A dificuldade enfrentada pelas empresas para conectar seus projetos ao Sistema Interligado Nacional de energia (SIN) elevou ao máximo o sinal de alerta do setor de energia no Ceará.
Já são três os projetos ligados ao hub de hidrogênio verde, no Complexo do Pecém, que tiveram seus pedidos indeferidos pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). O que coloca em risco investimento da ordem de R$ 44 bilhões no Estado.
A mais recente decisão foi publicada no último dia 25 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Nela, foi negado o pedido administrativo feitopela Casa dos Ventos para reverter o parecer em relação aosprojetos Data Center Pecém II eIracema Amônia Verde.
Essesempreendimentos têm investimento inicial estimado em R$ 12bilhões cada. Ou seja, esta é asegunda tentativa da empresaque foi frustrada.
Antes disso, em janeiro desteano, foi emitida uma decisão similar ao pleito da Fortescue para
conexão da planta de hidrogênioverde, com previsão de 1,2 gigawatt (GW) de potência de eletrólise. Neste caso, o aporte estimado é de R$ 20 bilhões.Fortescue, com previsão de 1,2 gigawatt (GW) de potência de eletrólise.
A empresa busca acesso à rede o mais rápido possível, em 2029, quando prevê o início da operação no Ceará. No entanto, a União estima que a infraestrutura só estará disponível a partir de 2032.
No caso da Casa dos Ventos, o movimento da reguladora ocorre mesmo após o próprio ONS ter autorizado a instalação de potência de 0,3 GW para a primeira fase da planta de data center. Segundo a Aneel, caso o
pedido fosse aceito, o SIN correria risco de sobrecarga.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia), Luis Carlos Queiroz, o cerceamento do acesso ao Sistema Nacional prejudica novos investimentos de energia, assim como já tem acontecido com os já instalados.
Segundo ele, o ONS está operando com níveis de segurança maiores, aceitando a entrada de menos energia limpa no Sistema desde o apagão de 2023, em que foi identificada uma sobrecarga vinda de uma linha transmissora de energia localizada no Ceará.
Luis Carlos diz que desde então o sistema não é usado em sua plenitude e obriga a cortes na geração de energia, o que gera um prejuízo acumulado de R$ 1,3 bilhão às empresas de energia.
Nesta questão, "só há perdedores", destaca o executivo, citando um excesso de cuidado mesmo após dois anos do evento e questionando ainda a evolução tecnológica dos processos de segurança do ONS. "O sinal que nós estamos dando é que o Brasil não está pronto para esses investimentos", afirma.
Em meio ao cenário adverso, a Secretaria da Infraestrutura (Seinfra) do Governo do Ceará realiza estudos em conjunto com empresas para propor soluções para ampliar disponibilidade de energia na região do Pecém. As conclusões do trabalho serão apresentadas ao Ministério de Minas e Energia (MME) e à Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
"Esses estudos serão apresentados para avaliação e inclusão no planejamento e na busca pela superação desses desafios de conexão do hub do H2V e data centers no Ceará", diz o Governo do Ceará.
O processo de interligação dos projetos das empresas inicia com autorização do MME e ONS por meio de Portaria que considera o custo para interligação desses consumidores. O segundo passo é a avaliação do poderio de transmissão disponível, dentro de critérios de segurança, qualidade e confiabilidade.
Foi neste segundo ponto que ambas as empresas receberam negativas por não haver margem suficiente de potência disponível no sistema de escoamento de energia que atende o Pecém.
Segundo nota da Seinfra, o Estado permanece em diálogo junto à União para que o reforço da infraestrutura de redes de alta tensão seja entregue até 2029, mas com garantia de atendimento da demanda a partir de 2027.
O POVO tentou contato com a Aneel para falar sobre a negativa ao projeto da Casa dos Ventos, mas não obteve retorno. A empresa também informou que não irá se posicionar.
OS PASSOS NECESSÁRIOS ATÉ A INTERLIGAÇÃO DOS PROJETOS DE HIDROGÊNIO À REDE NACIONAL