O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem aumentar a taxa básica de juros da economia em 0,25 ponto percentual. Com isso, a Selic subiu de 14,75% para 15,0% ao ano. Foi a sétima elevação seguida, fazendo com que o indicador alcance o maior patamar desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano.
A decisão foi unânime e surpreendeu parte do mercado financeiro que esperava já nesta reunião a manutenção da taxa. A interrupção do ciclo de alta dos juros, no entanto, foi sinalizada para a próxima reunião, em julho.
Em comunicado, a autoridade monetária informou que vai examinar os "impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta".
"O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado."
A escalada dos juros começou em setembro do ano passado. Desde então, a Selic já subiu 4,5 pontos, chegando agora a seu maior patamar nominal desde julho de 2006.
Segundo o BC, a escolha por mais uma alta é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. "Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", trouxe o documento.
O comunicado mantém a projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim de 2026, horizonte relevante da política monetária. A estimativa seguiu em 3,6% no cenário de referência, distanciando-se do teto da meta, de 4,50%. Na avaliação do Copom, a trajetória da taxa Selic embutida no relatório Focus - com juros em 14,75% até o fim deste ano, e caindo a 12,50% no fim do ano que vem - seria insuficiente para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%, no período de seis trimestres observado pelo BC.
Com o mais recente aumento, o Brasil passa a ter a segunda maior taxa real de juros do mundo, com 9,53%, segundo ranking do site MoneYou. O País está atrás apenas da Turquia, com 14,44%, e à frente de Rússia (7,63%), Argentina (6,70%) e África do Sul (5,54%). O BC calcula que a taxa real neutra de juros do Brasil - que não estimula, nem deprime a economia - é de 5,0%.
Ontem, também houve decisão sobre os juros nos EUA. Contrariando pressões do presidente Donald Trump, o Federal Reserve (Fed) manteve as taxas entre 4,25% e 4,5%.
"O intuito do BC ficou claro: pesar a mão para afastar cenários de cortes de juros precoces na curva", afirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Para ele, o Copom deverá manter a Selic em 15% até meados do ano que vem. "Com uma comunicação tão austera, fica difícil antecipar um ciclo baixista de juros." (Com Agência Estado)
Entidades do setor produtivo e sindicatos criticam aumento
A elevação da Taxa Selic para 15% ao ano recebeu críticas do setor produtivo. Para entidades da indústria, do comércio e centrais sindicais, a alta prejudicará a produção e o investimento.
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou de "injustificável" a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo ele, os juros altos vão sufocar a economia.
"Não lidávamos com um patamar tão alto [da Selic] desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado e possibilidade de aumento de juros e custo de captação de crédito. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?", questionou Alban.
Para a Associação Paulista de Supermercados (Apas), o Banco Central poderia ter tomado outra decisão. "Havia espaço para estabilidade e até mesmo para queda da taxa. Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar", ressaltou o economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, em comunicado.
A decisão do BC também foi mal recebida pelas centrais sindicais. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o BC dificulta a vida das famílias com a nova elevação da Selic e mantém o esquema que transfere recursos dos consumidores, das empresas e do Estado para o setor financeiro.
"Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central", destacou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Em nota, a Força Sindical, destacou que os juros altos são um "veneno" para matar a produção e o comércio. "Juros altos são um convite à especulação e proporcionam excelentes rendimentos ao setor bancário em detrimento da indústria e comércio", criticou o presidente da entidade, Miguel Torres.(Agência Brasil)