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Ceará tem mais de 172 mil empresas inadimplentes e atinge recorde histórico
Economia

Ceará tem mais de 172 mil empresas inadimplentes e atinge recorde histórico

| Diz SPC | Na avaliação do advogado empresarial, Abimael Carvalho, a taxa de juros e o aumento do IOF podem impactar diretamente nos negócios
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27,2% das empresas cearenses estavam inadimplentes em março de 2025 (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil 27,2% das empresas cearenses estavam inadimplentes em março de 2025

O Ceará registrou 172.853 negócios com contas em atraso em março de 2025 e obteve a maior quantia desde o início da série histórica, em 2016. Em participação, isto representa 27,2% das companhias. Os dados são da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Já o número médio de dívidas por CNPJ é 6,6, com um valor de R$ 20.107,73 para cada. O número acompanha o cenário nacional, pois o Brasil atingiu a marca de mais de 7 milhões de empresas inadimplentes. Destas, 94% são micro e pequenas, totalizando uma dívida que se aproxima de R$ 170 bilhões.

A situação evidencia ainda uma piora contínua nos indicadores. No mesmo mês do ano anterior, o Estado contava com 162.306 negócios com contas atrasadas, número que era de 159.108 em março de 2023. Conforme Abimael Carvalho, advogado e professor de direito empresarial, a alta já era um movimento previsível, considerando a alta taxa de juros - 14,75% ao ano.

"Como fica mais difícil acessar o crédito e mais gente compra e tem dificuldade de pagar, as empresas ficam com menos caixa e começam a dever as dívidas que têm. Elas ficam sem capacidade de pagamento das contas que assumiram."

Além disso, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estima que, com o aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o custo efetivo do crédito pode variar entre 14,5% e 40%.

"Quando aumenta qualquer imposto que seja, todos os preços, principalmente o que é básico, cesta básica, insumo produtivo, tudo isso aumenta também, causa o efeito em cascata", explica o especialista.

Também cita que fatores externos pesam, como a guerra comercial estabelecida pelos Estados Unidos, com os tarifaços. "Quando o governo não leva em consideração essas questões externas também para tratar a nossa conjuntura interna, a coisa fica mais grave ainda, que é o que a gente tá vendo", ressalta.

A maior parte das empresas negativadas pertence ao setor de serviços (53%), seguido pelo comércio (34,8%) e indústria (8%). As contas mais difíceis de serem quitadas pelos empresários incluem serviços básicos como água, luz, telefonia e pagamentos a fornecedores.

De acordo com Abimael Carvalho, o setor de comércio e serviços é particularmente significativo nessa onda de inadimplência porque a atividade nacional é dominada por estes tipos de empresas.

"Na hora que eu tenho essa retração econômica, tenho menos dinheiro circulando, menos contratação de serviço, eu tenho menos circulação no fomento dessa atividade que é primordial para nossa economia", explica Abimael Carvalho.

O cenário crítico não se restringe às pessoas jurídicas. Na perspectiva da pessoa física, o Brasil também viu o número de inadimplentes ultrapassar pela primeira vez a marca de 70 milhões de pessoas, o equivalente a 42% dos adultos do país.

Nesse sentido, o especialista explica que a inadimplência tem um impacto direto na economia do Estado. Diante deste panorama, a prevenção é vista como a principal solução para conter a inadimplência e evitar a falência de pequenos negócios.

"Se o mercado está retraído no consumo, eu preciso ter essa antevisão e saber até onde eu consigo investir. Quanto desse investimento eu consigo assegurar que vai me dar retorno? Porque, senão, eu aplico muito e o retorno não vem. Quando ele não vem, eu fico negativo, e aí entra toda a ciranda financeira que eles passam", finaliza.

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