A taxação de 50% anunciada por Donald Trump para produtos brasileiros pode trazer forte impacto na balança comercial do Ceará. Isso porque os Estados Unidos (EUA) são o principal parceiro comercial do Estado, representando quase 48% de todas as exportações de produtos feitas neste ano.
Foram mais US$ 366,8 milhões em cargas cearenses exportadas para os EUA, conforme dados do Observatório da Indústria do Ceará. Dentre os principais produtos da pauta estão: aço (US$ 262,3 milhões); peixes (US$ 19,1 milhões); calçados (US$ 13,9 milhões); e preparação de produtos hortícolas (US$ 12,7 milhões).
Em relação às importações, foram US$ 175,8 milhões movimentados neste ano. Dentre os produtos americanos que o Ceará mais compra estão combustíveis minerais (US$ 141,6 milhões); reatores nucleares (US$ 8,9 milhões) e plásticos (US$ 5,5 milhões).
Segundo o economista Ricardo Coimbra, o Brasil e o Ceará já têm sofrido reflexos da primeira tributação (do aço e do alumínio, em fevereiro deste ano), mas agora as consequências podem ser ainda maiores.
Ele classifica a justificativa usada por Trump, na carta enviada ao presidente Lula, como desconexa da realidade. "As relações de comércio entre Brasil e Estados Unidos, elas são deficitárias para o Brasil. Os Estados Unidos têm uma relação positiva na relação de comércio com o Brasil [...] Fica meio desconexa, essa movimentação em relação ao Brasil e mais ainda a justificativa".
Para ele, um dos caminhos que o mercado cearense pode seguir é direcionar os produtos para outros mercados, em especial para os parceiros do Brics. Mas o governo brasileiro pode também formar algum tipo de contraposição para a medida. "O Congresso Brasileiro também já autorizou, quando da necessidade de alguma contraposição do governo e do Ministério da Indústria e Comércio, que assim fosse feito. Então isso pode ser um processo de abertura ou de busca de negociação".
A situação desenhada agora é bem preocupante, na avaliação do especialista em comércio exterior e despacho aduaneiro, Augusto Fernandes. Na avaliação dele, esse patamar de tarifas pode inviabilizar qualquer exportação brasileira para os Estados Unidos, por isso, a expectativa é de que haja um acordo até 1º de agosto. "O Brasil é o país dos acordos."
Ele pondera que há interesses de empresas americanas também em jogo. "Os Estados Unidos também têm um interesse no Brasil, principalmente no nosso etanol, nossa moeda de barganha. Tirando os aspectos políticos, o que parece ser o cerne da questão, pelo menos foi ensaiado para tudo isso, mas existem interesses, sim, dos Estados Unidos", completou.(João Victor Dummar/Especial para O POVO)