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Guerra Israel e Irã: Petróleo, frete, inflação e fertilizantes impactam Brasil
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Economia

Guerra Israel e Irã: Petróleo, frete, inflação e fertilizantes impactam Brasil

Especialistas detalham que escalada nos conflitos pode trazer impactos para diversos segmentos da economia brasileira
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Um dos setores mais afetados pelo fechamento do Estreito de Ormuz é o de transportes (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil Um dos setores mais afetados pelo fechamento do Estreito de Ormuz é o de transportes

Com uma nova ofensiva iniciada há quatro dias, a escalada do embate entre Irã e Israel tem impactos em diversos segmentos da economia. Petróleo (combustíveis), frete, inflação e fertilizantes são algumas frentes que refletem no Brasil.

Um exemplo é que, na última sexta-feira, 13 de junho, apenas algumas horas após o início do conflito, o barril de petróleo tipo Brent (referência global) chegou a US$ 74, enquanto no dia 12 estava por cerca de US$ 69, com uma alta aproximada de 7%.

Nesta segunda-feira, 16, entretanto, o valor cobrado pelo recurso apresentou recuo, chegando a US$ 71,88, às 11h15min, segundo dados da Investing.com. Porém, o custo se mantém acima do aplicado antes do início do embate entre os dois países do Oriente Médio.

Essa alta na commodity ocorre, principalmente, devido à localização do Irã. O país é um dos que controlam o Estreito de Ormuz, uma das rotas marítimas mais estratégicas e sensíveis do planeta.

O CEO da Referência Capital, Pedro Rosele, explica que por lá passam aproximadamente 20% de todo o petróleo consumido globalmente, além de uma parcela relevante da produção mundial de gás natural liquefeito (GNL).

Assim, “qualquer interrupção ou restrição ao tráfego de navios nessa região tende a provocar uma escalada imediata nos preços internacionais do petróleo e do gás, devido ao risco de desabastecimento e ao aumento dos custos logísticos”, destaca.

No cenário nacional, esse aumento no preço global do petróleo afeta o Brasil, mesmo ele sendo um grande produtor. Pois, conforme expõe o conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon), Thiago Holanda, a capacidade do País de refino não supre a demanda.

Um dos setores mais afetados, para o economista, é o de transportes, já que “a Petrobras, mesmo tentando suavizar a volatilidade, não consegue se descolar completamente de uma alta externa prolongada, sendo pressionada a reajustar os preços para se manter competitiva e financeiramente sustentável.”

Desta forma, o choque aparece no valor dos combustíveis. O CEO da Referência Capital ressalta que o reflexo imediato é “o aumento do preço da gasolina e, principalmente, do diesel, que representa mais de 60% dos custos do transporte rodoviário no Brasil”.

Esse meio de locomoção é o modal predominante no País para o escoamento de mercadorias. Portanto, o encarecimento se estende ao frete, em “um efeito cascata sobre os preços de alimentos e outros produtos”, aponta Pedro.

A produção e a distribuição de alimentos, principalmente em hortifrúti, grãos e carnes tendem a sentir os solavancos na economia de forma mais rápida. Isso porque dependem fortemente desse transporte para abastecer os centros urbanos, estando, portanto, entre os setores mais sensíveis a essa alta no preço dos combustíveis.

Além disso, Pedro comenta que segmentos como construção civil, indústria de bens de consumo e comércio varejista também são impactados, já que o salto no custo logístico engloba tanto as matérias-primas quanto a distribuição dos produtos acabados.

Conflito também pode afetar o agronegócio brasileiro

Essa elevação no valor da logística, devido à alta do petróleo, também afeta setores cujos insumos são transportados de outros países para o Brasil, como o agronegócio.

Um exemplo, segundo o conselheiro da Corecon, são os fertilizantes, pois cerca de 85% do consumido no País é importado, com uma alta dependência de locais como a Rússia, o Canadá e a China.

Outro ponto é que o Irã é o terceiro maior exportador de fertilizante de ureia no mundo, chegando a 4,8 milhões de toneladas por ano. A nação ainda fica em sétimo em exportação de amônia anidra e, além disso, é por meio do estreito de Ormuz que grandes produtores de nitrogênio fazem o transporte por lá.

Como o Brasil importa cerca de 95% dos fertilizantes nitrogenados que utiliza, Thiago Holanda exemplifica que o agronegócio pode sentir a falta dos produtos.

Assim, a “vulnerabilidade (da agricultura brasileira) se intensifica em momentos de instabilidade geopolítica ou de aumento nos custos logísticos, como o que pode ocorrer com a elevação dos preços do petróleo ou com eventuais bloqueios de rotas estratégicas”, complementa o CEO da Referência Capital.

As culturas mais afetadas, explica Pedro, são as de larga escala, como as de soja, milho e cana-de-açúcar, já que são as que mais utilizam os fertilizantes.

Ele ainda reforça que os pequenos produtores tendem a ser os mais vulnerabilizados por esses cenários, “pois têm menor capacidade de negociação e menos margem financeira para absorver oscilações de custos”.

Vale ressaltar, entretanto, que esse peso econômico da guerra não se limita apenas ao campo. A alta no valor dos fertilizantes pode provocar uma redução no volume aplicado nas lavouras, comprometendo a produtividade e, no médio prazo, encarece o preço final dos alimentos, conforme explica o CEO.

Instabilidade pode impactar a inflação no Brasil

Outro ponto apresentado por Pedro, da Referência Capital, é que, nessas épocas de instabilidade, os investidores globais tendem a priorizar a procura por ativos considerados mais seguros. Entre eles, o dólar, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos e o ouro.

O especialista analisa que “esse movimento de aversão ao risco gera uma saída de recursos de mercados emergentes, como o Brasil, pressionando o câmbio e levando à desvalorização da moeda do País”.

Desta forma, um reflexo apontado por ele será sobre as taxas de juros, já que “um câmbio mais desvalorizado eleva os custos de produção e distribuição em diversos setores.”

Assim, a política monetária adotada pelo Banco Central (BC) pode ser mais rígida, com aumento dos encargos financeiros, para conter a alta de preço, ou seja, a inflação.

O conselheiro do Corecon destaca, inclusive, que o risco dessa postura mais “dura” já está sendo precificado, indicando expectativa de taxas juros mais altas, com uma projeção de avanço na Selic.

O cenário, caso concretizado, estaria indo no sentido contrário do esperado para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que se encerra nesta quarta-feira, 18 de junho.

Segundo a autoridade monetária, dentre as instituições financeiras, maioria projeta que a economia já permite a pausa na elevação dos juros, que atualmente se encontra na maior taxa desde 2006, com 14,75% ao ano.

Ataques entre Israel e Irã marcam escaladas sem precedentes e embate global? | O POVO NEWS

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