Logo O POVO+
Usinas renováveis no Ceará somam R$ 190 mi em perdas por restrições na geração nacional em 2024
Economia

Usinas renováveis no Ceará somam R$ 190 mi em perdas por restrições na geração nacional em 2024

| ENERGIA | As perdas decorrem dos cortes na geração de energia renovável no Brasil por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
SOMENTE o setor de geração eólica chegou a R$ 111 milhões em perdas no ano passado  (Foto: Julio Caesar)
Foto: Julio Caesar SOMENTE o setor de geração eólica chegou a R$ 111 milhões em perdas no ano passado

O Ceará, um dos principais polos de energia renovável do Brasil, enfrenta um paradoxo: apesar da abundância de sol e vento, as usinas eólicas e solares têm acumulado perdas milionárias devido a restrições no Sistema Interligado Nacional (SIN).

Em 2024, as perdas do setor renovável chegaram, em média, a R$ 190,4 milhões – com R$ 111 milhões a menos no setor eólico e cerca de R$ 79,4 milhões no solar –, um valor que ameaça a viabilidade dos projetos e que pode, inclusive, inibir novos investimentos.

Na área da energia eólica, o montante a menos de geração foi de 974.660 megawatt-hora (MWh) no ano passado, enquanto, na solar, o número foi de 891.810 MWh.

As perdas decorrem dos cortes na geração de energia renovável após um apagão em agosto de 2023. O receio de novos apagões por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) levou a uma operação mais conservadora, limitando a transmissão do Nordeste.

Especialistas veem o cenário como um alerta para a continuidade do ritmo de transição energética tanto no Estado quanto no País. No caso da solar, o Ceará registrou o maior nível de perdas a nível nacional no ano passado, enquanto, na eólica, ficou na terceira posição.

O diretor técnico regulatório da Associação Brasileira de Energia Solar (ABSolar), Carlos Dornellas, ressaltou que a receita das empresas foi severamente comprometida, dificultando o cumprimento de contratos e o pagamento de financiamentos.

“O problema se agrava no Ceará porque o Estado é um dos principais exportadores de energia renovável do País”, explica Carlos. “A limitada capacidade de transmissão de energia impede o Ceará de explorar plenamente seu potencial eólico e solar.”

O diretor técnico regulatório da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Francisco Silva, concorda que a situação tem sido insustentável para algumas empresas. “Em alguns meses do ano passado, alguns geradores tiveram reduções de 70% na sua receita mensal”.

A falta de aumento na infraestrutura de transmissão é apontada como a principal causa dos cortes. “Precisamos aumentar os investimentos em transmissão. Não podemos continuar atuando como antes, porque as fontes renováveis são muito rápidas”, disse Carlos.

Para reverter o cenário, as entidades têm buscado compensações, obtendo, inclusive, uma liminar favorável na justiça para garantir o ressarcimento aos geradores. No entanto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) recorreu da decisão, criando incertezas sobre o futuro.

Além da ação judicial, as associações têm tido conversas para obter apoio do Consórcio Nordeste e do Governo Federal para a resolução do problema. “É preciso que o Governo priorize a expansão da energia renovável no País e invista em infraestrutura”, segundo Francisco.

O próprio governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), já reforçou críticas à Aneel, em diversos momentos, sobre a decisão de não ressarcir os produtores de energia renovável. Ele cobra, também, a maior disseminação das linhas de transmissão para escoamento de energia.

Elmano chegou a se reunir com representantes do Ministério de Minas e Energia (MME), mas o cenário é incerto. O POVO demandou a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) para comentar sobre o tema, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Para o futuro, no curto prazo, a expectativa é que os cortes continuem impactando as usinas renováveis. A partir de 2027, os investimentos nas linhas de transmissão realizados pelo Governo devem começar a aliviar o problema.

Enquanto isso, as entidades seguirão tentando o ressarcimento dos prejuízos junto ao Governo Federal. O POVO entrou em contato, também, com a Aneel para comentar sobre o cenário, mas não obteve retorno até o momento. (Colaborou Armando de Oliveira Lima)

ENERGIA LIMPA l A relevância da geração de energia limpa para o futuro sustentável do planeta

Mais notícias de Economia

Compensações de energia podem chegar a R$ 1 bilhão aos consumidores, segundo Aneel

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que as decisões judiciais a favor das geradoras de energia podem causar um impacto financeiro de R$ 1 bilhão na conta de luz de consumidores brasileiros, além de desestruturar o arcabouço regulatório do setor elétrico nacional.

O POVO teve acesso a uma petição que a Aneel enviou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender tutelas de urgência concedidas pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em ações judiciais movidas pela Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEeólica) e pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar).

O caso envolve a compensação financeira para geradores de energia renovável, como usinas eólicas e fotovoltaicas, em situações de cortes de geração conhecidos como "constrained-off". Segundo a Aneel, sua regulamentação limita essas compensações a casos específicos. Contudo, as associações contestam as circunstâncias.

A Agência alerta que, caso as tutelas sejam mantidas, os custos serão repassados diretamente aos consumidores por meio do Encargo de Serviços do Sistema (ESS). Todavia, o diretor técnico regulatório da ABEEólica, Francisco Silva, ressalta que o impacto na tarifa seria de 0,09% caso o valor de R$ 1 bilhão seja repassado aos consumidores.

O que você achou desse conteúdo?