, o conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec), Ricardo Coimbra, projeta ser “provável que já no segundo trimestre deste ano haja uma tendência de queda nessa evolução das exportações cearenses para o mercado norte-americano”.
“Assim, é provável que já possamos observar um reflexo disso, seja por uma estabilização das exportações, seja até por uma queda. Os dados do próximo trimestre é que vão mostrar como a principal companhia do setor siderúrgico conseguiu manter o seu volume de comercialização", concluiu Coimbra.
Comércio exterior do Ceará com EUA e China no 1º trimestre é notável
Os dados do primeiro trimestre mostram um desempenho exportador notável do Ceará, especialmente nas vendas para os Estados Unidos, com um salto de 163% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse crescimento expressivo pode estar ligado ao aumento da demanda por produtos cearenses em setores estratégicos para o mercado americano, como têxteis, calçados, frutas, ou até mesmo energia renovável, áreas nas quais o estado tem se destacado. No caso da China, o crescimento de 13,7% nas exportações, embora mais modesto, ainda demonstra uma tendência positiva de diversificação da pauta exportadora, sobretudo em produtos básicos ou semimanufaturados.
Por outro lado, as importações caíram de forma semelhante em relação às duas potências: 24,4% dos EUA e 22,4% da China. Essa retração pode ser explicada tanto por fatores internos, como a desaceleração do consumo e da atividade industrial no estado, quanto por fatores externos, como variações cambiais, políticas de substituição de importações ou incertezas diante do cenário internacional de instabilidade tarifária, sobretudo envolvendo os EUA.
Com o vaivém tarifário associado à agenda de Donald Trump, há uma crescente incerteza nos fluxos comerciais internacionais. A eventual adoção de novas tarifas ou a ampliação de barreiras para produtos chineses e de outros países pode ter efeito indireto nas exportações cearenses, seja pela busca de fornecedores alternativos por parte dos EUA (beneficiando o Brasil), seja pela desaceleração do comércio global (que tende a afetar negativamente todos os mercados).
As exportações para os EUA devem seguir em alta, aproveitando o momento favorável e a possível reconfiguração de cadeias produtivas globais, com o Brasil se beneficiando como alternativa à China em alguns segmentos.
As exportações para a China podem crescer de forma mais contida, dado que a economia chinesa também enfrenta desafios internos e pressões externas. No entanto, setores como minérios, agronegócio e energia seguem como apostas firmes.
As importações devem seguir em patamar mais baixo, com empresas cearenses adotando posturas mais cautelosas, buscando diversificar fornecedores e priorizar a produção local ou nacional, especialmente em um cenário de volatilidade cambial e aumento de custos logísticos.
O primeiro trimestre revelou um bom momento exportador para o Ceará, com destaque para os EUA, e um cenário de cautela nas importações. O contexto global, especialmente o comportamento dos EUA na política comercial, será determinante para os próximos meses.
Mônica Luz, trade advisor (consultora em internacionalização de negócios)
Salto
No primeiro trimestre deste ano, o Ceará exportou mais de US$ 453,6 milhões para outros países, alta de 47,1%. O avanço se deu, sobretudo, no mês de março, quando houve um salto de mais de 90% no valor movimentado em relação a fevereiro